Nos olhos de Wenders a cabeça da Bausch
Procuramos sempre alguma coisa. Um telemóvel, uma cerveja, uns trocos, uma palavra, uma linguagem, um amante, a memória, a vida, a morte. Em cada momento da nossa procura o nosso corpo reage. Pina Bausch procurava a expressão do corpo, a reacção do corpo e a criação da linguagem que o corpo pode exprimir em reacção à procura. Mas não é da Bausch que quero falar e sim de Wenders.
Apaixonei-me por Wim Wnders há muitos anos quando o encontrei na sua História de Lisboa (prefiro a tradução literal). Fiquei viciado no discurso de Winter, no seu realismo sobre a arte e sobre o homem, aquele fool on the hill. Desde então não parei de o visitar para trás e para a frente. Porque Wenders também procura a reacção e aquele silêncio intimista que está na inquietação dos homens e tudo o que os faz reagir.
Nunca esperei vê-lo em cima do palco a filmar para 3D cada gesto, cada movimento que vivia desenhado na cabeça da Bausch. Foi como um bailado perfeito entre os dois. Agora, ali mesmo à nossa frente, mesmo no último dia de exibição, estava tudo isso perfeitamente filmado e documentado para sempre. Para nós, como quem diz: tomem o pormenor que nunca puderam ver.
Obrigado.