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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

05
Dez13

o consenso

jorge c.

Hoje é quinta-feira, o dia em que, na televisão, comentam os dois líderes da oposição ou, se quisermos, em que Manuela Ferreira Leite e José Pacheco Pereira marcam a agenda da oposição em Portugal. É estranho que seja dentro do mesmo partido mas, a verdade é que António José Seguro não existe, nem sequer aparece. Poderia ter aparecido para comentar os resultados do PISA e nem vê-lo. Tendo sido a educação uma das maiores batalhas dos Socialistas, é de estranhar.

Porém, podemos dizer que a oposição feita por Manuela Ferreira Leite e Pacheco Pereira é forte o suficiente para podermos, pelo menos, sentir que não estamos sozinhos. Muito pelo contrário.

Numa altura em que se fala tanto de consensos, parece-me que há um indício claro de consenso na sociedade portuguesa: o governo é mau e o PS não é alternativa. Mas, não desesperemos. Há uma alternativa. Porque o grande consenso nacional pedido pelo Presidente da República existe num país que está contra a forma mesquinha com que uma nova mentalidade política europeia ataca as instituições nacionais, a soberania e a dignidade dos portugueses. Tem aí um consenso, vossa excelência. Pode aproveitar e dissolver a Assembleia da República e mostrar ao governo liderado pelo inenarrável Passos Coelho que nem o seu próprio partido está com ele. Que este não é o país que queremos.

29
Nov13

esquerda, direita, volver

jorge c.

Já não nos víamos há algum tempo. O único contacto que temos tem sido feito, claro, pelo Facebook, onde eu vou postando freneticamente, entre canções, manifestação política ou divulgação de outras matérias. Ele raramente interage, manifestando-se de vez em quando numa ou outra música, ou quando assinalo a memória de personalidades mais ligadas à direita. 

Desta vez, encontrámo-nos, no meio de outros amigos. A noite ia longa, tal como a amizade. A conversa foi seguindo e, inevitavelmente, caiu na política e no estado actual das coisas. De repente, vejo-o nervoso com o meu discurso e tento acalmar o tom para que se perceba o que estou a dizer com lucidez e clareza. Ele não aguenta e desata num disparate. Que eu agora sou comunista, que a esquerda é que nos meteu aqui e eu sou o idiota útil deles, agora, e que desde que fui para Lisboa isto e aquilo e aqueloutro. E por aí fora. Disparou com o que lhe estava entalado há algum tempo e que por sabe-se lá o quê, nunca quis discutir.

Esta conversa não é uma surpresa. Ao longo dos dois últimos anos, tenho sido acusado - é esta a palavra - de ser de esquerda por estar contra a conduta de um Governo de direita. Também pela esquerda, sou afavelmente recebido como uma nova aquisição. Para a esquerda, sorrio. Para a direita, mando-os estudar. A direita hoje padece de cultura e de esclarecimento. É ignorante, preconceituosa e pouco esclarecida. Para além de, muitas vezes, ser oportunista e taticista.

Não pretendo fazer aqui qualquer declaração de interesses sobre as minhas escolhas ideológicas. Era o que me faltava. Porém, há uma questão fundamental no meio de tudo isto que urge esclarecer, porque a luta política é cada vez menos esclarecida e auto-crítica. 

A coerência ideológica existe porque as pessoas se mantém fiéis a um conjunto de valores e princípios. Acima desses valores e princípios ideológicos, existem, ainda, outros mais importantes, como a dignidade humana, a liberdade, a igualdade, a solidariedade. A verdadeira incoerência reside em nos afastarmos destes princípios por oportunismo ou circunstancialismo partidário. O resto é mantermo-nos fiéis ao tipo de sociedade em que acreditamos e que juntos, democraticamente, aceitámos construir. Este é o maior valor que temos - a comunidade e o outro.

Portanto, será errado pensar que a minha deslocação foi feita para a esquerda. Em rigor, eu mantenho-me no mesmo sítio. Quem mudou foram aqueles que deixaram de colocar valores e princípios à frente do preconceito ideológico, da fantasia pseudo-liberal e da politiquinha de corredor.

No dia em que o nº2 de Durão Barroso (não sei se estão recordados deste senhor, que ia ser o nosso homem em Bruxelas) diz que é importante baixar salários para atrair investimento, com a maior das canduras, este é um assunto sobre o qual devemos reflectir para decidirmos de que lado é que vamos estar. Eu apenas decidi o meu com a minha consciência.

15
Out13

uma república de bananas

jorge c.

Há uns anos, quando o mercado português deixou de responder aos objectivos das empresas e a crise das dívidas estrangulou o seu financiamento, Angola passou a ser um destino necessário. Com a arrogância dos países desenvolvidos, partiu tudo em comitiva, mas para beijar a mão de um novo padrinho que abria as portas do seu país. O deslumbramento criou uma dinâmica de curto-prazo que não percebeu que, um dia, a fonte secaria. Angola tinha um interesse e Portugal uma necessidade. Por mera lógica, percebia-se que havia tudo menos convergência de interesses. Primeiro, era o dinheirinho que já não podia sair de lá. Depois, o recrutamento passou a ser feito com exclusividade para cidadãos angolanos a estudar em Portugal. Mas, não, Angola é que estava a dar.

