As pessoas
Talvez por presunção minha esteja a pensar nas pessoas do meu tempo. E as pessoas do meu tempo referem-se às pessoas, e não a homens e mulheres, quase como uma nova praxis para não levantar conflitos desnecessários e discussões supérfluas de protocolos e sexismos. Fiquemos pelas pessoas do meu tempo.
Dizia eu que pensava nas pessoas do meu tempo e da forma como delas se apoderou a discussão político-partidária. Será este tempo - este mesmo - conhecido como o do primado destas discussões sobre todas as outras, nem sempre com a dialéctica exigível. Parece que nada mais existe em redor do que um conjunto de temas agendados e que, em abstracto, não são mais do que essa tal espuma superficial. Pelo meio, deixa de se distinguir o essencial do acessório, promove-se o revisionismo da factualidade, o relativismo, o ascetismo; esquecem-se as solidariedades e a interdependência.
Dos novos conceitos da gestão e da liderança sai um conjunto de lugares comuns proferidos como técnicas infalíveis, mas cuja prática serôdia não consegue criar mais do que uma redundância e a sua inconsequência. Dificilmente nascerá a luz para quem tão confortavelmente vai decorando o buraco. Outras alegorias.
É por isso que as pessoas do meu tempo ficarão paradas em frente ao muro, imóveis e inflexíveis. Também eu por lá tenho andado e, hoje, quando saía do trabalho, depois de uns dias alheado dessa espuma, pensava como podemos sair desse buraco se nos colocarmos na posição de quem se foca em objectivos concretos para si e para os outros, de quem se disponibiliza a construir para não embrutecer.