Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

09
Set13

o dilema americano

jorge c.

Invejo aqueles que, sem hesitar, tomam uma posição muito assertiva sobre os assuntos da vida e, em particular, sobre intervenções militares. É uma zona confortável. Assim que descobrimos a nossa posição, defendemo-la incondicionalmente. Até à morte.

Eu tenho os meus dilemas. 

Há mais de um ano que olhamos para uma Síria de punhal cravado no peito. Vemos imagens, lemos e ouvimos relatos. Sobre o que ali se passa, não restam dúvidas: um desastre humano. Depois, vem o divisionismo. Ora que são um povo orpimido por um ditador, ora que são terroristas opositores que provocam a opressão do regime. Entretanto, o genocídio. 

Na América do Norte, o mesmo dilema, mais ponderado que noutros momentos: o que fazer? O Direito Internacional é tão claro, quanto ineficaz, no que respeita à ingerência de terceiros em assuntos internos; as Nações Unidas, uma comissão da boa-vontade incapaz de restaurar a ordem no Intendente ou no Bairro da Sé do Porto.

Tal como bem definiu Robert Kagan, é na dicotomia poder/fraqueza que se encontra o ónus da acção. Os EUA têm capacidade militar (e financeira, já agora) para intervir. A Europa, não. Daí a preferência por duas soluções - a política e a militar. Resta-nos, então, definir o dilema e resolvê-lo. Podemos perguntar o que terá mais valor: a vida humana ou a soberania de um Estado. Se estamos perante a morte de dezenas de milhar de pessoas, não tenho qualquer dúvida - a vida humana. 

O meu dilema resolve-se. Porém, não se dissolve. E enquanto isso, o tempo vai passando.

23
Out11

O caminho faz-se a caminhar ou assim

jorge c.

Pedi ao Filinto que me desenhasse a sua perspectiva do actual momento político em Espanha, depois do anúncio da ETA. Pedi-lhe porque, ao longo destes anos em que vamos caminhando juntos, de lados opostos, mas com a mesma intenção, o Filinto é a pessoa cuja opinião sobre o assunto é, para mim, a mais credível. Aqui fica então, com o meu agradecimento e a devida vénia:

 

"A ETA tem sido um dos grandes temas das diversas campanhas eleitorais para as cortes de Madrid, desde que as há. E com a excepção da derrota de Felipe González para José María Aznar, em que se debateu a taxa de desemprego acima dos 20 por cento que o socialista deixou, a ETA foi sempre o tema central.

Estas eleições de 2011 preparavam-se para voltar a retirar a ETA do centro do debate, porque um outro socialista, Zapatero, liderou um governo que voltou a deixar subir a fasquia dos desempregados acima dos 20 por cento – e também porque havia um cessar-fogo e porque os candidatos (Oreja e Rubalcaba) têm os seus galões no combate à ETA. Contudo, a ETA gosta de aparecer. E apareceu, para dizer que vai desaparecer. Desde logo, houve malucos do PP que consideraram que o anúncio era um truque. E ao mesmo tempo que era a prova -- percebia-se esta tese sem dificuldade no El Mundo, no La Razon e no Libertad Digital -- de que o governo socialista tinha estado a negociar com a ETA. A negociar um truque, claro. Enfim!

Depois chegaram os malucos do PSOE: "Finalmente, desde 1936, a liberdade chegou aqui", dizia num comício sábado de manhã o ex-presidente da câmara de San Sebastian. Pretendia santificar a República? Vingar-se da derrota eleitoral para os independentistas da Bildu? Não, apenas um truque eleitoral, claro.

Enquanto PP e PSOE tentam alinhar os discursos para descobrir a melhor maneira de sacar votos depois do anúncio da ETA, um sem-número de malucos, idiotas, crentes, descrentes, ignorantes, especialistas, interesseiros, provocadores e outros falam ou escrevem sobre o desaparecimentro da ETA. Incluindo eu. Infelizmente ainda não li uma palavra do ex-presidente do Governo basco, Ibarretxe. Ele tinha um caminho, um caminho dinamitado a meias entre a ETA e a coligação PSOE/PP. E infelizmente também ainda não ouvi Otegi, que está preso aquela cena da liberdade, estão a ver?), e não pode repetir que a ETA “sobra e estorva”, porque ela já saiu do caminho. Do caminho longo e sinuoso que todos têm de percorrer."

 

Filinto Melo

09
Jul11

A estepe

jorge c.

Enquanto na grande maioria dos países do Norte de África e do Médio Oriente, que experimentaram revoltas nos últimos meses, a qualidade de vida e o desenvolvimento são uma realidade razoável, no Sudão do Sul nem sequer são palavras comuns. Trata-se de uma região onde circulam muitos nómadas e que, numa narrativa pouco ou nada descentralizada, sempre esteve longe da capital, para tudo. Resumindo: é uma região muito pobre.

A relevância desta nova vida do Sudão do Sul é muita. Ao contrário das revoltas de Março, a independência sulista no Sudão requer uma atenção especial às dinâmicas de desenvolvimento, à narrativa política, à segurança interna e às relações internacionais. É, claramente, um parente pobre das Nações sem nada que interesse ao mundo.

