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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

28
Nov10

O pensamento dos labregos

jorge c.

Não é só o populismo de café de Marinho e Pinto que é preocupante. O mais grave é o entendimento que sugere de uma linguagem ampla como o Direito. Abel Salazar dizia que "quem só sabe de medicina, nem de medicina sabe". O mesmo vale para o Direito e para pessoas que insistem em reduzir uma linguagem rica e universal ao processualismo típico. Porque o Direito é próximo das ciências sociais e o espelho da organização em sociedade.

Mas o problema não é Marinho e Pinto. Este é só um produto acabado da ignorância consentida. Este pensamento de labrego que acha que um jurista ou é advogado ou magistrado ou então que vá para caixa de supermercado é só uma consequência da voz que lhe dão e do apoio ao seu justicialismo contra os poderosos. A verdade é que o seu discurso é muito mais coporativista e muito menos benéfico para a melhor imagem da classe.

A necessidade que foi criada de aceder à Ordem dos Advogados para trabalhar é que é o verdadeiro problema. Um licenciado em Direito não é um advogado. Nem tem de ser. E ser advogado não é propriamente ganhar logo um estatuto meritório, porque muitos advogados nem distinguir entre um herdeiro e um legatário sabem. Muitos deles nem português correcto falam e escrevem. Os licenciados em Direito são juristas com formação suficiente para contribuir em várias áreas e em várias realidades: empresas, institutos, marketing, lobby, investigação, política, etc. Haverá certamente muita gente com vontade e talento para o fazer mas que se vê obrigado a perder dois anos da sua vida numa Ordem na qual não se revêem e num estágio que não têm interesse em fazer. Tempo e dinheiro e outros contributos desperdiçados.

Estude Direito, é que eu lhe digo.

24
Jul10

Os colegas

jorge c.

António Marinho Pinto não só é um populista natural como é um péssimo representante de uma classe cada vez mais desprestigiada e um ignorante. Ao longo das últimas semanas, em sucessivas intervenções, tem feito crer às pessoas que aos licenciados em Direito resta a advocacia e a magistratura. Não só é um insulto a uma formação superior como o Direito, como é semear o pânico e criar ainda mais ignorância sobre as várias valências de um jurista. Para Marinho Pinto, o jurista não é colega e por isso o curso não lhe vale de nada, nem pode fazer nada com ele. É aqui que começa o corporativismo.

17
Jun10

A facturinha

jorge c.

90% de reprovações num exame que me garantiram ser acessível, para não dizer fácil. Muito se há-de dizer disto: que o bastonário é um malandro (e é, mas não interessa), que eles querem é despachar este pessoal e estrangular a entrada na ordem porque há gente a mais (no mundo também há gente a mais) e muitas outras coisas. Pode ser tudo verdade. Mas não é isso que importa agora. Para mim o culpado é sempre o Dr. Soares.

O que importa agora é perceber a linha dos acontecimentos, as causas e as consequências. Portanto, Bolonha foi um processo vergonhoso e conduz algumas licenciaturas à total indignidade, sendo Direito uma delas. Os alunos vêm do secundário com fracos índices de exigência e a Universidade deixou de o ser, passou a ser o terciário com avaliações contínuas e trabalhos de casa. Acabam as licenciaturas com 21 ou 22 anos e sabem lá o que querem da vida. Vão para o que estiver mais à mão e a mentalidade vigente do doutor ou engenheiro não lhes dá alternativas (já na escolha do secundário é assim). Se não podem entrar na Ordem vão fazer o quê, o CEJ? É difícil. Consultoras? Lotadas e agora anda-se aí com a mania de acabar com o outsourcing. Mesmo assim as consultoras também são exigentes com as médias e estabelecimentos frequentados. Depois não podem exercer a profissão para a qual estudaram por causa da procuradoria ilícita. Por isso, que andaram a fazer 4 anos? Nada. A gastar dinheiro aos pais, a ganhar depressões e a dar dores de cabeça ao Estado porque a empregabilidade é baixíssima.

Podem sempre ir para os supermercados, que também não devem estar a empregar muita gente e pagam pouco mais do salário mínimo que, para quem se habituou a um estilo de vida estável e ingressou na Universidade com o objectivo de pelo menos ter um salário próximo dos 1000€, não é assim muito motivador. Ou então as obras. O problema é que o sector da construção também está malzito.

Conclusão, uma grande trapalhada que podemos todos agradecer ao idiota do Dr. Roberto Carneiro e a todos os que viram e vêem no ensino um negócio ou um objecto de experimentalismo social. E o Dr. Soares, claro. O Dr. Soares é sempre culpado até prova em contrário.

 

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