jorge c.
Sou um rapaz português que cresceu mais tempo dentro da Europa do que fora dela. Como todos os outros rapazes e raparigas da minha geração fui ganhando expectativas. Mas, ao contrário dos senhores que dizem coisas relativamente importantes por esses meios de comunicação fora, não encaro o 25º aniversário da nossa adesão à UE como uma questão do interior para o exterior, mas sim o contrário.
O que ganhou Portugal? O que ganharam os portugueses? Certamente que muita coisa. Mas para a minha geração não é tanto o crescimento que interessa, mas sim o desenvolvimento do país em termos que nos permita crescer enquanto cidadãos e nos possibilite uma maior qualidade de vida. Olhando em volta reparamos com algum desgosto que a qualidade de vida dos portugueses pode ter melhorado no que diz respeito ao consumo, mas tem-se degradado psicologicamente e até socialmente. Há menos cidadania e há mais egoísmo e ressentimento.
Não se trata apenas da má aplicação dos fundos comunitários - a péssima, aliás - mas também da má aplicação das directivas, a desproporcionalidade, a insensatez e o desfazamento com que algumas directivas foram sendo aplicadas. Para não falar na intempestividade e na falta de autoridade moral.
Poucos se sentem europeus. Poucos se sentem com condições de se sentirem europeus. E esse problema da qualidade de vida que afecta essencialmente os mais idosos, as famílias de classe média cada vez menos média, os adolescentes na definição do seu futuro e os recém-licenciados vai projectar-se num desenvolvimento social e cultural insuficiente que não fortalece a Europa, mas sim que a distancia de si mesma e a enfraquece no seu espírito comunitário e na tão pretendida solidariedade.
Que contributo estamos nós a dar para o futuro desta Europa? Era esta pergunta que o Estado e os cidadãos deveriam fazer mais vezes. Porque sem um país sólido e solidário de nada adianta pretender uma Europa com as mesmas características.