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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

30
Nov10

Mais leitura

jorge c.

Não posso deixar de destacar este artigo de Sérgio Figueiredo no Jornal de Negócios que vai muito ao encontro daquilo que tenho vindo a dizer no que respeita ao essencial e ao acessório do nosso pensamento político. Em rigor, é disto que estamos a falar - a forma como encaramos a nossa sociedade, o modo como distinguimos o essencial do acessório sem demagogia e populismo e as suas consequências práticas nas realidades sectoriais. Não sei se já disse isto hoje, mas vivemos um tempo propício a estas coisas.

30
Nov10

A ler

jorge c.

Muita tinta tem corrido à custa da coscuvilhice. Desta vez a dita é internacional.

Vale a pena, então, ler este texto de Francisco Seixas da Costa que diz praticamente tudo o que há a dizer sobre a gravidade do assunto. E já agora, dêem uma vista de olhos ao texto de Pedro Lomba no Público de hoje (sem link) que mata dois coelhos de uma cajadada só.

Resta-me reforçar algo que já aqui disse: este é um tempo propício a demagogia e populismo.

28
Nov10

O pensamento dos labregos

jorge c.

Não é só o populismo de café de Marinho e Pinto que é preocupante. O mais grave é o entendimento que sugere de uma linguagem ampla como o Direito. Abel Salazar dizia que "quem só sabe de medicina, nem de medicina sabe". O mesmo vale para o Direito e para pessoas que insistem em reduzir uma linguagem rica e universal ao processualismo típico. Porque o Direito é próximo das ciências sociais e o espelho da organização em sociedade.

Mas o problema não é Marinho e Pinto. Este é só um produto acabado da ignorância consentida. Este pensamento de labrego que acha que um jurista ou é advogado ou magistrado ou então que vá para caixa de supermercado é só uma consequência da voz que lhe dão e do apoio ao seu justicialismo contra os poderosos. A verdade é que o seu discurso é muito mais coporativista e muito menos benéfico para a melhor imagem da classe.

A necessidade que foi criada de aceder à Ordem dos Advogados para trabalhar é que é o verdadeiro problema. Um licenciado em Direito não é um advogado. Nem tem de ser. E ser advogado não é propriamente ganhar logo um estatuto meritório, porque muitos advogados nem distinguir entre um herdeiro e um legatário sabem. Muitos deles nem português correcto falam e escrevem. Os licenciados em Direito são juristas com formação suficiente para contribuir em várias áreas e em várias realidades: empresas, institutos, marketing, lobby, investigação, política, etc. Haverá certamente muita gente com vontade e talento para o fazer mas que se vê obrigado a perder dois anos da sua vida numa Ordem na qual não se revêem e num estágio que não têm interesse em fazer. Tempo e dinheiro e outros contributos desperdiçados.

Estude Direito, é que eu lhe digo.

25
Nov10

Da greve de cidadania no 25 de Novembro

jorge c.

A conversa é sempre a mesma. Um diz oito, outro diz oitenta. Já ninguém leva a sério os números da greve. Quer isto dizer que a greve é uma manifestação em declínio? Gostava de acreditar que não.

A política banalizou-se. Por todos os meios de comunicação ouvem-se pessoas dizer as maiores alarvidades populistas assim que lhes põem um microfone à frente. É a crise, os patrões, os ricos, o poder - tudo aquilo que for grande e que possamos apontar como culpado da nossa eterna desgraça proletária. E é também este pensamento proletário que torna as reivindicações absolutamente inócuas. Já ninguém leva a sério as centrais sindicais e as manifestações na rua são desvalorizadas. A propaganda abafa parte das reivindicações e os problemas diários dos portugueses são também desvalorizados. Nunca se chega a saber, em rigor, o que se passa. Ouve-se muita coisa. Há demasiado ruído e depois desse ruído há ainda os donos da verdade que sacam sempre coelhos da cartola - ilusionismo puro para desviar a atenção do centro dos truques.

Tenho, para mim, que um dos maiores problemas da desvalorização política é a propaganda. E depois disso a contra-propaganda.

É um dia histórico, este em que celebramos a consolidação democrática; este em que nos afastámos dos extremos e em que começámos um processo de plena democracia participativa, de debate e de mérito. Em vez disso, demos lugar à propaganda, permitimos a demagogia e deixámos a democracia sedentarizar vivendo apenas do voto.

Não é a greve que está em declínio, mas sim a cidadania, a participação e o altruísmo.

22
Nov10

Os tutores da democracia

jorge c.

Uma parte significativa do país é tendencialmente socialista. Digo socialista no sentido que tomou o Partido Socialista e, por tanto, é um eleitorado que sente uma certa obrigação de ser de esquerda, estando no centro e promovendo as políticas do chamado bloco central. Há uma espécie de dogma, ou até conveniência, em se ser de esquerda, em valorizar o factor social, como se os outros partidos fossem avessos a esse mesmo factor. Ainda hoje, parece que ser de direita, mesmo que ao centro, dá mau aspecto e não fica nada bem numa mesa.

O PS ganhou com isto e com a ideia falsa de uma suposta paternidade da democracia portuguesa. Há quem diga até que o Estado se confunde com o PS. Não é uma afirmação totalmente descabida.

