O trigo e o joio
Gosto de Francisco Assis. Gosto, sobretudo, do orgulho e da coragem com que afirma ser um político. Assis tem uma noção da política que me é muito cara, não obstante o que nos separa ideologicamente. Acima de tudo, é uma visão ampla da política, sobre a estrutura e instrumentalidade do debate político.
Estas eleições internas do PS são, por isso mesmo, bem mais interessantes do que as que opuseram Sócrates a João Soares e Manuel Alegre. A sua principal tónica está naquilo que distingue um bom político de um político ligeiro. É um frente-a-frente entre a política inteligente, estruturada e de conteúdos e a vacuidade e futilidade do aparelhismo medíocre de que António José Seguro é, hoje, um rosto visível.
Não que o debate actual do PS seja interessante mas, há algumas discussões que podem ter uma enorme relevância para pensarmos melhor o tipo de política com que queremos viver. E não estando muito certo de que a proposta de Assis para primárias dentro do PS seja viável, é, no entanto, uma excelente discussão porque nos permite questionar quais as melhores formas de promovermos a participação e a cidadania ou, até, de termos noção dos índices de interesse que os cidadãos revelam. Contudo, não posso deixar de recear um resultado contraproducente e o caminho para o triunfo descontrolado do populismo. Teoricamente, a ideia é boa, admito. Na prática, pode ser um problema sério.
Outra questão levantada por Assis é a da afectividade. Pego aqui num post do Serras, por falta de link para as declarações de Francisco Assis que acabei por não ouvir. É cada vez mais importante demonstrar que a política não é um jogo de afectos. É certo que nos devemos empenhar. Mas, que isso nunca se confunda com afectividade, com emoções que, como o próprio diz, fazem parte de um universo privado, de relações pessoais sujeitas a outras regras. Nos últimos anos, isto tem destruído o debate político.
O Partido Socialista só tem a ganhar com Assis e a direita teria aqui um desafio muito interessante e um contributo para melhorar. Porque é também com os nossos adversários que aprendemos, para mal e para bem.