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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

19
Jun13

portugal dos pequeninos

jorge c.

Fico sem saber se a Unicer acha que as pessoas são estúpidas.

Hoje, deparo-me com este vídeo (um viral! oh, um viral!). Passado um bocado, com este comunicado. Espantoso.

 

Vamos a factos. Podemos considerar isto Marketing de guerrilha? Podemos, apesar de eu não saber bem o que quer dizer Marketing de guerrilha e isto soar-me apenas correcto. E é feio. Em primeiro lugar, porque temos uma fraca prestação dos tribunais de concorrência em Portugal. Em segundo lugar, apesar deste vídeo ser limpinho (passa perfeitamente por ter sido feito por um fã), tem tiques de agência de comunicação. Tiques que podemos ver, aliás, naqueles vídeos virais do Turismo de Portugal e de Portugal vs. Finlândia, etc. Malta que é viciada em fazer virais. Tem a marca de água. E não estamos a falar, propriamente, de agências que façam trabalhinhos para pôr na conta da amizade. Resta saber se estamos perante guerra entre marcas, entre agências de comunicação ou entre ambas. Eu aposto todas as fichas na última hipótese. 

Hoje, muitas empresas portuguesas são detidas por capitais estrangeiros. A própria Unicer é detida, em 44%, pela Carlsberg. Usar este argumento é de uma insensatez tal, que é difícil imaginar a falta de realismo destas luminárias. Para além do carácter xenófobo e de patriotismo serôdio, sobre os quais não iremos perder tempo, agora.

Empresas-eucalipto como a Unicer e a CentralCer dão, nestas e noutras circunstâncias, um exemplo péssimo, uma imagem tenebrosa dos empresários portugueses e ajudam ao naufrágio da economia em Portugal, devido às suas estratégias pequeninas de gestão. Nestas guerrinhas de números, de quotas de mercado e de gestão cega, dezenas ou centenas de pessoas são demitidas; centenas de famílias ficam descalças. E tudo para um joguinho infantil de monopolização do mercado.

As agências de comunicação, por outro lado, é que percebem disto. O! Uns génios! Os vídeos virais e a internet e o raio que os parta. Não passa pela cabeça destas amibas que o consumidor não é estúpido e que não gosta que o tratem como estúpido. E, sabendo da inocência (ou da clubite) de algumas pessoas, promover este discurso é de uma irresponsabilidade que não merece qualquer respeito.

O que falta, sobretudo, é uma noção simples de ética. Uma coisa que não seja só dita nas conferências. Que se pratique.

09
Mai11

ética, integridade e história

jorge c.

Quando Pauline van der Meer Mohr falava há uns dias sobre ética, integridade e história como aquilo que é fundamental ensinar às futuras gerações de gestores (e não só, digo eu), lembrei-me deste artigo que tinha lido há umas semanas na Economist.

De facto, a nossa concepção do ensino superior têm andado às avessas com as necessidades reais. Pensar que tantas vezes servimos urgências inconsequentes do mercado e ignoramos a consistência social, económica e cultural é algo que nos deveria envergonhar.

A velocidade do mercado é inimiga da serenidade operacional. Mas sem uma serenidade operacional e instrumental dificilmente conseguiremos contribuir para o desenvolvimento da comunidade para que estamos a trabalhar. No fim, percebemos que é uma pescadinha de rabo-na-boca. Por isso é fundamental que se compreenda um conjunto de realidades sem olhar para elas de uma perspectiva meramente lucrativa. Podemos chamar a isto a função social das empresas.

Não é apenas aos alunos que compete uma maior aplicação formal, nem se chega lá com palestras de esclarecimento. Agir no seio da academia passa por criar espaços de interesse comum que entusiasmem os alunos numa aplicação material na sua formação. Não falamos só do contacto com as necessidades reais dos mercados primários, mas também com as carências sociais das comunidades, bem como a percepção das diversas lideranças que se encontram espalhadas por todo esse universo, desde o poder político ao poder social.

