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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

29
Dez10

É a comunicação, estúpido

jorge c.

Há umas semanas assisti à entrega anual dos prémios do Instituto de Negociação e Venda (INV). Nessa cerimónia falou-se muito de tendências do consumidor. Também se falou muito de internet, como uma novidade que anda por aí. Acredito que para a grande parte dos empresários que se encontravam na sala a internet seja mesmo uma novidade. Não é de espantar da parte de quem vê no consumidor uma tendência.

Durante anos, as empresas habituaram-se a tratar os consumidores como cobaias de marketing e só muito recentemente decidiram apostar na qualidade dos serviços. Parece que o consumidor descobriu-lhes a careca. Mas, para esta nova tarefa é preciso estar na internet. Ora, estar na internet não deverá ser um processo muito simples para quem acordou para ela em 2010.

O investimento na comunicação tornou-se uma necessidade das empresas numa altura em que a velocidade de informação ultrapassou o impacto da televisão e dos placards de rua. A prática de muitas dessas empresas não tem resultado. Aproveitaram os departamentos de informática para tratar dos assuntos de internet. Lembra um pouco aquela história dos professores de Electrotecnia serem destacados para dar aulas de Matemática. É que por mais que percebam os seus meandros, é preciso compreender que os assuntos da internet são assuntos de comunicação e não de informática. Eu posso ter uma página toda catita e a sua eficácia ser praticamente nula. Os conteúdos da minha página é que são relevantes; as linhas de comunicação internas é que são importantes; o contacto exterior com os consumidores é que é importante. Tudo o resto é modernização serôdia que parte essencialmente da ignorância.

Se ao invés de desconfiar procurassem e se informassem sobre um universo com o qual não estão familiarizados, muitas das empresas estariam hoje com uma imagem muito positiva perante os consumidores. Nem precisariam de andar com conversas de marketing que cheiram a mofo.

Os clientes são pessoas e as pessoas querem ser tratadas como tal. Isto não é uma tendência, é puro bom senso.

06
Dez10

Os limites da bufaria

jorge c.

Com o boom da internet falou-se muito de pirataria e, mais tarde, do código de honra dos hackers. Era um mundo giro porque ninguém sabia muito bem o que faziam e como o faziam, os hackers, mas havia ali uma empatia universal por esses soldados da verdade.

Hoje, ainda existem muitos hackers que continuam a chatear a cabeça de quem muitas vezes merece, umas vezes com truques caricatos que deixam qualquer um desesperado, outras com mais alguma agressividade. Como em tudo, há para todos os gostos. Mas deles já ninguém quer saber.

O nosso tempo é o da defesa de outra gente que está capaz de provocar climas de grande tensão internacional sendo que código de honra ou respeito pelos mais elementares princípios como a liberdade são coisas que não existem. E quando se fala em tensão internacional não estamos propriamente a falar de comadres zangadas, mas sim de coisas sérias que põem em risco a vida de milhões de pessoas (quando me refiro a pessoas refiro-me a seres humanos, não sei se há alguma escala para isto).

É triste ter que voltar a falar deste bando de marginais inconscientes que tem feito as delícias dos ressentidos em todo o mundo. Mas, parece que há quem ainda ache isto tudo o máximo.

13
Ago10

Ainda sobre a opinião pública...

jorge c.

... e agora mais propriamente sobre a opinião publicada, surgem hoje novas linguagens que vão cada vez mais ao encontro do que foi dito no post anterior. As redes sociais e a blogosfera são hoje um palco para os insignificantes (uns mais do que outros). Fazer opinião tornou-se mais acessível. Mas se isto tem todo um tom positivo a priori, o que se revela mais tarde é uma descarga de frustrações e de má formação de carácter ou de inadaptação emocional.

Repare-se, por exemplo, nos nossos cronistas habituais. Todas as suas opiniões são baseadas em acontecimentos políticos, umas vezes mais agrestes nas suas insinuações ou ataques directos a pessoas concretas, por norma figuras que se poderão defender usando ou os mesmos meios, ou recorrendo à tutela judicial.

