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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

31
Jul10

A tridimensionalidade em Nolan

jorge c.

Chris Nolan tem a capacidade de criar em três elementos distintos e interdependentes: narrativa, cenário e mensagem. A interligação entre os três elementos, deveras complexa, é feita com o rigor de quem está empenhado em fazer cinema. Pois é  disso mesmo que estamos à espera, que se faça cinema.
Em Inception (2010), Nolan vai reunir consequências das suas experiências anteriores e contruir uma narrativa complexa, não em puzzle, mas sim em lego, onde todos nos sentimos integrados e na linha da frente do conhecimento dos factos que se vão construindo por força das circuntâncias.
Para isso, e através do tema principal, constrói uma cenografia que se altera e que projecta sempre o peso característico dos sonhos, o incómodo da alteração física dos espaços que nasce, de certa forma, com a ideia de que não sabemos muito bem como chegámos ali.
Com a forma e a matéria bem estruturadas consegue, então, tornar o enredo consistente e escorreito para chegar assim a uma moral. Acontece que a moral em Nolan está em vários lugares. E pode, também, não ser apenas uma. É o cinema a projectar a complexidade dos tempos e a tentar equilibrar forças, tal como Artaud falava do Teatro em relação à sua origem.
A única coisa que chateia em Inception é a banda sonora. Música de suspense exagerada e completamente ultrapassada. Tem muito que aprender com Scorsese, nesse capítulo.

25
Jul10

Motivar estúpidos

jorge c.

É impossível que o mercado funcione com tanta gente estúpida a desempenhar funções de responsabilidade.

Criou-se a ideia falsa de que, com métodos modernos de trabalho, as coisas iriam funcionar. O pensamento dominante passou a ser o do coaching. Deixou de se conhecer e pensar o meio em que estamos inseridos para se gastarem rios de dinheiro numa aldrabice feita por gente tão inteligente que, ao contrário de quem os contrata, percebe a necessidade dos incautos.

O coaching passou a ser a auto-ajuda para as empresas, para que estas decobrissem o trabalho em equipa e lhes simplificasse a capacidade de sustentar o negócio por dentro. Inventaram-se cursos de formação de formadores, novas linhas de tratamento, casual friday's, técnicas de motivação. Esqueceu-se, contudo, de compreender as verdadeiras capacidades dos trabalhadores, o seu real valor, as suas aptidões e, acima de tudo, o seu real e efectivo contributo para um melhor ambiente de trabalho. O carácter e a transparência foram substituídos por técnicas de conduta e linguagem. A qualidade e a eficiência pelos mecanismos de obter resultados para apresentar às auditorias. Criou-se um mundo plástico que agrada a quem não quer ou não sabe pensar.

25
Jul10

O PSD e a Revisão Constitucional II

jorge c.

Já que se vai criticar o projecto de  Revisão Constitucional de Passos Coelho, então que se diga algo de jeito, e não os disparates que andam aí de boca em boca, carregados de demagogia, desde o CDS até ao PC, passando pelo cidadão comum que, por norma, é parvo.

A Constituição assenta numa estrutura tridimensional: forma, matéria e realidade constitucional. Fala-se de uma tridimensionalidade devido à necessária interdependência dos três factores, sendo que é a realidade constitucional, ou seja, o comportamento e a exigência da realidade socio-económica e cultural, que vai projectar a necessidade das outras duas. É claro que, de um ponto de vista vanguardista, a forma ou a matéria podem influenciar, e muito, a sociedade. Mas, para isso será necessário que esta esteja aberta - não pronta (nunca está) - a uma alteração, muitas vezes significativa, da sua narrativa política.

 

Posto isto, e olhando a proposta do PSD, pode dizer-se que não houve este cuidado e o que se tentou fazer foi inserir um programa político numa proposta de Revisão Constitucional descuidando a realidade constitucional. A linguagem encontrada foi, portanto, desadequada e até um pouco ofensiva à ideia de Estado-providência a que o país se habituou e da qual fez costume. O que não quer dizer que os assuntos sobre os quais recai não estejam a necessitar, pelo menos, de uma discussão jurídico-política séria, nem tampouco que mais liberalismo seja anti-democrático. Penso até que foi isso que Passos Coelho quis dizer quando apelou a alguma calma no ataque que estava a ser feito à sua proposta já que esta teria de ser analisada e discutida dentro do PSD antes de ser formalmente apresentada.

 

Não deixa de ser interessante observar a histeria colectiva por causa dos direitos sociais num país com elevada percentagem de abstenção, com défices de participação cívica visíveis nas assembleias de freguesia por esse país fora e tão ignorante no que à sua própria Constituição diz respeito. E não olhem para mim. Eu nem gosto de Passos Coelho.

