Na mesma semana em que se discutiu um hipotético candidato alternativo à direita, o PS decidiu-se pelo seu apoio a Manuel Alegre. Apesar de ponderado e cauteloso não deixa de ser extemporâneo. Demonstra-se que o PS não tinha nenhuma alternativa, mas que para a esquerda até um burro com uma placa a dizer "candidato" servia para derrubar o seu maior ódio de estimação desde o 25 de Abril: o terrível monstro-conservador Cavaco. Como tal, Sócrates percebeu que o melhor seria apostar neste apoio. Para além disso, a semana confirmou-lhe um certo desagrado em relação a Cavaco. Porém, esse desagrado pode ser falso e o actual Presidente da República pode ser reeleito com alguma folga, como previsto.
Mas, isto dos cenários é coisa para a rapaziada do teatro e do cinema. A realidade e os factos, para já, dizem-nos apenas uma coisa: o apoio à candidatura de Alegre é frágil e só ganhará com o voto útil contra Cavaco. Alegre é um mau candidato, mas isso para o sectarismo é indiferente.
Manuel Pizarro dá esta entrevista caricata ao Público onde, entre muitos disparates e pantominices, declara ser favorável a uma fusão das três principais cidades da zona do Porto que incluem a própria cidade, Matosinhos e Gaia.
Manuel Pizarro, como costuma dizer o Dr. Rui Rio em relação a outras questões, está na estratosfera. Só alguém que desconhece em absoluto a identidade destas três cidades pode afirmar algo do género. E isto só para início de conversa. Não faz qualquer sentido afastar as comunidades da sua natureza para as fundir. A identificação com o território é um princípio cultural e civilizacional básico para a maior estabilidade da comunidade.
Com efeito, é em comunidades pequenas e que se identificam com esse território próprio que se encontra a parte substancial da solidificação comunitária. A região do grande Porto pode valer-se como imagem externa como um todo. No entanto, as características individuais de cada cidade é que marcarão directamente o interesse e os pontos de desenvolvimento.
Do ponto de vista administrativo, se já é difícil promover o melhor desenvolvimento de pequenas freguesias espalhadas por estes concelhos, imagine-se numa mega cidade-concelho onde a concentração de poder seria maior, tal como a probabilidade de se deixar as zonas mais pequenas secarem.
O PS no Porto não existe. Como não existe tem estes espasmos para fazer de conta que disse alguma coisa, lançando uma discussão imbecil numa região que precisa de outros tipos de coesão.
Vasco Campilho parece estar muito entusiasmado com os resultados de uma sondagem que dá quase maioria absoluta ao PSD. Pois eu não sei se isso será assim tão positivo.
O problema com estes resultados, nesta altura precisa, é que eles evidenciam uma consequência política e não uma necessidade. Se fosse uma necessidade não seria o PSD de Passos Coelho a estar em tal destaque já que, como temos vindo a ver, não obstante a assunção de partilha de responsabilidades que lhe competia, o líder do PSD tem sido calculista no sentido eleitoral. Assim foi com o TGV, assim foi com a comissão parlamentar de inquérito e assim tem sido relativamente a inúmeras matérias das quais se destaca a matéria de impostos.
Ora, nós não necessitamos de um Primeiro-ministro que seja politicamente calculista. Nós necessitamos de alguém que tenha total convicção no que está a fazer e não esteja tão preocupado com o modo de o fazer. Nós necessitamos de firmeza na liderança e não de plasticina política moldável ao sabor das circunstâncias.
Tudo o que acontecer será, então, uma mera consequência das circunstâncias e não uma afirmação convicta da vontade soberana. Será apenas cansaço, o que não contribui em nada para a consciência.
Se o Vasco fica satisfeito pela vitória através do cansaço, eu não.
O Luís é, de forma extremamente heterossexual, o snob mais delicioso que eu conheço. You gotta love this man.
Este texto do Rui Tavares esclarece muita coisa. Numa altura de crise, este populismo anti-político é perigoso. Dizem-se coisas sem pensar nas suas consequências porque tem de se culpar alguém. A redução de deputados e ministérios é um exemplo claro disso. É histeria pura.
No início da semana foi Marcelo Rebelo de Sousa. Agora, vem o Dr. Mota Amaral, na sua pose de senador da mula russa, garantir que se deve reduzir o número de deputados por razões "morais e financeiras". Continua-se a fazer política como quem brinca aos legos: tira daqui e mete dali e está resolvido. Não só a proposta está revestida de demagogia centralista como também não faz qualquer sentido no plano de actividade parlamentar como eu já havia referido. Volto a repetir, contudo, que o problema dos deputados não é quantitativo mas sim qualitativo. Se calhar se o Dr. Mota Amaral não estivesse tão preocupado em fazer do congresso do PSD uma espécie de baile de debutante para uma pessoa próxima, poderia muito bem ter discursado sobre a fraca qualidade dos nossos políticos e, em particular, dos deputados. Mas se calhar isso não convém ao presidente da CPI PT/TVI. O Regime tem de sobreviver. Quantos menos forem, melhor é para controlar. Veja lá se as questões "morais e financeiras", assim mesmo entre aspas, não são outras.
