o dilema americano
Invejo aqueles que, sem hesitar, tomam uma posição muito assertiva sobre os assuntos da vida e, em particular, sobre intervenções militares. É uma zona confortável. Assim que descobrimos a nossa posição, defendemo-la incondicionalmente. Até à morte.
Eu tenho os meus dilemas.
Há mais de um ano que olhamos para uma Síria de punhal cravado no peito. Vemos imagens, lemos e ouvimos relatos. Sobre o que ali se passa, não restam dúvidas: um desastre humano. Depois, vem o divisionismo. Ora que são um povo orpimido por um ditador, ora que são terroristas opositores que provocam a opressão do regime. Entretanto, o genocídio.
Na América do Norte, o mesmo dilema, mais ponderado que noutros momentos: o que fazer? O Direito Internacional é tão claro, quanto ineficaz, no que respeita à ingerência de terceiros em assuntos internos; as Nações Unidas, uma comissão da boa-vontade incapaz de restaurar a ordem no Intendente ou no Bairro da Sé do Porto.
Tal como bem definiu Robert Kagan, é na dicotomia poder/fraqueza que se encontra o ónus da acção. Os EUA têm capacidade militar (e financeira, já agora) para intervir. A Europa, não. Daí a preferência por duas soluções - a política e a militar. Resta-nos, então, definir o dilema e resolvê-lo. Podemos perguntar o que terá mais valor: a vida humana ou a soberania de um Estado. Se estamos perante a morte de dezenas de milhar de pessoas, não tenho qualquer dúvida - a vida humana.
O meu dilema resolve-se. Porém, não se dissolve. E enquanto isso, o tempo vai passando.