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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

20
Jan14

lealdade

jorge c.

Por suprema ironia foi Teresa Leal Coelho, figura próxima do Primeiro-ministro, que em consciência faltou à votação sobre a proposta de referendo aprovada na passada sexta-feira e que se demitiu da direcção da bancada parlamentar. Teresa, leal a Coelho, compreendeu que a sua lealdade deve-se primeiro ao país, à democracia representativa e às instituições democráticas. À jogada mesquinha e perigosa do líder da bancada parlamentar do PSD, com a conivência do presidente do partido, reagiram outro(a)s deputado(a)s com declarações de voto, após votarem favoravelmente por imposição de disciplina de voto, violando assim a sua própria consciência e a lealdade ao povo que representam e que lhes confia a maior diligência no desempenho das suas funções. Ora, por mais incompreensível que seja a imposição de tal disciplina em questões de consciência e não instumentais, exige-se que prevaleça sempre essa lealdade e responsabilidade com a confiança do eleitorado. Não está aqui em causa estar ou não de acordo com a matéria. O que está aqui em causa é repudiar o procedimento.

29
Nov13

esquerda, direita, volver

jorge c.

Já não nos víamos há algum tempo. O único contacto que temos tem sido feito, claro, pelo Facebook, onde eu vou postando freneticamente, entre canções, manifestação política ou divulgação de outras matérias. Ele raramente interage, manifestando-se de vez em quando numa ou outra música, ou quando assinalo a memória de personalidades mais ligadas à direita. 

Desta vez, encontrámo-nos, no meio de outros amigos. A noite ia longa, tal como a amizade. A conversa foi seguindo e, inevitavelmente, caiu na política e no estado actual das coisas. De repente, vejo-o nervoso com o meu discurso e tento acalmar o tom para que se perceba o que estou a dizer com lucidez e clareza. Ele não aguenta e desata num disparate. Que eu agora sou comunista, que a esquerda é que nos meteu aqui e eu sou o idiota útil deles, agora, e que desde que fui para Lisboa isto e aquilo e aqueloutro. E por aí fora. Disparou com o que lhe estava entalado há algum tempo e que por sabe-se lá o quê, nunca quis discutir.

Esta conversa não é uma surpresa. Ao longo dos dois últimos anos, tenho sido acusado - é esta a palavra - de ser de esquerda por estar contra a conduta de um Governo de direita. Também pela esquerda, sou afavelmente recebido como uma nova aquisição. Para a esquerda, sorrio. Para a direita, mando-os estudar. A direita hoje padece de cultura e de esclarecimento. É ignorante, preconceituosa e pouco esclarecida. Para além de, muitas vezes, ser oportunista e taticista.

Não pretendo fazer aqui qualquer declaração de interesses sobre as minhas escolhas ideológicas. Era o que me faltava. Porém, há uma questão fundamental no meio de tudo isto que urge esclarecer, porque a luta política é cada vez menos esclarecida e auto-crítica. 

A coerência ideológica existe porque as pessoas se mantém fiéis a um conjunto de valores e princípios. Acima desses valores e princípios ideológicos, existem, ainda, outros mais importantes, como a dignidade humana, a liberdade, a igualdade, a solidariedade. A verdadeira incoerência reside em nos afastarmos destes princípios por oportunismo ou circunstancialismo partidário. O resto é mantermo-nos fiéis ao tipo de sociedade em que acreditamos e que juntos, democraticamente, aceitámos construir. Este é o maior valor que temos - a comunidade e o outro.

Portanto, será errado pensar que a minha deslocação foi feita para a esquerda. Em rigor, eu mantenho-me no mesmo sítio. Quem mudou foram aqueles que deixaram de colocar valores e princípios à frente do preconceito ideológico, da fantasia pseudo-liberal e da politiquinha de corredor.

No dia em que o nº2 de Durão Barroso (não sei se estão recordados deste senhor, que ia ser o nosso homem em Bruxelas) diz que é importante baixar salários para atrair investimento, com a maior das canduras, este é um assunto sobre o qual devemos reflectir para decidirmos de que lado é que vamos estar. Eu apenas decidi o meu com a minha consciência.

