O problema de Portugal, afinal, sempre são os portugueses
Quando o lume aumenta a culpa morre solteira. O estado actual da política portuguesa resumir-se-ia muito bem numa simples palavra: desresponsabilização. Já vimos de tudo nos últimos anos. Nunca tínhamos era visto culpar uma massa geral e abstracta - o povo.
Deixem-me primeiro dizer que compreendo bem o que o autor do texto linkado quis dizer, sendo que chego mesmo a concordar com parte substancial do seu raciocínio e partilho até o mesmo cinismo. O que não consigo entender é o seguinte: como é que se consegue colocar responsabilidades, ainda que indirectas, de má governação por falta de cidadania?
É absolutamente verdade que o défice de cidadania em Portugal é responsável por uma certa decadência de toda a estrutura social e económica. Mas o afastamento dos cidadãos das mais elementares funções sociais (o associativismo, a participação política e nas demais instituições, por exemplo) não pode ser visto como inibidor de opinião pública, sendo esta também uma característica da cidadania, nem tampouco como responsável pela degradação da cena política e pelos resultados efectivos das governações.
Desprezo o discurso anti-político e anti-políticos. O que não posso deixar de observar é que a responsabilidade pela pedagogia e pela autoridade moral é, em grande parte, da classe política que assumiu essa mesma função depois do 25 de Abril, depois de 40 anos de paternalismo e autoritarismo. Onde está a pedagogia dos partidos políticos nas comissões políticas dos núcleos, das concelhias e das distritais? Onde está a demonstração da autoridade moral relativamente ao supremo interesse de cada comunidade? Onde está a opinião pública fora dos grandes centros urbanos, nomeadamente de Lisboa? Onde está o esclarecimento para a cidadania europeia?
Deixem a culpa morrer solteira, mas por favor não abusem das desculpas.