Lixo
Ouvi há pouco Vitor Bento dizer que adjectivar as agências de rating, sem apresentar dados concretos que as contrariem, de nada vale. Os portugueses reagiram como se de um ataque patriótico se tratasse, mas não sabem se o seu Estado tem ou não capacidade para pagar a sua dívida. É verdade que as agências de notação financeira têm uma história recente que as descredibiliza. No entanto, ninguém nos garante que estamos em condições de responder às nossas responsabilidades. Sabemos que um plano de austeridade deveria acalmar os mercados ou, pelo menos, deveria dar-nos algum tempo para tranquilizar os nossos credores. Mas, também sabemos que esta austeridade é incompatível com o crescimento económico.
Os principais partidos portugueses têm-se atacado mutuamente, como se esta guerra fosse local, fosse entre a esquerda e a direita. Gente estúpida. O PS acusa o PSD de ter mudado de postura e de só agora criticar as agências de rating. O PSD acusa o PS de ter conduzido o país à bancarrota. Ambos ignoram a realidade.
Por um lado, o PS faz de conta que, enquanto esteve no governo, esteve sempre dentro do assunto. Ora, se o PEC 4 era o que estava no programa da troika, então o PS também aplicaria austeridade e esse mesmo PEC significava que os socialistas também não estavam seguros da capacidade de resposta. Seguindo uma política de austeridade, os socialistas também iriam travar o crescimento (que é o que defendem), mas certamente continuariam a discursar sobre "o problema sistémico do euro" como se nos últimos 6 anos não estivessem no governo e, como tal, dentro da discussão europeia. Conversa fiada e desonestidade intelectual - bem-vindos ao partido mais sectário do país.
O PSD na sua total ignorância das questões internacionais, como se viu ao longo da campanha, em que nem sequer no assunto tocou, vem agora abrir a cara de espanto por causa das agências que tanto o ajudaram a chegar ao governo. As reacções que se ouviram por aí são de uma indignação patriótica bacoca, serôdia, e de total incompreensão do que se está a passar. Bem-vindos ao partido menos preparado para governar do país.
Sei muito pouco de matéria financeira e económica. Mas, há uma coisa que ainda sei fazer: juntar dois mais dois.