O descaramento desta gente...
Por aqui perde-se a cabeça facilmente com as modas. Modinhas. De repente, de algo extremamente banal faz-se a melhor coisa do mundo. Veja-se o caso desta bandinha que apareceu agora como se fosse a oitava maravilha do mundo – The xx. Não há explicação para o hype. A verdade é que já vimos isto acontecer com um sem-número de outras bandas. A New Musical Express (NME), por exemplo, costuma vomitar listas infindáveis de next big things todas as semanas. Em Portugal, os saloios compram a NME e vão na cantiga. Eu compreendo a falta de tempo para ouvir.
Há cerca de dois anos apareceu uma banda chamada Dodos. A sua construção harmónico-melódica era de longe uma das mais interessantes que ouvi nos últimos tempos. A qualidade lírica e a transpiração dos instrumentos fazia renascer o sonho de que alguém faz música por gosto e não para se evidenciar no mainstream alternativo. Em Portugal o concerto nem sussurrado foi. A crítica ignorou. Talvez o NME não lhes tivesse dado atenção. Eu compreendo. Em Portugal passa-se mais tempo a ler revistas e críticas do que propriamente a ouvir música.
Não andemos aqui com meias palavras: a selecção portuguesa de futebol é miserável.
Em primeiro lugar, falta-lhe a componente artística que nasce não só da qualidade dos jogadores como também, e necessariamente, dos automatismos entre os sectores. Em segundo lugar, falta-lhe liderança a todos os níveis, seja o treinador, seja uma referência nos jogadores. O melhor jogador do mundo, o jogador mais bem pago, não é isso que faz um líder. Não há qualquer magnitude nesta selecção. Vamos fazer péssima figura e ainda teremos de levar com o sentimentalismo da "nossa selecção" até lá. Nem a crise consegue ser tão deprimente.
Ao que tudo indica a comissão parlamentar de inquérito ao negócio PT/TVI vai resultar em nada. Esse resultado vai revelar a desresponsabilização dos políticos e, acima de tudo, a total falta de respeito pelo cargo de Primeiro-ministro. Porque o que acontece é que não é Sócrates "o" Primeiro-ministro. Sócrates ocupa o cargo de Primeiro-ministro, cargo esse no qual os cidadãos depositam toda a confiança, sendo que quem o ocupa terá de ser constantemente escrutinado dentro de todos os meios legítimos.
Ora, os portugueses, hoje, não podem demonstrar confiança na pessoa que ocupa tal cargo. Mesmo que a comissão seja inconclusiva, os portugueses conhecem parte do conteúdo das escutas, conhecem as ligações entre os intervenientes e não vão em conversas de "conhecimento formal e informal", e isso cria a suspeita. Um Primeiro-ministro não pode governar sob suspeita porque o seu cargo é um cargo de confiança a partir da representatividade.
O que esta comissão está a fazer é contrário ao respeito que se deve ter, então, pelo cargo em causa. Ao não apurar a verdade com métodos rigorosos, ao não responsabilizar politicamente quem prevarica, está-se a ir contra tudo aquilo que, segundo o discurso dos grandes democratas, foi conquistado de há 30 anos a esta parte. Tão simples quanto isto.
O mais estranho é ver tanta gente conivente com isto.
Nem a propósito deste post do Rui Herbon, encontro esta notícia no Presseurop sobre este terrível e tenebroso crime que é prender imigrantes ilegais. É claro que a obsessão com a imigração em períodos de crise é um cliché. Um cliché dos péssimos, claro, porque a tendência para prevaricar costuma ser grande. Mas também não acredito que seja má fé ou xenofobia. Acredito mais que seja o pânico, o alarmismo e a pressa de aplicação de uma má política, de uma política irreflectidamente urgente e as associações de imigrantes aproveitam logo estas ocasiões para fazer o seu papel de inconformistas. O aproveitamento demagógico é a sopa dos pobres da política.
Numa altura de crise qualquer altercação social provocada por uma má política de imigração dá mau resultado. A política progressista de imigração conduziu a problemas gravíssimos, sendo que o seu corolário foi a guetização das comunidades e a tensão socio-cultural por ela provocada. Isto significa que o problema não se encontra nos períodos de crise. O desrespeito que os Estados vão revelando pela dignidade humana, não sendo mais rigorosos com os vistos e com a legalização do trabalho dos imigrantes, como também o défice na conciliação da formação académica dos imigrantes atribuindo-lhes equivalências académicas e científicas tornando esses processos mais céleres e eficazes, são um problema que há muito devia ter sido resolvido. Prefere-se, no entanto, andar com conversa de saco de um lado e do outro sem qualquer tipo de equilíbrio no que deve ser feito.