18
Nov13

sobre o partido de Rui Tavares*

jorge c.

A chegada de um novo partido fundado por pessoas que respeitamos é sempre uma boa notícia. Espero que o Rui Tavares tenha sucesso neste projecto político e que o mesmo sirva como um elemento positivo na discussão de alguns pontos que me parecem mal representados no debate público em Portugal e na Europa. 

Dito isto, e após ter visitado o http://livrept.net/, poderei deixar aqui algumas reflexões, sem a pretensão de querer dar uma opinião muito assertiva sobre se está certo ou errado. Assumo, antes, que é uma escolha que podemos ter ou não ter, sendo sempre legítima.

Todos os cidadãos têm inquietações e sentem-se, muitas vezes, órfãos de partido. É assim que, por exemplo, eu me sinto, hoje, à direita. Os partidos precisam de ser melhorados, reforçados com qualidade e valor político. A divisão, dentro da mesma linha ideológica, pode aprofundar um caminho de política única, sem equilíbrio democrático. Pode, também, potenciar o clima de guerra (não conflito) ideológica que tem vindo a crescer nos últimos 10 anos. Nestas alturas, exige-se alguma responsabilidade na previsão do futuro, na dogmática dos partidos que transmite segurança aos cidadãos. Não significa isto que não haja um espaço vazio, sem intervenção. Mas, haverá ou será apenas uma micro-narrativa circunstancial ou puramente ética?

O espectro ideológico português é muito semelhante ao tamanho do país. Em rigor, no seio da opinião pública, não existe um leito assim tão grande que afaste as duas margens de tal modo que se torne impossível distinguirem-se à distância. A única forma de entrar um elemento novo é penetrar no meio, indo buscar alguns inadaptados e aquilo a que Tavares chama de independentes (uma parte substancial da sua geração que nunca se quis comprometer partidariamente - uns por cobardia, outros por snobismo). Nessa lógica, todos os simpatizantes de partidos que não fossem militantes (ou seja, independentes) por não se identificarem com meros comportamentos, criariam partidos. Seria confuso e pouco sensato.

Na declaração de interesses deste movimento proto-partidário podemos encontrar um conjunto de intenções, ou de boas intenções, se quisermos. Não muito mais do que isso. Não há uma apresentação da possível composição, estrutura de órgãos e de competências, sendo que a formalidade é um factor nuclear para a segurança do militante relativamente às suas expectativas e à sua confiança no partido. Não há, também, uma definição ideológica clara. É, talvez, ainda mais dispersa que a do Bloco de Esquerda, um pouco à semelhança do PSD e do PS - um catch-all-party embrionário. O que, em rigor, nada nos diz. Passa um pouco por aquilo que está na cabeça de Rui Tavares e de uns quantos seguidores. Nada é comunicado para o exterior, como se a posição ideológica fosse óbvia. E é aqui que reside a falta de humildade inicial do movimento e, atrever-me-ia até a dizer, o elitismo da auto-admiração e do auto-reconhecimento. É um movimento político que nasce mais para a internet, para as redes sociais, do que para as ruas e isso terá, naturalmente, as suas consequências. Quer dizer que as redes sociais não são, também elas, ruas? Claro que são e muito importantes. Mas, os eleitores exigem sempre a proximidade dos agentes políticos e é preciso admitir que existe um fosso enorme entre aquilo que nós achamos que é o futuro e aquilo que é o presente e a realidade dos povos. Sem ilusões.

Por último, julgo que há na declaração de princípios, na organização e na missão um conjunto de valores universais. Ser europeísta, ser ecologista, ser anti-tacitista, etc, etc. não são valores ou princípios exclusivos de um partido. E ser de esquerda não é um campo ideológico único, nem uma virtude em si e por si. Muitas das questões que Tavares aponta são questões éticas, como já havia dito em cima. A ética não é partidarizável. Portanto, o discurso inicial é o discurso de um candidato independente que se julga moral e eticamente acima dos seus semelhantes e que acaba por não ter um projecto amplo com longevidade bem definido, sendo que as suas preocupações incidem fundamentalmente num período muito específico da sociedade portuguesa - propício a isso, em boa verdade.