O que se passa hoje na internet é algo completamente diferente. As opiniões de Pacheco Pereira, Ana Gomes, Pulido Valente, Maria José Nogueira Pinto, Rui Tavares ou de Fernanda Câncio são motivo imediato para uma enxurrada da ataques pessoais, juízos de valor e boatos infundados. É tudo lateral e raramente se conclui uma opinião política com argumentos políticos. São opiniões sobre opiniões. Eu próprio fui vítima desse disparate até ao dia em que deixei de me levar tão a sério e aprendi a respeitar ou ignorar as opiniões dos outros. Foi fácil, bastou ver as figuras que outros faziam. Parte do problema nasce de uma patologia social - a razão emocional.

Não percebendo muito bem de onde possa surgir uma linha de argumentação baseada em emoções, esta é muito comum, principalmente em grupos específicos de causas sociais ou religiosas. A defesa ou a evangelização para a sua causa tornam-se agressivas e tudo o que se mostre contrário é julgado como um atentado humanitário, uma força do mal contra a Verdade, ou até mesmo contra si próprios. Neste sentido um fanático religioso ou anti-religioso não difere muito de uma fanática feminista ou de um ambientalista radical. A discussão ideológica desaparece e a única questão que se mantém é emocional, numa linguagem de perseguição e de diabolização.

A gravidade está no facto de muitas destas pessoas perceberem que não estão sozinhas nas suas causas. É que depois elas juntam-se e de uma rede livre de opinião e cidadania passamos a ter um hospício de desadequados.

 

13
Mai10

Virtualidade real

jorge c.

Algo está podre no reino da internet. Não é de hoje, é certo. Os blogs, ou melhor, as caixas de comentários dos blogs já eram um espectáculo bonito de se ver. Mas, agora, com o crescimento das redes sociais e a facilidade de interagir e criar posts, uma realidade escondida manifesta-se de forma algo assustadora e alarmante. They're out there.

 

Tomemos de exemplo o Facebook, a rede social mais utilizada nos dias de hoje. Não é só a estranha ideia de fazer amigos ou misturar na mesma página pessoas do nosso meio familiar com pessoas do nosso meio profissional, não é só a exposição da nossa intimidade que reside no pormenor do comentário de um amigo visível a todos, nem a doença das vacas e dos morangos. Acima de tudo, o que mais preocupa no Facebook não é esse voyeurismo ou futilidade de comunicação, mas sim a demonstração de ignorância e a dimensão da demagogia social face à política.

 

Falamos de uma rede social onde todos os dias surgem centenas de grupos a que nos podemos juntar: o grupo de pessoas que odeiam Sócrates, o grupo de pessoas que ama Sócrates, o grupo de pessoas que quer a prisão imediata de Pacheco Pereira, o grupo de pessoas que gosta de criar grupos de pessoas, o grupo de portugueses que foi a IX Grande Feira Mundial, o grupo de pessoas que gosta de coçar a perna esquerda, o grupo de pessoas que odeia, que quer, que exige, que não admite, que mata e que esfola. Enfim, um conjunto de cidadãos, a grande parte maior de idade, que revela excesso de tempo e uma total falta de bom senso. A demagogia que sai desses grupos é tal que uma grande percentagem destas pessoas informa-se das situações a partir do Facebook. Veja-se o caso recente de Inês de Medeiros ou do Papa. A ignorância, o mais perfeito desconhecimento dos factos e o comportamento acéfalo das massas encontra aqui a sua maior montra de sempre.

 

Há uns meses, a propósito das eleições, criei com meia-dúzia de delinquentes, perfeitamente identificados aqui, um blog para o efeito, e a certa altura criou-se um desses grupos que ironizava uma situação em particular com uma protagonista de uma das campanhas. A piada durou dois dias, ou nem isso. Durou o tempo de começarem os comentários de ódio contra a pessoa em causa e até um jornal tomar o motivo do grupo como sério e fazer disso rodapé de primeira página. O disparate foi tanto que até por caixa de comentários nos quiseram entrevistar.

 

Com a sua falta de iniciativa e incapacidade de cidadania, muita gente encontrou nestes meios a forma de projectar as suas mais íntimas castrações. O uso dado às redes sociais deixou de ter a utilidade inicialmente pretendida e transformou-se num centro de loucura virtual. A difamação e a injúria e a inconsciência do efeito que o que se diz pode ter reinam. Os media, na sua habitual ignorância das novas ferramentas, começaram a apanhar tudo o que caía na rede sem colocar limites. É um espelho assustador do que anda por este país.

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Jorge Lopes de Carvalho mauscostumes@gmail.com

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