Portanto, não é só Espanha que pode estar a passar por este problema. Nós também estamos. E se não o tratarmos com consciência e sensatez acabaremos todos como a medíocre França.
Até que ponto é que alguém é capaz de ir, contra os seus próprios princípios, para defender um líder político ou uma governação? Até onde se banalizou a falta de ética e o desrespeito pelos valores democráticos?
Estas podem parecer questões menores. É natural que nos dias que correm já ninguém queira saber de questões éticas ou de política directa. Veja-se o caso do silêncio perante esta notícia e o barulho que foi por causa de Miguel Frasquilho (um deputado da oposição). Veja-se o caso dos gravadores de Ricardo Rodrigues. Veja-se o caso da deputada Inês de Medeiros ter dito que não via qualquer problema em Sócrates ter mentido no Parlamento. Veja-se o caso da desvalorização de instrumentos como a moção de censura. Veja-se o caso da ridicularização e do comprometimento ilegítimo do apuramento da verdade na comissão de inquérito sobre o negócio PT/TVI. Veja-se o caso da mudança de política em 15 dias e a desculpabilização constante durante 5 anos e, dentro disto, os avisos feitos pela oposição que foi sendo achincalhada alarvemente pelos vários cães de fila.
É neste sentido que vão, portanto, as minhas questões iniciais. Até que ponto se aguenta esta mentalidade política? Até quando se consegue defender ou calar perante o indefensável?
Compreendo que haja uma missão de protecção de uma determinada elite política. Compreendo a existência do sectarismo. Só não me peçam para o respeitar. Não posso respeitar aquilo que não se dá ao respeito e que viola valores conquistados a muito custo. O fim começa por aqui.
A propósito dos comentários a este post pus-me a pensar sobre o tipo de discussão que pode existir na blogosfera. Haverá algum código que nos impeça de discutir determinado tipo de assuntos? Haverá algum timing para discutir política?
Pensei então nas relações pessoais. São algumas as pessoas que conheço detentoras dessa dádiva divina que é um blog. Discordo de muitas delas - da maioria, suponho. Isso não faz com que não discuta com agressividade determinado tipo de matérias. Não faz com que evite chamá-las à atenção quando dizem disparates. Porque toda a gente diz disparates. Faz parte.
Da mesma forma não faz sentido evitar criticar qualquer blogger só porque este me faz uma referência simpática no seu blog. São campos diferentes que não se confundem. Não posso deixar de despedir alguém só porque este me fez um elogio há dois dias, como também não posso deixar de criticar as políticas do governo só porque o Primeiro-ministro referiu-se a mim como uma pessoa maravilhosa a todos os níveis.
Há aqui, portanto, um excesso de zelo no que à cordialidade diz respeito.
O debate de ideias não conhece famílias, relações pessoais e, mesmo assim, já muito sofre com o corporativismo. A liberdade de crítica é algo a que ninguém deve ter acesso condicionado, já para não falar da inutilidade da crítica da crítica e da falta de resposta ou contra-argumentação que isso pressupõe.
Este post do Luís é só para relembrar por que é que ele é um dos melhores.
Como esta notícia ainda não foi desmentida, junto-me ao Prof. Menezes Leitão quando este diz que se assim foi as eleições legislativas foram feitas sob um cenário virtual e, como tal, o governo mentiu voluntaria e descaradamente aos portugueses por motivos eleitorais.
Não foi por falta de aviso, não foi por falta de alternativa. Mas isto já nem sequer tem importância. Quem é que quer saber disto? Vamos lá atacar Miguel Frasquilho e mais não sei quem, porque esses é que são os responsáveis pela situação actual.
O silêncio é cada vez mais perturbante.
Quando Bento XVI fala em relativismo está a tocar num ponto muito comum na opinião pública e que depois se reflecte, por exemplo, na política. E quando se fala de relativismo estamos a falar de coerência de princípios vs. subjectividade. Dito de outra forma, quando alguém defende algo por princípio fá-lo independentemente dos sujeitos envolvidos. Trata-se aqui da velha questão dos "dois pesos e duas medidas". O relativismo será, nesse sentido, um forte entrave à estabilidade social, à consciência política e jurídica porque o que vai acontecer é o esvaziamento do código ético e moral, que a sociedade foi construindo como necessidade básica de convivência, em prol dos sujeitos. Com o entrincheiramento actual a situação agrava-se.
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