Se há causa em que nos devíamos empenhar, é esta, a de uma jovem nação enfraquecida pela história, com muitas dificuldades de sobrevivência e um caminho muito longo para a dignidade humana. Bem sei que não tem o charme do Cairo e das revoluções pop, televisionadas de cocktail na mão mas, tem a característica básica de uma civilização que deveria chamar à atenção de todos - a humanidade.

08
Jul11

O dia D do Sudão

jorge c.

Aproxima-se a data histórica para o Sudão mas, como se pode ler aqui, o futuro dos sulistas é uma incógnita. Se o refernedo para a separação das duas regiões foi positivo no sentido de serem os sudaneses a decidir se a sua situação geo-política fazia sentido, a realidade do Sudão do Sul é muito preocupante e a possibilidade de conflitos territoriais é forte.

Mas a história das nações faz-se de sacrifícios e luta por uma sociedade melhor, mais justa e sustentada a caminho do desenvolvimento. É na política sudanesa que teremos de nos concentrar, agora.

21
Mar11

Tempo e espaço

jorge c.

A democracia é uma coisa muito sobrevalorizada. Eu explico. Há ainda muita gente que acredita que o facto de viver numa democracia vai fazer com que aconteça magia e tudo acaba bem para o nosso lado. Acontece que uma democracia sugere não uma unanimidade de intenções, mas antes uma pluralidade e diversidade de vontades. Foi por isso que no Egipto se votou num sentido que não agradou muito aos milhares de manifestantes de Tahrir e beneficia os dois principais partidos da - até agora - oposição. E isto não é bom, poder escolher que sim ou que não sem a intervenção de terceiros? Qual é a dificuldade em aceitar as regras do jogo?

Menos sorte tem a Líbia que vive entre as loucuras de um ditador e a indecisão da comunidade internacional, sem grandes expectativas. É certo que a intervenção não deve ser precipitada, mas nem tanto ao mar, nem tanto à terra, como se diz por aí.

A intervenção na Líbia, ao contrário do Egipto, é exigível porque, grosso modo, está para além das possibilidades das populações assegurar a sua própria segurança. Trata-se, portanto, de uma questão de direitos universais. Não é tanto de definir quem é mau ou quem é bom. Esse é um dogma que a Declaração Universal já superou há algum tempo.

Por outro lado, uma intervenção demasiado morosa pode ter efeitos contrários ao que é objectivamente pretendido. É certo que decidir intervir noutro Estado é uma questão muito delicada e que envolve uma avaliação rigorosa da legitimidade internacional. Mas foi precisamente há um mês atrás que Khadafi começou a disparar contra os líbios, se bem se lembram. Um mês. Não são 4 ou 5 dias em que seria compreensível uma indecisão. Um mês de conversa fiada e uma decisão pela No-Fly Zone demasiado tardia. Agora, esta intervenção militar parece desproporcional.

07
Fev11

Super Bowl goes to bad Hollywood

jorge c.

O que irrita nos efeitos especiais do cinema é a falta de criatividade. Ignorando em absoluto a forma de escrever um bom argumento, montar uma história interessante ou ter actores a sério, muitos realizadores têm enchido filmes com efeitos especiais sem qualquer finalidade que não a da espectacularidade. Vende-se a emoção com uma grande explosão. Mas a emoção não está lá porque falta o actor, o argumento ou o mais pequeno vestígio de genuinidade.

Quando ontem, poucos minutos antes do início do 45º Super Bowl, Christina Aguilera subiu ao palco para cantar o Star-Spangled Banner (o hino americano) levei as mãos à cabeça e pensei: mas onde é que estes gajos têm a cabeça? O que eu não contava é que fosse ainda pior e, num número American Idol goes to Cabaret para o Convento passando pela Broadway, Aguilera destruísse um dos maiores motivos de orgulho dos americanos. Informaram-me que o comentador da Sporttv se dizia arrepiado, o que deverá bastar para eu não ter de explicar por que razão vi o jogo na ESPN.

A espectacularidade que os americanos tentam imprimir a cada momento da sua vida levará a que um dia nada reste para além dos efeitos especiais. Lessons to learn.

02
Fev11

As preocupações de Israel

jorge c.

Uma das grandes questões em causa na situação política dos países do Norte de África e do Médio-Oriente é Israel e a manutenção da paz na região. Não é uma preocupação descabida. Mas, pelo que temos visto nos últimos dias, as manifestações têm sido pacíficas e sem apelos de ódio. Esperemos que assim se mantenha. Acontece que até agora não há sinais de uma oposição moderada com expressão suficiente para manter essa linha civilizada.

Mais sobre mim

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Um blog de:

Jorge Lopes de Carvalho mauscostumes@gmail.com

Links

extensão

  •  
  • blogues diários

  •  
  • media nacional

  •  
  • media internacional

    Arquivo

    1. 2014
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2013
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2012
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2011
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2010
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D