24
Jul10

Os colegas

jorge c.

António Marinho Pinto não só é um populista natural como é um péssimo representante de uma classe cada vez mais desprestigiada e um ignorante. Ao longo das últimas semanas, em sucessivas intervenções, tem feito crer às pessoas que aos licenciados em Direito resta a advocacia e a magistratura. Não só é um insulto a uma formação superior como o Direito, como é semear o pânico e criar ainda mais ignorância sobre as várias valências de um jurista. Para Marinho Pinto, o jurista não é colega e por isso o curso não lhe vale de nada, nem pode fazer nada com ele. É aqui que começa o corporativismo.

21
Jul10

O PSD e a Revisão Constitucional

jorge c.

Já aqui tinha dito, aquando da vitória de Passos Coelho, que propor uma revisão constitucional agora era despropositado e imprudente. Ainda ssim, as matérias propostas são sempre discutíveis e até a sua oportunidade é uma boa discussão.

Comecemos, então, por aí. Num cenário de instabilidade social e política, rever áreas particularmente frágeis como a saúde ou o trabalho, em matéria de direitos fundamentais, pode ser contraproducente. Seria mais indicado o PSD tratar primeiro da sua linha ideológica, sufragá-la e deixá-la ser escrutinada, e só depois pensar numa Revisão com propostas condizentes com aquela que é a realidade constitucinal. Corre-se o risco de se cometer o mesmo erro do passado e, convencidos de que estamos a inovar, estarmos apenas a resolver problemas de época, demasiado influenciados pelos tempos e por questões pontuais.

É claro que as propostas do PSD não são alarmantes como se tem gritado por aí. Apesar de serem imprudentes têm muita substância para podermos discutir alguns conceitos que têm influência directa no nosso desenvolvimento enquanto sociedade democrática e madura. E está definitivamente na altura de se discutir estas questões: a consistência do serviço nacional de saúde, a maturidade da legislação laboral, a responsabilidade política.

20
Jul10

A banalização da diabolização

jorge c.

Com esta história da proposta de revisão constitucional do Passos Coelho renasceu uma tendência demagógica da esquerda portuguesa e que passa por diabolizar o PSD.

Não está aqui em causa se se concorda ou discorda com a proposta, mas sim a linha de argumentação oposta que reflecte uma inenarrável falta de espírito democrático. Criticar uma proposta porque ela vai matar pessoas à fome e porque é fascista é algo tão demagógico que se torna anti-democrático, porque o que esta argumentação faz é tentar assustar com o seu tom fatalista de forma a criar o máximo de ruído para condenar em abstracto o PSD e a sua legitimidade democrática.

Este é um hábito feio da esquerda, que é ser totalmente intolerante com a legitimidade democrática dos partidos de direita. Foi isso, aliás, que permitiu que Sampaio, num acto claro e indiscutível de favorecimento ao PS, dissolvesse a Assembleia da República. É como se a esquerda detivesse o monopólio da legitimidade democrática e a direita não pudesse adoptar políticas - manias! - de direita. É como se apenas a esquerda fosse válida num sistema democrático.

O país não cresceu, não compreende o significado de escassez de recursos, não compreende o significado de deveres e responsabilidades. E é por isso que anda sempre com a igualdade, os ricos e os pobres e a liberdade na ponta da língua, sem que saiba, de facto, o peso que tudo isso carrega.

19
Jul10

O Blitz errou, como sempre

jorge c.

A incompetência não anda só de mão dada com as promotoras. É como um vírus que ataca implacável sem discriminar.

Veja-se este exemplo da revista Blitz que envia uma fã adolescente para o espectáculo e deixa de lado o rigor que se exige a um órgão especializado. Era de esperar que o enviado do Blitz soubesse, pelo menos, que a Casa da Mariquinhas foi um tema celebrizado por Marceneiro e outros fadistas, enquanto que o que uma Ana Moura desafinada e rouca cantou foi "Vou dar de beber à dor", um tema que Amália eternizou. Se este é um erro comum na maioria das pessoas, não pode ser numa revista de música. A exigência do rigor advém da necessidasde de informar e esclarecer e não de falar do que se ouve na rua.

A reportagem e a crítica artística e cultural em Portugal são medíocres e pretensiosas. Já sabemos. Mas é incompreensível que uma entidade que promove a música popular não seja exigente com os seus funcionários na sua divulgação. Não se trata de gostar ou não de fado. Isso é uma matéria irrelevante. Trata-se sim de trabalho, pesquisa e, no fundo, de cultura.

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