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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

29
Jun10

Algumas notas políticas do dia

jorge c.

1. O Presidente da República promulgou o diploma um conjunto de medidas adicionais de consolidação orçamental dizendo que vai requerer a fiscalização sucessiva da constitucionalidade. No período político em que vivemos o PR não poderia fazer outra coisa. Se tivesse pedido logo a fiscalização preventiva criaria uma excelente situação para a vitimização de Sócrates e para os ataques sectários que se fazem continuamente. A fiscalização sucessiva torna-se a única possibilidade de harmonizar a necessidade aparente de medidas de austeridade e a defesa dos direitos fundamentais.

 

2. A sondagem de ontem dá uma descida substancial do CDS. Muitos analistas de algibeira dizem que Portas está em declínio. Só quem vê a política através de vuvuzelas pode afirmar uma coisa destas. Este ruído provocado por certo PSD para ir recuperar votos ao CDS não é honesto. É trabalho do aparelho para solidificar a ideia de que agora tem de ser o CDS a mudar o discurso e a chegar-se ao PSD. A descida do CDS deve-se apenas ao facto do seu resultado nas últimas legislativas ter sido invulgar. É natural que agora regresse a números mais realistas.

 

3. Jorge Lacão prova a cada palavra que diz que é uma nulidade política. É um histérico nato. Este PS começa a revelar-se. Seria interessante ver o que têm a dizer os deputados independentes que se juntaram por ver neste PS um outro partido, principalmente depois da aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Estou, muito especificamente, a falar do deputado Miguel Vale de Almeida.

29
Jun10

O reforço ideológico do PSD

jorge c.

A minha insistência com Pedro Passos Coelho (PPC) não deve ser encarada como uma perseguição, mas antes como uma forma de avaliar bem todas as particularidades da sua conduta enquanto político. Sócrates está em queda, ou pelo menos na corda bamba do seu próprio sucesso e a queda é iminente. Resta portanto avaliar aquele que está mais próximo da sua substituição.

Ontem, numa declaração sobre o reforço ideológico do PSD e da sua adequação aos novos tempos, PPC deixou clara a sua forma de encarar os timings e, de certo modo, de fazer política. É, no geral, uma declaração feliz.

PPC sabe que Sócrates foi roubar espaço que pertencia ao PSD. Ao contrário daquilo que se diz, não é o PSD que tem características mais à esquerda, mas sim o PS que foi ocupando um espaço político que pertencia ao PSD. Este foi um dos grandes trunfos de Sócrates e que este aprendeu muito bem com António Guterres. Inventaram-se os Fóruns Novas Fronteiras, foi-se buscar o discurso reformista, falou-se em inovação. Resultou.

Na sua declaração de ontem, PPC mostra que pretende recuperar esse espaço. Num discurso muito abrangente, conseguiu envolver todo aquele que é o espectro social-democrata, as bases e as elites como é costume dizer. Foi, enfim, inclusivo. E sem tornar o seu discurso forçado ou inconsistente, o Presidente do PSD conseguiu firmar os conteúdos programáticos do partido em abstracto que, no fundo, são a sua natureza e que sempre lá estiveram. Daí a ideia de reforço e não de reformulação.

Mas esta novidade introduzida pela direcção passista não é senão aquilo que estava bem explícito no programa do PSD para as últimas legislativas, de Manuela Ferreira Leite, e que os sequazes do novo líder tanto atacaram. Essa abstracção programática e os conteúdos ideológicos, numa corrente social-democrata contemporânea, já lá estavam e, como disse na altura Marcelo Rebelo de Sousa, era claro que aquele programa servia para demonstrar a intenção de uma mudança do comportamento político e do panorama ideológico - um programa para uma maioria relativa e consequentes eleições antecipadas.

De qualquer modo, o impacto da declaração de PPC parece-me positivo. Apesar da contínua superficialidade da proposta política, da constante formação de grupos de estudo e de trabalho, o discurso funciona e politicamente é bem conseguido.

Acontece que esta distância que se pretende criar no espaço ideológico não tem qualquer reflexo no campo prático. O que PPC está a fazer é tentar ocupar o espaço do Bloco Central sozinho, como Sócrates ocupou. E, não obstante a inteligência e o sentido de oportunidade com que o faz, é uma manobra com um certo toque de populismo ou, melhor, de eleitoralismo e que, na prática, vai-se reflectir na mesma forma de fazer política, aproveitando as frequências mais populares para desenhar a sua estratégia, aproveitando a opinião pública. Como é óbvio, nem sempre o que a opinião pública pretende é a política que um partido traça inicialmente e daí que seja fácil concluir que tanto consenso ou dá em volatilidade política e demagogia, ou acaba em total contradição com o que se propagandeou.

