Da indignação
As novas medidas de austeridade anunciadas ontem pelo Primeiro-ministro foram motivo suficiente para se confundir uma manifestação com natureza internacional com uma indignação política local.
O que esta confusão provoca é uma descredibilização reivindicativa, porque dispersa. Apesar de intuitiva - e daí "indignação" - não deixa de existir uma instrumentalização antropofágica, em que os diferentes cadernos reivindicativos se aproveitam um dos outros para ganhar dimensão.
O grande erro desta manifestação é, precisamente, a confusão entre o desagrado com uma situação de crise internacional com o conflito políítico-partidário. As manifestações não são um fenómeno teórico mas, antes, aquilo em que se transformam. E esta transformou-se num protesto anti-governamental, mais uma vez, desvalorizando o valor da Assembleia da República e da democracia representativa.
Volto, porém, a dizer aquilo que disse a 14 de Março deste ano: o Governo não pode ignorar a insatisfação social. Um país não é uma empresa.