jorge c.
Sócrates: um Presidente não deve falar em crises políticas.
Não foi o único a referir-se ao tema nestes termos. Tal como Sócrates, há uma certa mentalidade que parece não compreender muito bem as funções da Presidência ou só as compreende quando é conveniente. À conveniência em matéria de princípios chamamos relativismo - uma velha tradição francesa da qual o socialismo europeu é particularmente fã. Ou refém.
Mas, regressemos ao tema e ao argumento falacioso. O Presidente da República pode e deve falar em crises políticas, principalmente quando elas estão latentes e a objectividade e a segurança institucionais são demasiado importantes para que o Estado não caia em desgoverno. Há crises políticas bem mais graves do que a dissolução da Assembleia da República.
Assim, compete ao Presidente da República mostrar que não se demitirá das suas responsabilidades num cenário de crise política (que pela Europa fora parece ser uma realidade cada vez mais presente) e ao mesmo tempo tentar evitar que ela aconteça cooperando com o Governo para o interesse nacional. Ora, se o Governo não se mostrar cooperante para o interesse nacional e tiver uma narrativa diferente do resto do país, é natural que nessa altura o PR actue em conformidade. Parece-me uma realidade política mais do que óbvia e legítima.
Tentar evitar uma crise política e saber o que fazer no caso dela se tornar inevitável não são dois discursos desconexos e incongruentes. Muito pelo contrário, são o mesmo discurso - o da responsabilidade e do conhecimento das funções da Presidência.
Agora sim, estou a fazer campanha e a falar de matéria eleitoral.