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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

11
Dez10

Decisões e consequências

jorge c.

Há cerca de um ano e meio, Miguel Vale de Almeida escrevia este post. Algum tempo depois integrava as listas do PS. Na altura, eu disse que não via com bons olhos esta forma de encarar a política, não por ser MVA a usar a política para fazer lobby (todos os cidadãos o devem fazer), mas sim pelo PS que estava a usar uma característica de alguém para vender uma imagem. Essa imagem, da modernidade, da vanguarda, é uma imagem que o PS nunca terá porque é, de facto, um partido do centrão, cinzento. E é assim porque é assim que o eleitorado vota nele (e no PSD). Mas quando essa vanguarda representa um número significativo de votos, o PS avança mesmo que hipocritamente.

Não acredito que MVA fosse ingénuo ao ponto de acreditar que José Sócrates seria muito diferente desse PS centrão e que agora se tivesse apercebido disso e recuado no seu apoio. Aliás, já tinha alguns exemplos de como o PM prefere a imagem ao conteúdo: Correia de Campos e Maria de Lurdes Rodrigues são os que me ocorrem assim de repente. Também não creio, pelo respeito que tenho por MVA, que o agora ex-deputado encare o lugar no Parlamento com displicência. Custa-me, aliás, que tenha dito que o seu objectivo era apenas um.

Uma bancada parlamentar deve ser uma equipa. Um jogador não abandona uma partida depois de marcar um golo porque já cumpriu o seu objectivo. Certamente que muitos dos que votaram no PS por causa de MVA e da sua causa tinham mais expectativas. Foi essa a ideia com que fiquei quando confrontei algumas pessoas com a ideia de que o único motivo pelo qual lá estava era o casamento entre pessoas do mesmo sexo (cpms) e me garantiram com veemência (quase me mataram) que não, que havia ali muito mais cidadania para dar e vender. Pois não é isso que o Miguel diz e confirma-se o receio que tinha de se estar a instrumentalizar a Assembleia da República para pouco tempo depois sair.

Era muito interessante que agora todos os deputados o começassem a fazer. Faziam lobby por um interesse de um grupo específico, concretizava-se e punham-se a andar. Que belo Parlamento com que ficávamos. Vão-me desculpar, mas não é aceitável.

Esta semana vi, pela primeira vez Milk, curiosamente. Harvey Milk é um personagem interessante que, apesar de tudo, nunca desistiu. Não se limitou a ser apenas o elemento gay. Ele sabia que a vanguarda que defendia não parava, não acabava na aprovação de uma lei específica e havia muito mais lutas. No caso de MVA muitas mais, mesmo dentro do PS, como o ministro Silva Pereira a fazer declarações como as últimas relativas ao apadrinhamento de crianças por casais homossexuais. Se isto não é motivo para continuar a fazer lobby, se as questões de igualdade de género se reduzem ao cpms, então teremos todos razão para falar em causas fracturantes com o devido perjúrio?

Não se admire o Miguel que esta seja a consequência da sua saída abrupta: um total desrespeito pelos causídicos das ditas fracturantes e a perda de força do lobby. Como se pode depois disto argumentar em torno de uma causa específica sem ser desvalorizado (ainda mais)? As críticas às causas fracturantes irão certamente aumentar, tendo agora uma arma de arremesso muito forte. A descredibilização dos seus defensores é agora inevitável e para muitas questões de direitos fundamentais isso poderá ser muito complicado.

21
Abr10

Política de montra

jorge c.

Luís Figo é, na minha douta opinião, o melhor jogador de futebol português no nível humano. Eusébio faz parte daquele grupo de jogadores que adoptaram a forma humana só para chatear os pobres mortais. Daí que aquilo que se exige a Figo é que a sua vida pública se limite ao futebol que é aquilo que ele sabe fazer melhor que qualquer outro. Ninguém quer saber das opiniões políticas de Figo. Já nos basta Pedro Marques Lopes ou Luís Delgado como comentaristas de vacuidades.

 

Tornou-se um vício fazer campanha política com figuras públicas, sejam desportistas, actores, músicos, etc. A sua participação roça, grande parte das vezes, a mediocridade. Para os políticos é óptimo ter uma celebridade a seu lado. Para a celebridade é importante mostrar que também é uma pessoa que sente a dor do homem comum e que pensa. Acontece que o cidadão comum gosta de um actor ou de um futebolista por aquilo que ele faz na sua profissão. Ninguém quer saber o que é que a celebridade tem a dizer uma vez em cada quatro anos sobre as obras públicas ou o serviço nacional de saúde.

 

Mas esta tendência é cada vez mais forte e agora até temos uma deputada que é actriz. Não que um actor tenha menos capacidade que outro cidadão qualquer para exercer o cargo. Por amor de Deus, até José Lello é deputado. Mas a verdade é que ficamos sem perceber qual é a fronteira entre o mediatismo e a relevância política e se é aceitável que, por motivos meramente eleitorais, as cadeiras do Parlamento comecem a ser ocupadas por manequins de montra de pronto-a-vestir, só para enfeitar (e até os podemos vestir ao nosso gosto).

 

O problema com Inês de Medeiros não é o que o Estado se dispõe a pagar para as suas deslocações. O problema da deputada independente é não ter noção da sua posição enquanto deputada e não perceber as prioridades que o cargo impõe. Mais uma vez estamos perante uma questão ética ou falta de noção da realidade, sendo que este é um dos mais preocupantes sinais do descrédito da classe política.

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