A tridimensionalidade em Nolan
Chris Nolan tem a capacidade de criar em três elementos distintos e interdependentes: narrativa, cenário e mensagem. A interligação entre os três elementos, deveras complexa, é feita com o rigor de quem está empenhado em fazer cinema. Pois é disso mesmo que estamos à espera, que se faça cinema.
Em Inception (2010), Nolan vai reunir consequências das suas experiências anteriores e contruir uma narrativa complexa, não em puzzle, mas sim em lego, onde todos nos sentimos integrados e na linha da frente do conhecimento dos factos que se vão construindo por força das circuntâncias.
Para isso, e através do tema principal, constrói uma cenografia que se altera e que projecta sempre o peso característico dos sonhos, o incómodo da alteração física dos espaços que nasce, de certa forma, com a ideia de que não sabemos muito bem como chegámos ali.
Com a forma e a matéria bem estruturadas consegue, então, tornar o enredo consistente e escorreito para chegar assim a uma moral. Acontece que a moral em Nolan está em vários lugares. E pode, também, não ser apenas uma. É o cinema a projectar a complexidade dos tempos e a tentar equilibrar forças, tal como Artaud falava do Teatro em relação à sua origem.
A única coisa que chateia em Inception é a banda sonora. Música de suspense exagerada e completamente ultrapassada. Tem muito que aprender com Scorsese, nesse capítulo.