Senão, repare-se num certo ruído que por aí anda desde o planeamento da Greve Geral. Ouvem-se vozes próximas do PS que não encontram um grande propósito nesta greve. Chamam-lhe extemporânea ou desadequada. Nós, que achávamos que o socialista de convicção defenderia sempre a força desta manifestação (não falo em direito porque dir-me-iam certamente que "ninguém falou em direito à greve", o que é verdade), ficámos um pouco incrédulos. Mas faz sentido.

É natural que a família mais próxima do PS, que lhe atribui o epíteto de maior partido português, num sentido amplo, não veja com bons olhos a greve em massa contra um governo socialista e confunda esta manifestação com uma espécie de atentado contra a estabilidade do país (económica e política). Porque para este grupo de cidadãos, a estabilidade da sua família política e do seu programa é muito mais importante do que a insatisfação social.

Admito que o tempo para esta greve foi há um ano e meio atrás, quando a Dra. Ferreira Leite avisou sobre os riscos da dívida. Na altura, ninguém ligou. Agora, aqueles que já começam a sentir na pele os efeitos do irrealismo governamental face ao endividamento querem mostrar o seu desagrado. Devem fazê-lo. Independentemente da demagogia sindical, as pessoas não são estúpidas e têm personalidade política suficiente para achar o que devem ou não fazer.

O Estado não é o PS. Temos todos muita pena porque de certo que ia ser um regabofe, mas não é. Em democracia a extemporaneidade da manifestação não existe.

 

 

Nota: Muitas das observações que faço, a grande maioria, partem de um conhecimento empírico e são pura e simplesmente uma opinião. Da minha percepção da realidade nasce uma posição que tento defender em virtude dessa percepção. Não há aqui qualquer pretensão doutrinária.

21
Nov10

God is in the house

jorge c.

Afastei-me da Igreja Católica há cerca de 10 anos por uma série de incompatibilidades. Víamos o mundo de maneira diferente e, apesar de manter os seus valores nucleares, não consegui ser hipocritamente fiel. Saí. Como dizia alguém aquando da visita do Papa: "não sou eu que tenho uma religião, é uma religião que me tem a mim". Perdeu-me.

Compreendi sempre a perspectiva conservadora da Igreja no capítulo da sexualidade. Compreendi e ainda a respeito, muito embora não a aceite. É para mim natural que a doutrina da Igreja se mantenha sólida no que à Vida diz respeito e não queira descarrilar ao mínimo sinal de evolução social. No entanto, não é verdade que a Igreja nunca mudou. John Milton e William Blake notaram que a nossa ideia de Deus não é a mesma desde sempre e que é a própria Igreja que contribui para essa mudança na fé dos crentes. De um Deus medieval impiedoso passou-se para uma ideia de um Deus misericordioso já no séc. XVIII e, mesmo no séc. XX, a relação dos crentes com Deus modificou-se ao ponto de ser a Igreja a procurar agradar a uma certa evolução e não o seguidismo absoluto a que assistimos durante séculos de História.

Contudo, é importante compreender que qualquer cedência da Igreja no âmbito da sexualidade não deve ser tomada de ânimo leve. Seria sempre como derrubar uma parede-mestra num edifício demasiado antigo.

Vem isto a propósito das declarações do Papa numa entrevista agora publicada em livro sobre o uso do preservativo. São declarações que me deixam satisfeito porque vejo a Igreja a manifestar algo que está muito mais relacionado com a sua filosofia do que o moralismo anacoreta a que nos foi habituando. Acredito, por isso, que para além das questões relacionadas com a sexualidade, há um valor muito maior que é a Vida e que o dogma da Vida faz muito mais sentido do que o dogma da intimidade. Porque a ideia de Deus está nessa necessidade de valorização da Vida e não no medo de pecar.

Não sei se chegou tarde ou não. Sei que chegou e que é bem-vinda.

20
Nov10

Convém avisar os ingleses

jorge c.

Tristezas à parte, convém pensar um pouco sobre a relevância desta Cimeira da Nato em Portugal.

As questões com que a Organização se debate no momento andam à volta de um grande tema - a Defesa e a Soberania dos Estados. É claro que este é o propósito da Nato. Mas, será que nos tempos que correm o significado destes dois princípios é o mesmo do século que passou? É nesta interrogação que reside para mim o núcleo de discussão da Cimeira de Lisboa. Senão, vejamos os dois tópicos de maior mediatismo ao longo destes dois dias: o Afeganistão e a Rússia.

Se por um lado temos o proto-debate sobre o "inimigo", e que no caso do Afeganistão é evidentemente o terrorismo, por outro vemos a aproximação de duas realidades políticas diferentes e que carregam consigo a responsabilidade de mudar o paradigma do pensamento moderno no que diz respeito ao tratamento da forma política que cada Estado adopta. A presença da Rússia no universo da Nato representa essa responsabilidade.

Este é o tempo de encerrar o capítulo da democratização do mundo e começar a pensar de modo mais amplo. A nenhum Estado se deve impor uma forma política. O que é necessário é não permitir ameaças externas à sua soberania. Defender e não impor. E neste sentido não é só a cedência da Rússia às exigências da Organização que tem de estar em cima da mesa. É também o modo como o eixo UE/EUA compreende e age perante realidades culturais e sociais (políticas, portanto) diferentes das suas.

Quer me parecer que este é o grande desafio para uma maior harmonização do mundo, para uma paz social global e não globalizadora. É o tempo de um novo pensamento não-imperialista, em virtude de novos imperialismos. Convém avisar os ingleses.

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