Trabalhar neste âmbito é mostrar às novas gerações as vantagens da sua própria rede social real, é dar-lhes cultura social, é conduzi-los pelo caminho da integridade e do respeito por valores essenciais. É estranho que ainda tenha de se explicar isto como se fosse uma novidade.

11
Dez10

Da confiança e da estabilidade laboral

jorge c.

Sou um trabalhador precário. Tenho um trabalho absolutamente redutor. Mas preciso de ser precário para ter esse trabalho que me faz falta para sobreviver. É assim a vida, nada contra. Portugal é, então, um dos países com mais precariedade laboral.

Se o sistema dos recibos verdes ajuda muitos como eu a ter trabalho rapidamente e impede que haja ainda mais gente sem trabalho, também é verdade que há um aproveitamento subversivo das entidades patronais que exploram essa necessidade. Vitimizações à parte, porque este não é tempo para choraminguices, utilizar os recibos verdes para poder dispor levianamente das condições laborais é o verdadeiro problema. Acima de tudo, os precários querem ser respeitados e ter condições laborais mínimas. Que seja apenas uma relação de confiança com a entidade patronal, que é, neste momento, impraticável.

Numa altura de crise financeira é necessário vigiar estas situações que não passam apenas pelo plano legal, mas que se enquadram essencialmente na perspectiva ética, do sentido que queremos dar às relações laborais, encontrando a melhor forma de harmonizar o sistema.

Com a actual falta de objectividade e definição de mínimos éticos o país inteiro fica a perder - patrões e trabalhadores. Não restem dúvidas.

14
Nov10

Os limites da ética

jorge c.

Em matéria de relevância política, aquilo que o Correio da Manhã publicou sobre as conversas da inenarrável Edite Estrela é, como todos deveríamos saber, menos que zero.

Nos limites da legalidade e da ética, a comunicação social privilegiou sempre o domínio da segunda, conhecendo e compreendendo o risco da ultrapassagem da primeira. Era, portanto, uma excepção. Uma excepção que se torna legítima quando a matéria em causa é do interesse público e vem, manifestamente, contribuir para a higiene do Estado de Direito.

Parece que hoje estamos já noutro nível de discussão. Ao publicar uma escuta sem qualquer interesse público e que não passa de uma conversa privada entre dois amigos, o Correio da Manhã está a ultrapassar os limites da ética e a reduzir o debate sobre a publicação de escutas de interesse público ao nível do lixo.

Defender esta premissa - os limites da ética - é um princípio e nada tem que ver com motivos partidários. Nem pode ter.

Pela saúde de todos nós, não deixem que isto se torne a regra.

13
Jun10

A política dos resultados

jorge c.

Um dos grandes trunfos do governo Sócrates foram sempre as estatísticas. Lembremo-nos todos que o Primeiro-ministro ainda é de uma geração (completar com frase mais conveniente). Certamente que essa geração de Sócrates nunca ouviu falar na subjectividade das próprias estatísticas e no relativismo das circunstâncias. As estatísticas não concluem nada, em rigor. Elas limitam-se a desenhar um quadro que pode estar viciado. Aliás, é grave quando se começa a trabalhar para as estatísticas e utiliza-se isso como um fim e não como um instrumento comum de análise. Mas Sócrates é apenas um exemplo desta forma errada de jogar com a política e com o desenvolvimento económico-social.

 

Hoje, pelas Universidades, pelas empresas e institutos há uma duvidosa política de resultados que domina os esquemas de gestão. Esta política dos resultados tem ferido a empregabilidade (tanto para quem está em início de carreira como para quem deixa de ter uma idade aceitável para o "factor concorrencial"), tem agredido a função social destas instituições e tem contribuído para uma cada vez maior falta de cultura solidária e de solidez moral dentro das comunidades.

 

Porém, não seria difícil explicar a uma criança de 8 ou 10 anos que o resultado em papel pode não significar uma solidez da fórmula, pode ter um erro de cálculo, como uma trapalhada, como pode ainda ser intempestivo. Uma criança perceberá isso com facilidade se lhe explicarmos com exemplos práticos como a arrumação do quarto, a batota nos testes, entre muitas outras coisas. Chamamos a isto a formação de carácter, onde ela aprende a não enganar, nem aos outros nem a si própria.