 

 

*Entenda-se este título como uma provocação. É evidente que sabemos que Rui Tavares foi apenas o impulsionador e que a sua vontade é que o movimento seja total e absolutamente colectivo e democrático. Não me restam dúvidas. Mas, à mulher de César, lá diz o ditado. 

16
Out13

o partido único de josé sócrates

jorge c.

A mitomania é uma característica de muitos políticos. E isto não tem de ser um problema. A não ser, claro, quando ganha traços de alucinação.

Numa entrevista a José Sócrates, que o Expresso publicará, o antigo Primeiro-ministro diz (e tentem não desatar logo à gargalhada) que é o "chefe democrático que a direita sempre quis ter". O riso é inevitável, bem sei. Mas esta afirmação de Sócrates revela muito da natureza de uma parte significativa dos socialistas. 

Por um lado, são a esquerda democrática, por outro o que a direita queria. Percebe-se bem a motivação de partido único em democracia que o PS tem. À semelhança da governação de Sócrates ou Guterres, o próprio partido vai passando entre as gotas da chuva a tal velocidade que acaba por tornar-se dominador do espaço ideológico. E é aqui que nasce o tenebroso sectarismo do Largo do Rato - o partido daqueles que são bons e justos e únicos. Todos os outros são uns cretinos de direita ou uns irresponsáveis de extrema esquerda. E apenas há lugar no seu reino para aqueles que com eles concordam. É uma doença sem limites que gera a sua atracção a partir do Largo do Rato, aproveitando aquela arroganciazinha urbana da capital.

Sócrates cresce politicamente neste contexto. Pelo que não é de estranhar que se ache um "chefe democrático", um líder, como um facho que alumia. Esta teoria pega naqueles que olham para o PS como o único partido credível em democracia. Não pega com mais ninguém, felizmente. 

 

(Já sabemos que escrever sobre José Sócrates implica sempre um conjunto de observações: a insídia, o ataque pessoal, a culpa é sempre do sócrates, etc., uma maçada de uma conversa que temos de aturar porque há gente que lida mal com a crítica. É a vida.)

01
Out13

a grande avalanche

jorge c.

As eleições autárquicas são eleições locais e tirar conclusões a nível nacional pode ser muito perigoso para a democracia. Não é, neste caso. Exemplo máximo disso mesmo é o caso da Madeira. O mapa autárquico demonstra que a derrota do PSD é nacional e deve ser encarada como uma derrota partidária. Isto, como é evidente, relativiza a vitória do PS. Porque quando falamos de política em democracia, as vitórias ou derrotas dos partidos não devem ser a finalidade. Um partido não é um clube de futebol. E no panorama autárquico, os partidos perdem o controlo de parte substancial das suas candidaturas. Senão, veja-se o caso do Bloco de Esquerda em Elvas e do seu candidato racista, situação que foi de imediato e muito bem resolvida pelo partido. Quando um partido ganha uma autarquia com um candidato que não corresponde aos seus princípios de base, ou não preenche os requisitos éticos, então há sempre derrota. São vitórias do sectarismo ou do populismo sobre a democracia.

A lógica eleitoral do PSD não tem sido esta, infelizmente. Preocupados com quantos delegados conseguem meter no Congresso, em quantas listas de comissões políticas conseguem ter absoluto controlo, os responsáveis pelas concelhias e distritais do partido esqueceram-se do que é o serviço público e do que é fazer política. Oferecem-se lugares sem critério, multiplicam-se promessas para fazer aliados e destruir toda a concorrência possível. Afastaram, nos últimos 20 anos, muita gente que não se revia nesta forma pequena e irresponsável de fazer política e que faz, hoje, muita falta.

Foi precisamente neste cenário que o PSD foi crescendo para a decadência. Porque com um trabalho com qualidade nas autarquias, é difícil que os eleitores se deixem influenciar de forma tão declarada contra um autarca do partido do governo. É que torna-se importante lembrar que as autárquicas são sempre o rosto de alguém cuja proximidade não é só mediática.

