Já demos!
A importação de cultura e costumes é algo que não me perturba, muito pelo contrário. Sou um consumidor de whisky, fumo JPS, sigo a carreira dos New Orleans Saints e toda a NFL, todos os trabalho que fiz na música estão carregados de blues e country, bebo o humor de Ricky Gervais, Larry David e Andy Kaufman. Não há uma hora no meu dia-a-dia que não esteja sob a influência directa da cultura anglo-saxónica. E isso não me afasta da minha matriz cultural, de todo.
Hoje, pela manhã, a campainha de casa tocou e lá de fora ouviu-se "Doçuras ou travessuras?". Por mim bem podem ser travessuras visto que a casa não era minha. Mas, como terá nascido o fenómeno halloween por estas bandas? A televisão, certamente. Esta importação, apesar de engraçada, não tem uma consistência cultural suficientemente forte para que eu a possa entender. Encaro-a como uma mera imitação que começa a ganhar contornos de praga.
Todos os dias, os miúdos são injectados com a cultura de massas americana: a futilidade da MTV, a superficialidade dos talk shows e a estupidez dos concursos e reality shows. Nada daquilo que apreendem tem uma correspondência na sua linguagem matricial e por isso limitar-se-ão a reproduzir o que comem sem o compreender verdadeiramente.
Os costumes são o traço fundamental da nossa identidade, sejam eles originais ou não. É a consistência que dão a uma comunidade que lhe vai acrescentar uma personalidade e uma identidade na qual se revêem. A falta de consistência pode, portanto, gerar um vazio de identificação e uma profunda crise cultural. Não quero com isto fazer um diagnóstico nem dramatizar algo tão relativo. Pareceu-me apenas importante pensar no assunto por uns minutos.