My own personal cântico negro
Ao fundo, a histeria de campanha. Fico à porta a ver o que se passa, como o homem que chega a uma festa, só de passagem, e tenta dizer qualquer coisa lá para dentro. Cuidado com o barulho! E do outro lado não se ouve e diz-se qualquer outra coisa parcialmente a ver com o tema geral dos acontecimentos. É a conveniência da embriaguez. Desculpem interromper. Volto, então, este Domingo a outras leituras, a outros sons. Passo os olhos nas revistas online que os senhores fazem o favor de nos facilitar. Gosto deste sossego exilado.
Há quem diga que somos um povo alegre por causa do folclore. Outros que somos um povo triste, por causa do fado. Esta indefinição forçada pelos lugares comuns da idiossincrasia popular é muitas vezes reveladora da forma como nos comportamos, como nos relacionamos e como fazemos auto-crítica. É o determinismo do "ai, eu sou assim" e quem disser o contrário não sabe nada, é arrogante, é snob, é demasiado novo, é demasiado velho, enfim, é demasiado qualquer coisa.
Não sei o que os portugueses são, nem me atrevo a traçar perfis generalistas. Sei, no entanto, que há sempre um clima de ressentimento no ar, que alegria muitas vezes é apenas aparato sem profundidade, sem verdadeiro prazer pela harmonia, como quem sorri por reflexo e não por vontade própria. Sei que a tristeza não é muitas vezes senão falta de atenção ou de afirmação, que a rotina e a as suas vicissitudes não são suficientes para uma dor que se tenta vender aos outros, numa vitimização que é quase um distintivo de rua. Porra, toda a gente tem problemas. É a vida! Sei que a cada conversa, a cada discussão, a cada desabafo há um clima de guerra, de se olhar o outro como um inimigo - alguém que nos quer mal, que quer mal - e eu não quero ser maniqueísta.
Fico por aqui descansadinho a ler poesia, crazy 'bout my baby.