Em suma, apesar de ter uma imagem mais leve e menos conflituosa que a de Sócrates, PPC é também um fruto do aparelho que o criou e que o próprio alimentou. As suas semelhanças com o actual Primeiro-ministro estão à vista e a probabilidade de continuarmos numa política de mediatismo e aparência é cada vez maior. Resta saber o que pretende Passos Coelho, de facto. O romantismo um dia acaba.

28
Jun10

Aquilo que é mesmo óbvio

jorge c.

Depois de mais uma sondagem que revela maior intenção de voto no PSD, começamos a pensar naquilo que poderia hoje ser um PSD no governo. Não nos seria difícil adivinhar, para além do spin abrantino que já se faz, o estilo que seria usado por muitos. Andar-se-ia na linha dos Candais e dos Santos Silvas.

Não gosto muito de entrar em polémicas directas com as pessoas à custa do seu estilo. Mas, neste caso específico, vemos uma pessoa rancorosa, maldosa, mal-educada, sem qualquer espírito democrático, com fortes probabilidades de chegar a um ministério. Para já não falar na linguagem fanfarrona. Portanto, julgo ser importante apontar o dedo a este género de afirmações que vão definindo o carácter político deste ex-Secretário de Estado do Engº Guterres.

É claro que não vou envolver o próprio Passos Coelho neste tipo de declarações. Mas depois não se queixem dos amigos e dos familiares - gordos ou magros.

27
Jun10

Soares é fixe

jorge c.

Nestas homenagens ao dr. Soares ouvimos várias personalidades dizer que este homem era o pai da democracia e do nosso sistema parlamentar e mais não sei o quê. Bem, eu sei que o dr. Soares é pai do dr. João Soares, de resto não faço ideia. Lembrei-me então de uma entrevista dada por Melo Antunes em que este dizia claramente que houve um aproveitamento político da revolução por muita gente e que, por mais simpatia que tivesse pelo dr. Soares, ele não era pai de cosíssima nenhuma.

Até o Prof. Freitas do Amaral vem com aquela conversa de endeusamento do dr. Soares. Mas que grande patetice!

Considero Mário Soares um político fora de série e uma figura fundamental no quadro político que se começou a definir mesmo antes do 25 de Novembro. Mas, daí a endeusar-se um homem que cometeu inúmeros erros políticos e cuja relevância é tão grande como a de Ramalho Eanes ou Sá Carneiro, vai um passo muito grande. Mário Soares criou um mito que outros fazem questão de alimentar.

Este país adora estátuas.

 

 

Nota: Não posso deixar de referir a oportunidade desta homenagem a meses das presidenciais. Só por curiosidade.

27
Jun10

Sobre a educação sexual a um Domingo de manhã

jorge c.

Que Deus Nosso Senhor me perdoe que hoje é Domingo e nem se devia falar destas coisas. Mas tenho ouvido tanto disparate sobre a educação sexual nas escolas que me é difícil a abstenção nesta matéria.

Será que alguém no seu perfeito juízo acha que o Estado se prepara para interferir na esfera mais íntima dos seus cidadãos intruindo-os nos prazeres carnais e, de algum modo, no deboche e na devassidão? Custa-me a crer que em pleno séc. XXI ainda haja quem pense na sexualidade como um segredo sem qualquer componente biológica e que por isso é melhor não tocar no assunto.

Há um sem número de temas relacionados com a sexualidade que são pequenos avanços na nossa compreensão da humanidade e da vida em comunidade. Julgo que ensinar a uma criança para que serve um preservativo sem qualquer tipo de desconforto não será o mesmo que introduzi-la à aplicação oral do mesmo objecto no órgão sexual masculino.

Somos, ainda hoje, vítimas de uma péssima relação com a sexualidade. Ainda hoje ela é muitas vezes iniciada com um défice preocupante de informação e sob uma ideia distorcida da forma como lidamos com o inevitável instinto. Talvez para muitos seja melhor continuar a alimentar tradições como a desfloração do rapaz, numa pensãozeca com uma profissional não-sindicalizada da área pela mão do próprio pai, e manter o discurso o mais obscurantista e moralista possível cá fora, do que educar social e cientificamente alguém para que não cresça ignorante e tenha uma relação mais saudável com os outros e até consigo mesmo.

26
Jun10

O dr. Coelho

jorge c.

Nos últimos tempos a tensão entre CDS e PSD aumentou. O Partido Portas começou a atacar o partido do dr. Coelho devagarinho. O dr. Coelho começou a ver a coisa a correr mal, principalmente depois das polémicas com Cavaco, porque a consequência de o apoiar para as presidenciais é uma inevitável colagem da imagem do Presidente ao PSD. O dr. Coelho tinha de arranjar uma solução. E para este homem admirável não há tempo a perder. É preciso dar sempre uma boa imagem e evitar cair na boca do povo. Daí que o dr. Coelho passe a contar com o CDS, não se percebendo bem em que medida e a que propósito. A não ser o propósito da jogada politiqueira. Aí sim, faz todo o sentido e é válido, claro. Nós podemos é não achar muita gracinha. Isso já é outra conversa.