Pedro Passos Coelho conseguiu, assim, juntar no mesmo pote todos aqueles que contribuiram para a grande avalanche que leva, hoje, o PSD a ser uma sombra do partido que foi. 

A eleição de Rui Moreira, no Porto, configura um manifesto de cidadania contra esta dinâmica do PSD, que poderia ter resultado num autêntico desastre, como aconteceu no resto do país e não apenas com o PSD. A proposta eleitoral de Rui Moreira deu aos cidadãos do Porto a certeza de que é possível acreditar na política local como um instrumento sério para o desenvolvimento e reforço da comunidade. A diferença entre a sua candidatura e as outras era notória e a cicatriz que isso deixa nos partidos pode ser profunda e dolorosa.

Por outro lado, também a emagadora vitória de António Costa em Lisboa não pode ser ofuscada pela panorâmica nacional. Costa tem feito um bom trabalho na cidade de Lisboa. É um presidente próximo dos cidadãos e da cidade, garantindo um sentimento geral de comunidade.

Mas, apesar da sua aclamada vitória, o PS também não pode ignorar as circuntâncias destas eleições (é claro que vai ignorar porque ganhou e o sectarismo é uma coisa tramada). A CDU, por exemplo, colheu os frutos do seu enraizamento dentro das comunidade e, muitas vezes, do seu excelente e reconhecido trabalho autárquico em concelhos muito difíceis, onde o PS falhou. O Bloco de Esquerda sofreu o seu centralismo na pele, demonstrando que não é um partido para autárquicas. Tudo isto terá consequências. Algumas delas podem ser dramáticas tendo em conta o inconformismo com a política partidária que vai crescendo como tendência.

O cenário não é, de todo, agradável. Por isso, torna-se urgente reflectir e agir dentro dos partidos sobre aquilo que interessa às comunidades e não terem, apenas, como desígnio nacional, a vitória. 

É preciso salvar os partidos dos seus verdadeiros carrascos. 

 

 

23
Jul13

uma ideologia

jorge c.

Há uns anos, falava-se muito de medidas impopulares. Tornou-se um conceito muito utilizado pela direita, já no fim do guterrismo e foi muito desse discurso que levou Durão Barroso ao poder. É verdade que na altura, um gnu com uma placa a dizer PSD ganharia as eleições. Mas, se houve alturas em que um gnu ganharia a Durão Barroso, então podemos assumir que o discurso das medidas impopulares teve os seus méritos. Foi um tempo em que Reforma do Estado era um conceito ainda melindroso. Eu era fã desse discurso.

As medidas impopulares eram compatíveis com o Estado-Providência. Qualquer um dos partidos as podia adoptar. Não tinham um factor ideológico forte, aparentemente, e eram apenas necessidades de um país que pretendia equilibrar-se depois da injecção de fundos comunitários dos anos 90. Era uma questão de prioridades. 

Entretanto, o conceito de medidas impopulares evoluiu, no centro-direita, para a necessidade de austeridade, numa década. O discurso tranformou-se em algo que vai para além das simples necessidades de equilíbrio e começou a afectar o próprio Estado-Providência, o rendimento das famílias, a sustentabilidade das micro e pequenas empresas e o desemprego.

Creio que foi Paul Krugman que definiu a austeridade como uma ideologia. Tendo a concordar. Ao contrário das medidas impopulares, a austeridade tem, de facto, contornos ideológicos. Ela baseia-se na convicção de que se nos focarmos no cumprimento escrupuloso da dívida e no controlo rígido do défice, seremos mais competitivos e o sol brilhará para todos nós. Pelos resultados que vamos vendo, espelhados na dinâmica socio-económica, pode ser que não seja bem assim. 

Não deve haver medo em assumir a narrativa ideológica da austeridade. Será, de certo, mais honesto do que vendê-la como uma necessidade imediata. As tranformações sociais provocadas pela austeridade são políticas; são decisões tomadas com base numa convicção. Ora, estas transformações não são escurtinadas de forma transparente por dois motivos: esconde-se a intenção ideológica e esonde-se a origem da orientação da mesma. Se há uma política europeia clara e inequívoca pela austeridade, e que está a ingerir no contrato que os eleitores fizeram com o seu Estado, então parece-me mais lógico que a votemos. Democraticamente. 

