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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

31
Jan11

Great news, everybody: democracy just kicked in!

jorge c.

O ocidente, as we know it, adora revoluções. Basta ouvir a palavra "liberdade" ou motes como "protestos contra o regime x" e fica logo tudo histérico. Vem aí a democracia! É a revolução! Bem, sabemos que os precedentes internacionais no capítulo das revoluções não são muito simpáticos. Muitos dos regimes autoritários e repressivos foram substituídos por outros regimes ou dominados por grupos elitistas igualmente repressivos. É claro que a situação do Egipto, por exemplo (são tantas revoluções que uma pessoa nem sabe qual escolher, é a loucura democrática), passa muito pela censura dos meios de informação, nos últimos dias. Pode dizer-se que isso fez disparar os protestos. Mas, poderemos garantir que este é um protesto das novas tecnologias? Das redes sociais? Do povo nas ruas, por uma sociedade global e democrática?

Outro aspecto da imagem que se cria internacionalmente é a do vírus democrático em toda a região (que é um bocadinho grande, mas com a circulação da informação o mundo é uma coisa tão pequena, hoje, não é verdade?). Parece que há uma espécie de GPS geopolítico por onde o grande carro da democracia se orienta desbravando o caminho da liberdade. Mesmo que as realidades socio-culturais sejam absolutamente diferentes e que o caos nas ruas tenha consequências diferentes. É claro que ninguém pensa muito bem nas consequências do caos. Estamos a falar de regimes tecnicamente apoiados pelo ocidente, amigos do progresso, e que viraram durante anos costas ao pan-arabismo. Por isso, é muito provável que depois do teatro mediático de novos governos de salvação nacional surjam os primeiros efeitos contra-laicismo, o que neste caso poderá significar um abandono das relações com o ocidente reflectindo-se isto noutras formas de repressão. O que seria uma grande maçada.

 

 

 

Adenda: uma boa leitura será também este post do João Pinto e Castro (este link prova que sou a pessoa menos sectária e obstinada do mundo).

29
Jan11

au revoir, zé pedro

jorge c.

Nunca nos conhecemos. Há quase dois anos que nos namorávamos de post em post, de dedicatória em dedicatória. Era como um velho amigo, mas um amigo de letras, da bondade e da beleza das frases. Cultivei por ele um respeito e uma admiração difíceis de acontecer sem uma relação pessoal. Tal como eu, gostava dos pormenores dos despropósitos e via o que a cortina escondia da grande cidade. Sempre sem rancor. Talvez por isso não encontre melhor canção.

 

27
Jan11

O exercício dos Direitos Fundamentais

jorge c.

O direito de voto não é um Direito Fundamental que se exerça sem a contribuição do governo, não se determina a si próprio e por isso necessita de conformação executiva. Cabe, portanto, ao Estado criar todas as condições para a realização desse direito. Quando o Estado se demite da sua responsabilidade mesmo que por negligência, então considera-se que não fez o que estava ao seu alcance no cumprimento de um dever seu, imposto por lei.

Não podemos, assim, e como muito se tem ouvido por aí, desresponsabilizar o Estado de uma matéria consagrada como sua responsabilidade directa. Em rigor, falhou, como se pode ver, o dever de informação fundamental à prossecução do objectivo final. O Estado não pode assumir que a publicidade institucional é vinculativa porque os meios não são absolutamente acessíveis. A informação directa salvaguarda o Estado do cumprimento devido. Culpar os cidadãos por inépcia é, neste sentido, uma total falta de conhecimento da arquitectura e dos fundamentos constitucionais. É muito fácil perceber que, numa situação limite de indecisão eleitoral, este problema não seria certamente tratado com a mesma displicência.

Em bom rigor, é isto que está em causa. Como tal, não me parece nada descabido que se peçam responsabilidades. E neste caso, por que não ao responsável máximo? Não se trata de uma simples guerrilha político-partidária. Trata-se, isso sim, da defesa dos instrumentos democráticos.

26
Jan11

Hail to the Chief

jorge c.

 

Quando Obama entrou na sala do Congresso, ontem, percebeu-se mais uma vez que na cabeça daquele povo há algo muito mais importante que uma mera disputa partidária. Está-lhes nos genes o debate pelo interesse nacional. Tem sido assim ao longo dos últimos dois séculos e pouco. O discurso do State os the Union tem esta dimensão política universal e estratégica que faz sentir aos americanos que há um Commander in Chief. Ontem não foi excepção.

Bem sei que tenho andado um pouco obcecado com a radicalização do debate político em Portugal e que tenho insistido muito nas críticas ao sectarismo por considerar que este não beneficia o interesse nacional. Pois foi exactamente por aí que Obama começou, como seria de esperar, depois do tom excessivo a que chegou o debate americano e principalmente perante o que se passou em Tucson há poucas semanas. Uma cadeira vazia no Congresso foi suficiente para que todos pudessem perceber a gravidade do seu comportamento, dos seus discursos, das suas guerras partidárias.