25
Jun10

Grand Jacques

jorge c.

 

Parece que Brel passou pelos Açores. Mas, que história poderia sair daqui? O que pode ter acontecido de tão extraordinário para que esse facto, esse simples facto, fosse motivo para um espectáculo? Fica-se quase com a sensação que estamos perante um daqueles golpes saloios de promover o turismo. "Vá para fora cá dentro. Olhe que o Brel foi e lá ficou". Pois ficou. Porque estava doente. E desse imprevisto nasceu uma pequena história de universalidade, de existência crua e simples, na cabeça de Nuno Costa Santos.

Brel nos Açores é, acima de tudo, uma obra de uma generosidade única em que o autor nos oferece o seu olhar mais intimista e nos diz com alegria "vejam, vejam como ele era por dentro, vejam o que eu vi". E essa oferta genuína reflecte-se ao longo da peça com momentos de uma agressividade tal que deviam ser proiíbidos. Quase que era necessário colocar um aviso à porta a prevenir as pessoas de que "este espectáculo contém cenas e linguagem que podem ferir a sua alma de forma irreversível. Tenha cuidado, amigo!"

Para este efeito é fundamental compreender quem está no palco. Dinarte Branco é o actor ideal para o espectáculo. Um olhar que galopa entre o melancólico, o colérico, o doce e o distante. Dinarte consegue ser dois ou três narradores diferentes dando relevo à figura de Brel como que o deixando sempre no centro da espiral de emoções que andam por ali. É, ele próprio, os olhos de Brel e também a sua boca e os seus gestos mais contidos, o seu cinismo agreste e a sua necessidade de partir.

Mas não se monta um espectáculo destes. Um cenário improvável e impraticável.

Revela-se mais uma vez a sua qualidade numa cenografia simples, minimalista e com uma dinâmica livre que começa por envolver o público e ligá-lo ao actor, carregando-o lentamente para o palco num movimento de elevação da personagem. E essa dinâmica livre poderia chocar com a tensão das palavras de Brel muito bem traduditas, diga-se, se me permitem o neologismo. Pelo contrário, há uma harmonia plena na narrativa, como uma onda que nos tira o peso do corpo e nos transporta, a nós e ao desconforto, mar adentro. Uma onda Breliana, como diria o Nuno. Não fosse este espectáculo uma grande parte de si mesmo.

 

Está lá até Sábado, no S. Luiz. Não hesitem. Seria uma perda irreversível.

 

24
Jun10

A odiosidade do progresso

jorge c.

O Progresso. Sempre o progresso. Não há nada que nos livre dos progressistas. É claro que depois, por não se ponderar o progresso, acaba tudo numa embrulhada cheia de remendos e cedências e malabarismos e mais legislação... Enfim, o estado caótico a que chegámos.

Parece que o problema das scut agora ocupa o centro da nossa atenção. Com alguma razão, mas nem sempre pelos mais válidos motivos. No fundo, estamos a discutir problemáticas que deveriam ter sido discutidas antes do servicinho estar pronto. Seja a questão da cobrança das scut, seja a questão dos chips. Senão, vejamos: o Estado acordou bem disposto um dia a garantir que era tudo à vontade do freguês, fartou-se de betonar o país, até ao dia em que o asfalto acabou e era preciso pagar a conta. Eh pá, que maçada, esqueceu-se da carteira em casa. Vai ter de ser a dividir por todos. O problema não se punha se o Estado, armado em novo rico, não tivesse garantido bar aberto.

Já em relação aos chips a conversa dos direitos de liberdade também não deixa de ser interessante. O Estado vai obrigar todo e qualquer cidadão a ter uma conta bancária. Hoje, parece ser uma situação normalíssima obrigar as pessoas a terem uma conta bancária. Mas por que carga de água é que eu tenho de ter uma conta bancária para usufruir de alguns serviços?

Parece ridículo, mas quando me disponho a prestar um serviço nas eleições, enquanto elemento de uma mesa de voto, é-me oferecido um chequezinho. O cidadão mais moderno deposita. Mas eu, mais avisado, gosto de levantar logo o guito, não vá dar-se o caso do país falir entretanto e eu deixar de ser pago pela minha prestação. Não me deixam. Tenho de ter uma conta.

É a isto que se chama a odiosidade do progresso, quando ele não olha a mais nada senão a si próprio e esquece todo um campo de realidades que são anteriores. O progresso é egocêntrico e os progressistas os seus serviçais acéfalos.

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