Não há qualquer problema em discutir ideias, desde que se assuma que são ideias. A sua não-assumpção é que é uma neblina contrária aos princípios que todos acordámos.

15
Jul13

é a economia, estúpido

jorge c.

Alguém dizia, há uns dias, que quando em tempo de crise se fala à carteira das pessoas, há uma imediata aceitação do discurso. É a isto que chamamos populismo.

Mas, para além do populismo habitual e perigoso de moralistas como José Gomes Ferreira, Camilo Lourenço ou o Pato Donald, há um discurso, noutra linha, também ele perigoso e que já conduziu o país a 40 anos fora dos mercados (do mercado da liberdade, da igualdade, da democracia, etc.). É o discurso da prevalência da economia, que nos diz que a sociedade corre por motivos económicos, como uma finalidade.

O objectivo de um sistema como a social-democracia, e por ter nascido no pós-Guerra, é tornar evidente que as democracias são regidas pela política, pelo interesse público e pela necessidade de paz e harmonia social.

Quando a construção de uma nova narrativa passa a desenhar a finalidade financeira e económica, então sabemos que nos estamos a desviar do objectivo inicial. A única forma que um discurso sobre a prevalência da economia tem de triunfar é através da coação, da imposição, da negação de liberdades individuais e colectivas, do empobrecimento estrutural do país. Ao aceitarmos empobrecer, aceitamos não nos desenvolver, porque o empobrecimento pressupõe desigualdades mais abrangentes, como se viu no Estado Novo.

Por isso, sempre que me falarem de superavits, de cortes na despesa e de pagamento da dívida, cantarei a Maria da Fonte.

14
Jul13

o desespero

jorge c.

E aqui estamos, na branda expectativa que António José Seguro se revele de acordo com o nosso interesse. Digamos que é um pouco deprimente. 

O meu interesse é que haja uma liderança que reoriente o país, que defina uma linha estratégica clara e inequívoca e que tenha força para defender a social democracia. Será que posso contar com Seguro? Tenho muitas dúvidas. 

Seguro é um homem do aparelho socialista, orientado para os pequenos resultados eleitorais distritais, sem qualquer carisma ou sinal de liderança convicta. Configura, em muitas coisas, o mesmo tipo político de Passos Coelho: ambicioso na chegada ao poder mas, com um défice de competência latente. No caso de Passos Coelho tornou-se evidente. E é este dilema - e porque Seguro tem muito mais experiência política que o Primeiro-ministro, quer queiramos, quer não - que me deixa angustiado.

Sobre o que o secretário-geral do PS deve fazer, prefiro não especular. Porém, a única coisa que precisávamos era que a sua posição fosse cristalina e não deixasse dúvidas sobre a sua capacidade de ser uma alternativa. É aqui que está a questão em que Seguro falha como a Primavera no séc. XXI. A verdade é que não podemos estar à espera de um Verão surpreendente. Não há tempo.

Se as eleições antecipadas são, neste momento, uma necessidade para a estabilidade política e reforço da legitimidade e credibilidade governamental, as eleições nos partidos também não seriam descabidas, de todo. 

11
Jul13

twist and shout

jorge c.

Queria aqui agradecer ao Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva por ter entalado toda a gente. Aposto que fez benchmark para os guionistas das grandes séries estrangeiras e até para o Bem-Vindos a Beirais. Foi uma matança como há muito não se via. Nunca pensei vir a assistir a isto em toda a minha vida. Estou muito satisfeito por todos nós.

Um filme, ou uma série, nunca são verdadeiramente bons sem vilões de mau carácter, sem características bem vincadas e cenas surpreendentes e inesperadas. Para nossa sorte, isto não fica por aqui. Ainda assim, é uma das vinganças mais bonitas de sempre. 

