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Às vezes lemos coisas e não queremos acreditar que pessoas com mais de 15 anos são capazes de as escrever.
Tomás Vasques, no Aparelho de Estado, escreve um dos maiores disparates que já alguma vez li na vida. Sem querer entrar aqui em sarcasmos, nem me pôr a gozar com o Tomás Vasques, que bem merecia que alguém o fizesse tal é o disparate, vou tentar explicar-lhe por que razão a contestação ao poder político não pode ser a mesma que ao poder eclesiástico, tão só porque o poder eclesiástico não é escolhido nem diz respeito aos não-crentes.
Enquanto o poder político, em democracia, é escolhido pelos eleitores e tem sempre de responder perante estes, sejam católicos ou não, o poder eclesiástico refere-se apenas aos crentes, a quem professa a religião. Além de que nem sequer é escolhido. Por isso, existe a liberdade de não o aceitar e não comungar das suas orientações. O que têm os não-católicos a ver com o que se passa na Igreja Católica? Ora, parece-me que nada de nada, tirando algo que interfira directamente nas leis civis.
No caso da pedofilia cabe aos tribunais decidirem se estamos perante um acto de cumplicidade ou não, não ao Tomás Vasques que, segundo sei, não é competente para decidir sobre essas matérias. No caso dos preservativos a situação ainda é mais estúpida. Mas o que é que o Tomás Vasques ou o SOS Racismo têm a ver com a não-utilização de contracepção dos católicos? Se os católicos não quiserem usar contracepção o problema é deles. Se isso fizer com que espalhem doenças é um problema do Estado e que o Estado tem de julgar como o faz com todos os outros crimes, a partir da lei e através dos tribunais. Se o católico optar por não ter mais relações sexuais, o problema é dele. Se o católico optar por usar preservativo é apenas hipócrita e, mais uma vez, é um problema seu e de Deus e não do Tomás Vasques. Mas o Tomás Vasques acha que sim, que é, porque no fundo o Tomás Vasques não tem qualquer tipo de respeito pela liberdade religiosa e espiritual e quer interferir na filosofia, na política e na organização de uma instituição privada invocando direitos dos cidadãos que a ela não pertencem. Haja paciência!
Da revolução muitos falam. Desde os burguesinhos de vida folgada aos partidários de Praga. Mas Abril tem de facto coisas verdadeiramente boas, grandes avenidas que se abriram nas cabeças e nos corpos, roupas leves e coloridas. Para mim, Abril será sempre isto:
Aproxima-se o 25 de Abril e com ele uma série de homenagens emocionadas, louvas à liberdade e à democracia. Mas será que os portugueses compreendem hoje estes conceitos? Chega a parecer que não, pois basta uma palavra para se gerar um burburinho típico nas sociedades menos democráticas: conservadorismo. O preconceito em relação ao conservadorismo é hoje excessivo, e é preconceito porque resulta da ignorância e da desinformação. Dizer que uma instituição ou um cidadão é conservador é quase sempre usado em sentido perjurativo como algo que não cabe na democracia, como algo relacionado com a ditadura, como se república, democracia e progresso fossem três sinónimos. Não são. Pois só quem milita no pensamento único, na ideologia única pode acreditar nisso e isto é tudo menos espírito democrático.
Num Estado providência como aquele em que vivemos, a imposição moral de uma ideologia única seria anti-democrática. A liberdade em democracia importa a diversidade de ideologias e a sua convivência em debate. Se essa liberdade propiciar algo que seja violador da lei, então temos meios para julgar essa violação. Não é portanto por discórdia que vamos renunciar à liberdade do outro se poder exprimir, nem tampouco à sua legitimidade para discutir ou ter uma voz presente na condução da democracia.
Não compreender isto é não compreender o significado de democracia.
