Queixume e ressentimento
Fará o queixme parte dos nossos costumes? Sabemos que é, pelo menos, um vício. Eu queixo-me do braço, o meu vizinho queixa-se dos dois e um terceiro queixar-se-á do corpo todo. É um vício de competição de mau-estar. Nos locais de trabalho, nos grupos de amigos, em conversas de café, as pessoas competem por horas de sono dormidas, número de horas a trabalhar, horas de almoço perdidas, acumulação de trabalho. Persiste a ideia de que o nosso mau-estar é sempre maior do que o dos outros e, até, que há quem se queixe de nada, supomos. Pois o problema não está no queixume. É bom que as pessoas se queixem. Se não nos queixarmos, ninguém conhecerá os nossos limites. Porque os nossos limites não são todos iguais. Há quem fique bem com 4 horas de sono e há quem precise de um sono de beleza de 8 horas (como eu). Há quem tome café e aguente o dia, há quem não o faça e prefira dormir. Há quem passe o dia sem comer e outros há que precisam de se manter alimentados. Somos todos diferentes. E quando os limites são ultrapassados, é tarde de mais para ficarmos surpreendidos. Daí que competir não é um bom princípio. Agravamos o ressentimento, o nosso e o dos outros, numa espiral negativa muito mais grave que a desse mau-estar - a da nossa convivência.