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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

26
Mar10

um rumo

jorge c.

 

Diz o António Parente em comentário aí para baixo que o PSD é um partido sem rumo e sem programa. Eu discordo e ainda bem que ele levanta esse eventual problema porque faltou-me referir um aspecto muito importante da situação actual do PSD: a saída de Manuela Ferreira Leite.

 

Durante dois anos o PSD teve uma estratégia coerente e bem presente no discurso de Ferreira Leite. Apesar disso, o país decidiu ignorar o diagnóstico e as recomendações da líder do PSD e optou por dar mais relevo aos seus problemas de comunicação e de imagem. Não é de admirar, num país que tende cada vez mais para a valorização da superficialidade do que para a compreensão do conteúdo.

 

Não é necessário estar aqui a lembrar que foi Ferreira Leite que chamou à atenção para a necessidade de dar uma resposta mais eficaz e tempestiva aos problemas da maior fonte de criação de emprego em Portugal - as pequenas e médias empresas. Este discurso foi introduzido por esta liderança do PSD no sentido de dar mais força à autonomia privada libertando os particulares do peso excessivo do Estado em todas as decisões do seu quotidiano. O próprio programa do PSD para as legislativas deixava isso bem claro.

 

Ao vazio de liderança no PSD há precisamente dois anos atrás deu-se uma resposta de consistência e consciência política, uma resposta solucionista que o país preferiu ignorar por mero preconceito. Mas sobre o preconceito e a patética diabolização do conservadorismo em Portugal falarei noutra altura. Para já resta-me dizer que lamento o tratamento dado a Manuela Ferreira Leite que, por mais que não fosse uma líder de grande firmeza ou convicção, foi e é uma política de responsabilidade e coerência de princípios estratégicos. Deixará saudades, pelo menos em quem não encara a política como uma guerra identitária.

25
Mar10

a fava certa

jorge c.

A menos de 24 horas das eleições para o PSD, chego ainda a tempo de dizer qualquer coisa. Muita tinta foi derramada por causa desta corrida à liderança do partido. Também houve vontade de sangue. No espaço de um mês disse-se tanto e tão pouco sobre aquilo que é o PSD e os seus candidatos que custa a acreditar que vivemos todos no mesmo país. É mais fácil acreditar que se vive no país que convém de semana para semana a cada qual. Julgo que não é por mal que se faz tanta análise distorcida. É apenas a histeria habitual dos actos eleitorais em Portugal que ganha contornos de arena romana ou circo sul americano.

 

Não é a primeira vez que o PSD está tão mal servido de candidatos à sua liderança. A disputa entre Menezes e Marques Mendes marcou a primeira vez que me senti envergonhado por apoiar activamente um partido político, mas também não vou agora expor as razões que me levam a tal apoio, deixando isso para outra altura. O que me interessa neste preciso momento é manifestar o meu desconforto com a total falta de alternativas de poder. O que está a acontecer com os militantes do PSD é que começaram a nivelar as suas escolhas por baixo. Dos 4 candidatos não há um único que se encontre em totais condições de oferecer aos portugueses uma alternativa sólida e de confiança.

 

Não é de todo compreensível que militantes e apoiantes do PSD que andaram durante uma legislatura inteira a criticar José Sócrates pela falta de conteúdo e pela superficialidade das suas políticas, que condenaram o favorecimento mediático das chamadas "causas fracturantes" em deterimento de questões que se têm revelado hoje de uma gravidade sem precedentes, que se insurgiram contra a política dos resultados deste governo, venham agora apoiar um candidato que preenche todos estes requisitos. Pedro Passos Coelho é uma incógnita porque ninguém sabe que princípios ele vai defender amanhã. Aliás, isso pouco lhe parece interessar porque é o circunstancialismo eleitoral que parece formar a sua vontade política. Um homem que já foi a favor das grandes obras públicas em período de crise e que se dizia, ao mesmo tempo, liberal; um homem que agora parece já não achar o mesmo, tal e qual como a privatização da Caixa Geral de Depósitos; um homem que fez campanha com estas incoerências, durante dois anos, contra a direcção do seu próprio partido. Isto para não falar dos ataques dos seus apoiantes a Paulo Rangel desde a sua apresentação como candidato. É que uma coisa é confrontar projectos políticos e outra completamente diferente é estabelecer juízos de valor e de princípio acerca de alguém de quem se disse precisamente o contrário nem há um ano atrás. Não falo obviamente de Rangel candidato ao Parlamento Europeu, mas acima de tudo do líder parlamentar cuja oratória e capacidade de confrontação ao governo pareciam agradar a todos.