Nunca compreendi muito bem a lógica dos conceitos corrupção passiva e corrupção activa, pois se activo, activo é quem recebe o suborno e desta forma procede de modo a beneficiar o outro. O que acontece, portanto, é uma activação do processo de corrupção: eu aceito dinheiro e activo todo o processo a partir daí tirando partido da minha posição privilegiada para o fazer. Tudo o resto é arranjar bodes expiatórios. Não posso punir mais severamente quem disponibiliza o suborno, mas sim quem o aceita. A lógica coerciva da lei até deveria ser essa porque se não houver quem aceite o suborno a oferta deixa de fazer sentido.
Já estão disponíveis na coluna da direita duas listas de links de media (nacional e internacional) e que servem mais para me facilitar a consulta diária do que propriamente para mostrar o meu grau de modernidade. Sou moderno e informado, é verdade, mas mais do que isso sou desorganizado e isto ajuda muito. As listas sofrerão alterações com o tempo, claro.
E no mesmo sentido, foram acrescentados mais dois blogs à barra lateral. Aqui é assim, primeiro acrescenta-se à barra lateral e depois sugere-se. Manias. São, de facto, dois blogs muito interessantes. O 2711 é um bom blog de actualidade, directamente da invicta. The Last Nan Ban Jin é um interessante blog de um português no Japão - uma excelente janela. Passem por lá, não se armem em pretensiosos.
Há por aí uma moda de achar que o facto de alguém garantir que vai recorrer a tribunal para se defender de difamação, injúria e afins, significa logo que esse cidadão está inocente. Ora, nem mesmo que a sentença seja favorável ao arguido se pode dizer que é difamatório afirmar que este esteve envolvido em certas actividades visto que, in dubio pro reo, absolve-se a criatura. Isto não significa que não haja factos concretos e provados que aproximam aquela pessoa de certo envolvimento menos transparente e que põem em causa, no caso de se tratar de uma figura com responsabilidades políticas, a sua posição ética perante o organismo que representa.
Esta conversa toda para dizer que esta notícia sobre o dr. Ricardo Rodrigues já não espanta ninguém. O deputado do PS, para além dos truques que usa para branquear os resultados das comissões parlamentares que integra, para além da sua conduta medíocre em relação aos outros deputados com um moralismo absolutamente hipócrita, tem o desplante de participar activamente na comissão de ética. O que lhe falta, em rigor, é vergonha na cara, coisa que já deve ter perdido há muito tempo.
Quando surgiu a história do igualmente execrável António Preto, a opinião pública não teve dúvidas na acusação que lhe foi feita, mesmo antes deste ser julgado. No entanto, em relação ao deputado socialista há um silêncio cúmplice que chega a ser assustador. Não posso deixar de notar que a conversa da insídia e do ataque pessoal, tão amplamente divulgada por José Sócrates, resultou tão bem que agora qualquer coisa que aconteça aos senhores do Partido Socialista é um ataque pessoal. Estamos a ser complacentes com esta gente por causa de uma guerra civil política - larvar, como disse e bem Irene Pimentel -, de uma necessidade de certas elites se manterem na mó de cima protegendo o partido que lhes garante conforto ideológico e emocional e ignorando voluntariamente aquilo que deve ser a característica fundamental de um deputado - conduta ética irrepreensível.
Sem querer entrar muito neste tema, mas sabendo que tem relevância no panorama dos direitos fundamentais, queria apenas dizer que a proibição tout court do hijab é uma medida pouco sensata. Se por um lado esperamos que a lei vigente nos países para onde se imigra seja respeitada, que a cultura ou religião não interfira nem colida com as leis civis, por outro lado espera-se dos Estados livres e plurais o maior respeito por outras culturas e religiões. Este equilíbrio é fundamental. Uma proibição neste capítulo não demonstra esse equilíbrio, não é cuidadosa, porque vai apenas avaliar a própria proibição e não a génese da convivência no espaço público. A Europa não é detentora de uma verdade universal e isso vê-se pelo estado a que chegaram parte substancial dos seus países.
O perfil do novo governador do Banco de Portugal, no Jornal de Negócios.
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