é a economia, estúpido
Alguém dizia, há uns dias, que quando em tempo de crise se fala à carteira das pessoas, há uma imediata aceitação do discurso. É a isto que chamamos populismo.
Mas, para além do populismo habitual e perigoso de moralistas como José Gomes Ferreira, Camilo Lourenço ou o Pato Donald, há um discurso, noutra linha, também ele perigoso e que já conduziu o país a 40 anos fora dos mercados (do mercado da liberdade, da igualdade, da democracia, etc.). É o discurso da prevalência da economia, que nos diz que a sociedade corre por motivos económicos, como uma finalidade.
O objectivo de um sistema como a social-democracia, e por ter nascido no pós-Guerra, é tornar evidente que as democracias são regidas pela política, pelo interesse público e pela necessidade de paz e harmonia social.
Quando a construção de uma nova narrativa passa a desenhar a finalidade financeira e económica, então sabemos que nos estamos a desviar do objectivo inicial. A única forma que um discurso sobre a prevalência da economia tem de triunfar é através da coação, da imposição, da negação de liberdades individuais e colectivas, do empobrecimento estrutural do país. Ao aceitarmos empobrecer, aceitamos não nos desenvolver, porque o empobrecimento pressupõe desigualdades mais abrangentes, como se viu no Estado Novo.
Por isso, sempre que me falarem de superavits, de cortes na despesa e de pagamento da dívida, cantarei a Maria da Fonte.