 

Mas nem vale a pena entrar por esta guerra civil entre claques de candidatos porque do lado de Paulo Rangel a coisa não é certamente mais simpática. E nem o maior problema de Rangel é a sua entourage mas sim a oportunidade da sua candidatura. Paulo Rangel é, muito provavelmente, a maior revelação da política portuguesa dos últimos 15 anos. Revejo-me em grande parte da sua forma de encarar a política e o espaço que esta ocupa ou deve ocupar. Mas nem por isso este candidato tem de ser uma boa solução para o partido. Quer-me parecer que a candidatura de Rangel foi imprudente. E essa imprudência pode-lhe custar caro mais tarde quando estiver mais à altura deste desafio que é liderar um partido com aspiração e tendência para governar. Paulo Rangel não tem massa política suficiente para se aguentar, e quando digo massa política refiro-me ao apoio e compreensão ou até mesmo ao conhecimento e reconhecimento dos vários sectores da sociedade portuguesa. A sua ideia de ruptura é muito boa e apelativa a quem se mostra um pouco cansado do estado actual das coisas. Contudo, o candidato tem tendência para abraçar mais depressa a famigerada real politik do que a ruptura com um regime decrépito e corrompido por dentro. Isto não dá, como é evidente, qualquer confiança aos cidadãos, e um político para ambicionar mudar alguma coisa tem de transmitir essa confiança com uma conduta objectiva e inequívoca.

 

Ora, depois destas fragilidades dos dois candidatos, cheguei a acreditar que a candidatura de José Pedro Aguiar-Branco pudesse representar a solução de poder que o PSD necessitava para resolver o problema da saída de Manuela Ferreira Leite. Aguiar-Branco, apesar da inultrpassável falta de carisma, reunia a meu ver uma característica fundamental do agrado do eleitorado do PSD - a defesa do regime tal como ele é, um Estado-Providência sem grandes propostas de liberalização disto e daquilo. O candidato seria a mudança dos valores que norteiam os homens da política. Acreditei, enfim, na capacidade que a sua postura séria e a sua rectidão teriam para renovar a confiança dos portugueses naqueles que os governam. No entanto, Aguiar-Branco acabou por se portar como um garoto e adoptou um discurso que só o tem feito perder apoios, tanto dentro como fora do PSD. E ninguém pode acreditar que alguém que está mais preocupado em discutir chatices com amigos do que discutir programas políticos sirva ao país. Nem sequer aproveitou o conhecimento que tinha das pastas mediáticas como líder do grupo parlamentar.

 

Toda esta campanha assustou pela pobreza de espírito e pela histeria. Não consigo imaginar um líder do PSD assim. Mas digo desde já que não acredito que o próximo líder do PSD seja necessariamente Primeiro-ministro. Isso é wishful thinking. Agora, uma campanha e uma liderança são coisas diferentes. Pode ser que as coisas mudem. É esperar.

25
Mar10

Salvem a Pátria

jorge c.

Nem há tanto tempo quanto isso o nosso Prémio Nobel da Literatura - galardão individual que parece funcionar como uma espécie de orgulho colectivo - afirmou que a Bíblia era um manual de maus costumes com um ar muito espantado. Pois é natural. Saramago estava habituado a estruturas de perfeição sublime como o leninismo, o maoísmo ou até a Cuba de Fidel, que para já não encaixa em nenhum ismo destes mais conhecidos. Ninguém conseguiu explicar ao escritor que a intenção do manual judaico-cristão é mesmo a de mostrar a imperfeição, as fragilidades e as vicissitudes da vida sob o olhar atento de Deus e a mão generosa de Cristo para que o Homem se consciencialize.

 

Será, portanto, um exagero pedir ao Homem a perfeição. Seria, aliás, impossível que a perfeição pretendida fosse constante já que o mundo muda a cada segundo. A vida, José, é irregular e imprevisível. E é exactamente no contexto da diversidade consequente que temos de viver e conviver. A política nasce e orienta-se a partir daí, como um manual de maus costumes. O princípio é "a partir daqui só pode correr pior" e a sorte é que apareça alguém que tenha intenção de fazer um bocadinho melhor. Isto na prática é quase impossível pelo simples facto de a política necessitar sempre de um apoio dos sectores mais relevantes.

 

Também para escrever sobre costumes, política e afins é necessário ter algum apoio. Daí que este blog esteja condenado à partida. Ninguém perde tempo com alguém que não tem sequer uma proximidade relativa em relação aos outros. Sidónio Pais disse "Eu tenho hoje a hostilidade declarada das esquerdas ao mesmo tempo que a falta de apoio das direitas". É como eu. Resta-me o apoio popular e o sorriso do General Eanes.

 

Queria deixar só uma nota final de agradecimento ao Pedro Neves que é o criador deste design moderno e de nível internacional e também à Maria João Nogueira por ser uma pessoa moderna e espectacular.

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