jorge c.
Ali em baixo, no post sobre os 50 anos dos Beatles, o comentador Alexandre Carvalho da Silveira diz que "a banda" são os Rolling Stones. ACS comete um erro, não só de interpretação do meu post, como também um erro histórico. Este erro acaba por ser muito útil para retomar a minha conversa chata e enervante sobre as maravilhas do conservadorismo.
Mas, vamos primeiro ao erro histórico. A relevância dos Beatles no panorama da música popular contemporânea não é sequer discutível. Parece ser por demais evidente a influência que a banda teve na história do pop/rock. Já os Rolling Stones, que aparecem um pouco mais tarde, terão certamente o seu cunho na história do rock'n'roll, mas não serão uma referência tão marcante num espectro mais alargado.
Quanto ao erro de interpretação do meu post, este passa por ter comentado como se eu estivesse a estabelecer uma preferência. Pois se o fizesse, não seriam os Beatles a levar com o epíteto de "A Banda", mas sim os Zeppelin. Acontece que o meu post é mais sobre a história da música do que sobre uma preferência, e história é história, não se pode inventar muito, nem tampouco confundir aquilo que é a nossa preferência com aquilo que acontece de facto.
E por que é que isto é um erro?
É muito comum fazermos este juízo em relação a todas as áreas que são do domínio público. Na política, por exemplo. Eu posso acreditar convictamente que a aristocracia é o melhor sistema político, mas se eu considerar os factores culturais dentro dos trâmites republicanos, tenho de preservar aquele sistema que se adequa mais a uma realidade que existe e não a uma sobre a qual eu especulo. A minha preferência pode não encontrar reflexo na realidade. Se eu sou dj numa rádio de música popular não vou passar meia hora de transe.
Com a imposição das nossas preferências o que estamos a fazer é tentar mudar mentalidades. Queremos ser os grandes educadores do povo. Esta atitude paternalista não encontra correspondência na tendência democrática da nossa linguagem civilizacional. Daí que ser conservador importe, mais do que tudo, tentar salvaguardar a estrutura actual (não a mais actual) por uma questão de equilíbrio e sustentabilidade. Ser conservador em 2010 não é ser conservador em 1960. Não se é conservador ou, no limite, reaccionário numa época que já passou. Tudo aquilo que aconteceu no mundo, aconteceu. Não há muito a fazer. Se os Beatles acabaram por ser mais relevantes no panorama musical universal, não podemos tentar mudar essa realidade. Se foi para um Estado Providência que caminhámos, então temos de assumi-lo e tentar assegurar a sua eficiência.