É claro que a comparação é inevitável e olhamos para um Presidente que apela à colaboração, ao trabalho em conjunto por um desígnio, ainda que com discussão (muita) sobre cada pormenor do que está em causa. Vemos um Presidente a galvanizar em vez de dividir e pensamos nos nossos líderes e nas suas palavras que promovem antes o entrincheiramento.

Mas, que se engane quem acreditar que é possível continuar a fazer comparações com o resto do discurso. A realidade económica e monetária dos EUA é muito diferente da nossa. E quando digo nossa, digo da Europa, já, e não tanto da portuguesa, porque dessa então nem se fala. Obama mostrou como se faz política falando na necessidade de alimentar o desenvolvimento do país na tecnologia, na mobilidade e na comunicação. Falou no compromisso que o Estado deve assumir para ajudar os seus empresários a prosperarem para que todos criem riqueza e emprego. Falou na escassez de recursos, mas também se referiu às prioridades nos cortes da despesa e que isso não pode passar por aquilo que uma sociedade tem de mais básico: a educação, a saúde. E a política faz-se deste jogo de cedências, de piscar de olhos à direita por saber que agora o Congresso é maioritariamente republicano.

E depois a diplomacia. Sempre a política externa dos EUA presente no discurso do Presidente porque isso também define a sua estratégia económica e a paz social que o país assume como prioridade em tempos de crise, revoluções, catástrofes e terrorismo.

Porém, não me compete a mim fazer uma análise profunda do discurso de Obama. Interessa-me essencialmente fazer perceber que o que se viu ontem foi um discurso de liderança, de rumo, de estratégia e de cooperação. Um discurso inspirador que olha para o país como um todo, onde não há americanos de primeira nem de segunda, onde a mesquinhice tem de ficar muitas vezes de lado.

Não temos de copiar nada. Mas podemos aproveitar esta capacidade de nos inspirarmos a nós próprios, de nos motivarmos e responsabilizarmos pelo nosso papel enquanto cidadãos. Talvez assim, um dia, tenhamos direito a uma boa liderança.

25
Jan11

Humor de campanha

jorge c.

 

Uma das curiosidades nas campanhas eleitorais é a forma de as fazer. Que forma escolhe cada um de nós para fazer campanha directa? Muita gente escolhe o humor. Eu diria mais: instrumentaliza o humor. Sendo que fazer campanha política ridicularizando adversários não é humor. Não sou eu que defino o que é o humor, obviamente, mas o humor misturado com uma motivação política não é humor, é política e a esta é, por natureza, comprometida.

Há umas semanas vi Jel, dos Homens da Luta, a ser entrevistado por Mário Crespo. Toda a entrevista passou por statements políticos, justificando o humor com isso. Ora, o humor não se justifica nem deve ser utilizado para destilar os nossos pruridos mentais e ódios de estimação em concreto. Vimos isso acontecer algumas vezes com João Quadros para o Tubo de Ensaio, por exemplo. Lembro-me de um texto inqualificável que fazia um ataque grosseiro e directo a Pacheco Pereira. É claro que João Quadros ou Jel são livres de dizer o que bem lhes apetecer. O que já não acho correcto é que se use o rótulo do humor para disfarçar.

A fanfarronice não é humor, é fanfarronice. Se calhar um problema de afirmação ou de fígado ou de bom gosto. Mas nunca estará incluída nos capítulos do humor porque revela um problema pessoal concreto, é parcial e paranóica. Coisas que achávamos que já tinham passado mas que nem a sofisticação da linguagem esconde.

25
Jan11

Futuro próximo

jorge c.

Esta análise da Economist às presidenciais portuguesas é muito interessante porque assenta essencialmente em política, de facto. É qualquer coisa a que não estamos muito habituados. Os nossos analistas estão mais preocupados com o seu ego e os seus problemas dermatológicos do que com a análise política livre e lúcida.

Do Presidente da República espera-se que saiba ponderar bem o grau de crise política. Ela existe, é indesmentível, apesar do governo assobiar para o lado. É importante que o PR não contribua para o seu agravamento, mas que também não tape os olhos à incapacidade de liderança e de responsabilidade do Governo com os eleitores e os compromissos internacionais. E aqui está um dos temas que, confesso, me fez confusão não ver abordado na campanha eleitoral: a Europa.

O dia seguinte destas eleições é, sobretudo, de expectativa. Muito embora a previsibilidade de Cavaco Silva nos garanta que, pelo menos, nada de bombástico acontecerá se não houver um apoio significativo da opinião pública. E o Governo treme, claro.

24
Jan11

dar e receber

jorge c.

 

Doente, fico em casa a tentar não piorar. É o que andamos todos a fazer, no fundo. Na televisão, revejo Good morning, Vietnam! Já não me recordava de como é um filme sobre o belo, sobre a generosidade - a de dar e a de receber. Já me tinha esquecido que este era um dos meus filmes de eleição por causa dessa simplicidade.

 

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