O despudor total
Já aqui falei na característica que julgo ser fundamental num político - a conduta ética irrepreensível. O problema de Ricardo Rodrigues é que toda a sua conduta, desde o mais básico relacionamento com os outros deputados, passando pelo passado duvidoso, é a de alguém que deixa muito a desejar nesse capítulo. O episódio dos gravadores da revista Sábado é apenas revelador da forma peculiar que o deputado tem de lidar com os factos.
Depois de ter visto a Justiça dar razão a um jornalista que numa crónica acusou esse tal passado duvidoso, o deputado sujeitou-se a uma entrevista que já deveria saber como se iria processar, visto que a sua colega de bancada Inês de Medeiros já havia sido submetida ao mesmo. Mas a questão nem é essa.
A partir do momento em que aceitou ser entrevistado, sabendo de antemão que aquilo que em parte o tornou numa personagem mediática foram as suas aparições caricatas e processos judiciais, e tendo a obrigação de perceber a decisão dos tribunais acerca do seu envolvimento em determinadas circunstâncias, o deputado ou responde ou não responde e vai-se embora (sem levar nada que não lhe pertença, de preferência). Não estamos a falar numa reportagem que lhe fere o bom nome. Não estamos a falar de um ataque pessoal baseado em acusações difamatórias. Estamos a falar de uma entrevista.
Não lhe bastando a inenarrável atitude de se apropriar dos gravadores, Ricardo Rodrigues ainda vem dizer que foi "vítima de violência psicológica". Mas que violência psicológica? Achará o Dr. Rodrigues que o escrutínio público da sua conduta ética é ilegítimo? Se acha, então que não aceite ser entrevistado, que se afaste dos holofotes e que, de uma vez por todas, tenha o decoro de não vir dizer disparates para justificar o injustificável.
Isto começa a tomar proporções incomportáveis e é cada vez mais notório que se perdeu a noção do que está certo ou errado. Demita-se imediatamente.