O grande taxi do inferno
O problema da petição pela moralidade não é o seu grau de moralismo mas, antes, a altura em que surge. Como diria Frankie Pentangeli, em O Padrinho II, nunca deveriam ter deixado Hitler sair de Munique. Uma crise financeira é propícia a estas romarias dos arautos da "crise de valores" e isso pode tornar-se muito perigoso. É uma caça às bruxas. Conhecemos bem as consequências mais graves destes circos.
O populismo moralista é um perigo numa sociedade livre. Ele parte de um fenómeno demagógico, de uma adulteração dos factos para galvanizar a preponderância popular. A sua linguagem é sempre muito próxima da íntima desconfiança das pessoas. Liga-se, com facilidade, à sua condição de eleitor, sem influência directa nas decisões políticas, nos tribunais, etc. "Tudo uma cambada". Alimenta-se, assim, a sensação da sua impotência e da impunidade dos outros.
Não quer isto dizer que essa impunidade não exista. Não quer dizer que as instituições estejam, ao dia de hoje, a passar o seu melhor momento de credibilidade. Não estão. Porém, uma generalização é o primeiro passo para a tolerância de uma liberdade condicionada.
Mas, o moralismo tem sempre um lado cómico. Lembrar-se-ão, certamente, de Charles Foster Kane, da sua declaração de princípios e da sua tentativa de incursão no Senado. Mesmo assim, parece que não aprendemos; que nos deixamos dominar por esse impulso irracional do justicialismo. Talvez seja falta de amor ou, simplesmente, má-fé intrínseca.