Impressões de uma campanha V
Nos últimos 5 anos vimos muita gente ser acusada de estar do lado do socretismo e de ser idiota útil do socretismo e mais trinta por uma linha. Eu próprio cheguei a ser acusado de tal quando peguei no tema homossexualidade na polícia, a propósito de uma tertúlia a que assisti sobre o assunto. Talvez seja natural a destilação de ódio quando estamos na oposição e tudo o que estiver relacionado com o poder é exponencialmente diabolizado. Por outro lado, uma ameaça ao poder é logo atacada pelo seu lado mais frágil, o da injúria fácil e sem conteúdo político.
Quando os sujeitos da relação política mudam e se invertem as posições, os peões acompanham a mudança até na percepção da sua narrativa. Isto suscita a velha questão do "dois pesos e duas medidas". Aqueles que condenavam a injúria são agora os injuriadores e vice-versa. Na cabeça dos sujeitos isto faz todo o sentido, e faz se tivermos em conta que entendem a política como um jogo de interesses egoísticos. Quando assim é, o debate em abstracto não se gere por princípios de fundo, mas antes pelas circunstâncias actuais. A diferença entre o princípio de fundo e o circunstancialismo é que, como este último está sempre a mudar, nunca se chega a uma uniformização ética ou moral do debate. Ora, a democracia sem um suporte ético e moral sólido, que não apenas o que é gerado pelo formalismo legislativo, não se torna esclarecedora.