Agora, é o Presidente Angolano que vem dar por terminada esta "parceria estratégica" (expressão caricata). Mãos na cabeça e ai jesus.

Se tivéssemos um Presidente da República, um Primeiro-ministro e um Ministro dos Negócios Estrangeiros, esta questão estaria resolvida. Mas não temos. E, assim, tenho de concordar com um amigo que no outro dia me dizia que vivemos numa República de Bananas. Somos subservientes a um país que tirou proveito da nossa necessidade e fechámos os olhos a atentados a direitos humanos básicos.

É esta prevalência da economia global sobre a vida em sociedade, a vida política dos povos, que nos está a matar. E o Primeiro-ministro já nos veio alertar para a perda de soberania. Os bananas somos nós.

12
Fev12

A nossa vida

jorge c.

A situação vivida, por estes dias, na Grécia, fez-me pensar como seria uma revolução no contexto da União Europeia. Poderia ser uma excelente obra de ficção: imaginar o povo europeu, em uníssono e em plena convergência de interesses, a rejeitar um poder que agride a sua paz social com imposições que excedem as suas possibilidades e que ferem a sua soberania. Os povos genuinamente solidários.

De que vale um projecto europeu que não se assume federalista e que ilegitimamente se impõe às soberanias? De que vale um projecto europeu que não dignifica, nem respeita a natureza da democracia e funciona, apenas, sob o primado da intransigência orçamental?

Quando um credor prevarica o agravamento da dívida, entramos no campo da usura. E por mais que eu acredite que os Estados têm de cumprir com as regras que subscreveram, há coisas muito mais importantes para salvaguardar. Nós, por exemplo. A nossa vida.

11
Mar11

Presente e Futuro

jorge c.

"A zona euro continua a ser uma coleção dos Estados soberanos. Esse é que é o nó da questão."

 

Esta conclusão está lá bem no fundinho deste artigo e é, só por si, um artigo. Mas é interessante lermos o que se está a discutir em toda a Europa e observar a discussão ao nível pátrio. É claro que o Governo português tem razão quando diz que é de um provincianismo atroz discutir uma moção de censura sem referir o peso maior da crise internacional e a situação político-económica da União Europeia. Lemos e percebemos que há decisões políticas a tomar. Chegamos a um ponto em que o federalismo europeu tem de ser trazido à colação, de vez.

Para mim, enquanto soberanista, é difícil entrar neste assunto com imparcialidade, mas com o cenário actual só se pode enfrentar o bicho de caras. Há interesses superiores. O federalismo é uma solução. Mas, haverá outras soluções? Eu julgo que sim, que absorver politicamente o destino económico e social da União Europeia passa por ingerir na cultura e nos costumes de cada Estado-membro. É inevitável. E quando falo de cultura falo em todos os instrumentos industriais de fabricação - chamemos-lhe assim - cultural. Por isso tem de existir uma solução alternativa. Mas, isto seria uma outra discussão.

É importante agora compreender o que se vai passar no Conselho. Soubemos hoje que a Comissão Europeia está satisfeita com as medidas tomadas pelo Governo português, o que é um bom sinal nem que seja por uma questão de autoridade moral face aos nossos parceiros europeus. Nós fizemos a nossa parte, agora façam vocês a vossa. É tempo de parar uma pressão dos mercados que deixou de se justificar e que já não está ao nosso alcance responder.

Contudo, não se pode falar de Europa para umas coisas e negá-la noutros aspectos. A situação a que Portugal chegou talvez fosse evitável se o Governo tivesse percebido a tempo (em 2008) que era preciso interromper algum investimento e tomar algumas medidas de precaução. Não por causa dos assustadores mercados e do risco abstracto a que nos colocam agora mesmo, mas antes porque tinha um compromisso formal na contenção de contas públicas assumido com todos os Estados-membros, nomeadamente os limites do défice. A responsabilidade do Governo, nesta matéria, reside precisamente aqui. E não se pode esconder esta realidade com o argumento da "crise internacional". É uma desresponsabilização que tem de ser bem colocada em cima da mesa. Porque senão era escusado termos Governo. O problema é que isso seria dar razão a Manuela Ferreira Leite. Uma chatice.

Temos então três tópicos em cima da mesa: a responsabilidade interna do Governo; a resolução imediata do problema da dívida; e o problema nuclear do sistema político europeu.

13
Set10

Bodin is dead, baby. Bodin is dead.

jorge c.

Pouco ou nada se falou na necessidade de, a partir de agora, o Orçamento de Estado ser aprovado por Bruxelas. Talvez não seja um assunto muito sexy, mas ainda assim custa-me que em pleno centenário da República não se discuta amplamente um dos princípios estruturantes da Constituição da República, anteriores a ela própria, ou seja, da Carta Constitucional de 1822 - o Princípio da Soberania Popular.

Portanto, se bem entendemos, o que se passa é que para o nosso orçamento ser aprovado, ele terá de ir a Bruxelas receber autorização. Portanto, pessoas em quem nós não votamos vão decidir sobre a gestão dos nossos recursos e da sua escassez. Se isto não é uma ingerência consentida, então não sei o que é. Gostava de compreender o júbilo de alguns.

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