History Repeating
Aquando das eleições, previ que uma inversão de papeis no poder, entre as claques, seria um dos factos mais cómicos da alteração governativa. Ora, é vê-los. É de perguntar: como é que é possível? Como é que se consegue virar o discurso do avesso, com as costuras a verem-se, sem pestanejar, com o maior dos descaramentos, e chamar a isso "combate político"? É incompreensível. Ver amigos a sujeitarem-se a esse papel, quando os respeitamos e nos dispomos a discutir com eles por acreditar que vale a pena, é ainda mais constrangedor.
Mas, este desabafo não se perde no desgaste da desilusão. Há algo mais importante que esta tontice do descaramento sectário. A presença de um governo à direita levanta sempre uma nuvem de pó que roça a falta de bom senso. Temos (plural majestático) chamado a isso a diabolização da direita. Vem aí o grande monstro que vai acabar com o Estado Social. Ora, o Estado Social não é uma coisa estanque. Diz-se isto como se o Estado Social fosse a democracia em si e por si. Sejamos mais objectivos e focados: defendemos uma democracia, logo, o seguimento das políticas governativas não é um ataque a nada. O Estado Social tornou-se o dogma do séc. XXI. É escusado apelidar as pessoas de salazarentas só por causa disso. Parece-me excessivo, sei lá. Infantil, diria.
Por outro lado, a concentração da austeridade (que é assim que agora se chama ao artist previously known as "medidas impopulares") no cidadão de bem, comum, de bom aspecto, não é uma boa causa para reduzir gorduras, como se diz por aí. Se o Estado é gordo, façam-lhe um programa de emagrecimento com exercício e não lhe ponham uma banda gástrica.
Este período que iremos viver nos próximos tempos será insuportável. A austeridade sentir-se-á menos do que a histeria. Não contem comigo.