É claro que Cavaco não perde pela demora. Há casas da Coelha e BPN's e sacos do lixo onde pegar. Mas, isso pouco interessa.

O país está suspenso por causa de uma classe política deplorável. E, para quem como eu, defende com unhas e dentes a democracia representativa, olhar para o lado é um susto. É claro que a garotada acha que há gajos de 40 anos capazes de pegar nisto. (Oh, oh! Claro que sim!) Todos sabemos que não. E essa falta de maturidade (tanto nos mais novos, como nos mais velhos) é que assusta. Olhamos para os líderes dos dois maiores partidos e vemos duas criaturas educadas nas jotas, no meio de joguinhos eleitoralistas das concelhias e distritais, das promessas e dos rabos presos com favores para conseguir mais votos e sem qualquer tipo de convicção e cultura política, de serviço público. Olhamos para o seu lado, para dentro dos partidos e vemos Junqueiros, Zorrinhos, Montenegros, Marcos Antónios... Já sofri menos com o futuro do Benfica.

Enfim, minhas senhoras e cavalheiros, com todo o respeito e pedindo antecipadamente desculpa pelo excesso de coloquialidade: estamos completamente fodidos!

 

04
Jul13

Da impotência

jorge c.

Spínola dizia, em Portugal e o Futuro, que - e cito de memória - não bastava acharmos que éramos democratas, se os outros não o reconhecessem em nós. Apesar desta ideia do general se referir à imagem do país perante o exterior, podemos, de certo modo, fazer uma analogia para os dias que vivemos: um governo cuja consciência da actuação política não é entendida do mesmo modo pelo resto do país.

Precisamos, então, de compreender o que leva o governo de Passos Coelho a manter-se em funções, após um conjunto de acontecimentos inexplicáveis e desprestigiantes para a dogmática do poder político. Poderíamos acreditar, numa primeira hipótse, que se trata de excesso de zelo relativamente à necessidade de estabilidade institucional que o país precisa para gerir a sua credibilidade perante o exterior, não tivesse o disparo partido da carta de demissão de Vitor Gaspar, que compromete toda a acção governativa, admitindo um conjunto de falhanços e de mau estar dentro do governo. Esta hipótese - a que admite algum sentido de serviço público a Passos Coelho - não justifica, como vimos, a sequência de episódios (no mínimo) infelizes que lhe sucederam. Será, aliás, muito complicado acreditar no sentido de serviço público de um homem que desde 2008 traçou o seu caminho para o poder, atropelando o seu próprio partido,  reunindo-se de personagens pouco credíveis e de seriedade duvidosa, bem como de não-militantes com uma agenda contrária aos valores tradicionais do PSD, fazendo campanha pessoal quando Manuela Ferreira Leite preparava as eleições de 2009, contribindo para uma crise política que nos levou a um resgate financeiro e acabando num discurso fútil anti-constitucional. Os mínimos de compreensão do regular funcionamento das instituições não foram cumpridos. E isto é a base da política em Democracia. 

Chegamos, então, a uma segunda hipótese: Passos Coelho acha que está aqui para salvar a pátria. Colocando-se a si próprio num patamar de divindade, o Primeiro-ministro não abdica da sua ideia de tirar Portugal do fosso em que os socialistas nos meteram. Ignorando o que se passa no resto do mundo, Passos perdeu a noção da realidade e julga-se uma espécie de primus inter pares. Se esta hipótese se mostrar próxima da verdade, então o caminho será, decididamente, para uma autocracia. A solução seria um golpe de Estado ou o internamento compulsivo. Fica ao vosso critério, já que Presidente da República é uma figura dos nossos antepassados.

Seja qual for o entendimento mais viável que fazemos da situação, a verdade é que estamos perante uma profunda crise da democracia representativa e das instituições democráticas. Temos, neste momento, o pior Governo da nossa história, o pior Presidente da República da democracia e, para infortúnio geral, um líder de opinião incapaz.

Incrédulo, o país assiste a tudo isto em directo como um espectáculo burlesco, decadente e fatal, com um forte sentimento de impotência. "O que ser-se, então, neste país? Não ser-se?"

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