Com os adultos só podemos acreditar que estão apenas a querer enganar terceiros. Enganar aqui significa ignorância e má-fé.

 

A política dos resultados é hoje aceite com uma facilidade que me custa a acreditar que anda toda a gente devidamente medicada e põe-me em dúvida pela minha segurança na rua, pela estabilidade do meu futuro profissional e pela educação dos filhos que, cada vez mais, penso seriamente em não vir a ter.

11
Jun10

O fundo

jorge c.

Já aqui disse algumas vezes que não é a pessoa que ocupa o cargo de Primeiro-ministro que deve ser defendida incondicionalmente, mas sim o cargo em si mesmo.

José Sócrates blindou-se desde muito cedo com a história dos ataques pessoais, lembrando um pouco aquela psicologia de liceu em que qualquer crítica que se faça a outrém é pura inveja. O sectarismo fez o resto. Tratou de identificar alvos específicos que, sempre que apontassem uma crítica, seriam logo trucidados pelos cães de fila. Estarão certamente recordados da célebre expressão de Santos Silva do "malhar".

Pois bem, é esta ideia do "malhar", do dogma do líder, da incontestabilidade, que provoca parte da má política. O interesse que deveria ser nacional é reduzido para o campo partidário ou até mesmo pessoal. Relativiza-se tudo e tudo serve como causa de desculpabilização. É um espectáculo triste que muita gente nem vê.

09
Jun10

Valorizar a política

jorge c.

Qual é a relação que temos hoje com o poder?

Num regime que dá cada vez mais sinais de decadência ético-moral, a relação com o poder deve ser amplamente debatida. Pelas juventudes partidárias, pelas concelhias e distritais dos partidos por esse país fora, cresceu a ideia de que tudo se trata de ganhar ou perder eleições. Toda a política acaba por se desenvolver em redor disso mesmo e a probabilidade do aparelhismo é cada vez maior.

Não será demais insistir e repetir que o poder não é um fim, mas um meio. E um meio político e não pessoal ou de grupo.

19
Mai10

Uma tristeza

jorge c.

É triste ver o papel a que os deputados do Partido Socialista se sujeitam para defender a pessoa de José Sócrates, sem qualquer respeito nem pelo cargo de Primeiro-ministro, nem pelo cargo que ocupam e muito menos por quem representam. Ontem, na comissão de inquérito, esteve uma deputada qualquer do comité central do PS com as respostas todas na ponta da língua. Decoraram o guião e limitam-se agora a representar. Não têm qualquer tipo de noção do serviço que estão a prestar ao país, porque o serviço que prestam é ao seu partido. Quem deixou de ver isto cegou completamente.

18
Mai10

Fronteiras

jorge c.

Uma das grandes fronteiras entre a política e a justiça é a prova. Em política a prova não é uma necessidade formal. Pode ser material, mas nunca formal. Porque em política não se está a condenar ninguém. O que se pretende é criar juízos sobre as intenções e a consequência que delas advém. Enquanto uma está no domínio do crime, a outra tem um âmbito ético muito mais alargado. Se na justiça a falta de prova é um elemento fundamental do princípio in dubio pro reo, em política qualquer suspeita baseada em factos duvidosos altera a confiança dos cidadãos nos seus representantes e isso, em democracia, lamento, mas é crucial.

04
Mai10

Um triste figura

jorge c.

Muita gente parece acreditar na boa-fé de Inês de Medeiros ao renunciar à comparticipação do Estado nas suas viagens. Depois das várias atitudes miseráveis da deputada, não só em relação ao próprio caso, como também a postura nas comissões parlamentares e a sugestão de que nem acharia mal que Sócrates mentisse no Parlamento, depois dessas e outras situações que passam muito mais pela intuição do que propriamente por provas da sua má-fé, só me resta continuar a repudiar a escolha da senhora por parte do PS. Uma triste figura sem qualquer sentido de responsabilidade do cargo que ocupa.

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