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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

31
Dez10

Que Deus nos ajude!

jorge c.

Talvez seja o fim do mundo em cuecas. Ou se calhar estamos só a dramatizar.

Chegamos ao fim da década endividados, com uma ameaça terrorista que provocou o horror na maior cidade do mundo, com uma classe política duvidosa e um conflito de liberdades difícil de resolver. Vimos a informação circular a uma velocidade nunca antes vista e novas formas de cidadania a emergir devido ao poder da web.

Só este ano, em Portugal, fomos do casamento entre pessoas do mesmo sexo ao mais recente Jonasgate e fomos também visados no estranho caso Wikileaks. Falámos de escutas, de défice, de dívida, de saúde e educação. Mas continuamos sem saber discutir. Somos incapazes de um mínimo de objectividade e confundimos amor com sexo como adolescentes de 16 anos. Já pouco se olha à dignidade, à justiça, à honestidade e à civilidade. Porque no meio do pânico decadentista, salve-se quem puder. É, como diria Sena, o país dos sacanas.

O ano encerra, portanto, uma década que marcou a imagem pública, onde a fronteira entre a privacidade e a liberdade foi muitas vezes transposta; onde a palavra pública foi muitas vezes exigida e outras tantas posta em causa. Talvez uma road to nowhere, ou simplesmente uma passageira esquizofrenia. Daí que para o próximo ano só exija: rock'n'roll e democracia.

 

29
Dez10

O futuro da história

jorge c.

 

O Diário de Notícias faz hoje 146 anos. A data é assinalada com uma edição especial em que Gonçalo M. Tavares é o director convidado. Hoje, comemora-se mais a longevidade do jornal do que a sua relevância no panorama da comunicação. À parte de alguns exclusivos (as entrevistas ao PM e uma polémica publicação de e-mails de outros jornalistas no caso das fantasmagóricas escutas de Belém), o DN perdeu aquela magnitude tão presente no seu edifício da Av. Liberdade. Foi-se conformando, ao longo dos anos, ao seu papel de jornal do regime, do bloco central, do interesse instalado e dos joguinhos medíocres dos bastidores do poder. O jornal conta com bons jornalistas, com bons cronistas, mas a sua direcção parece fraca demais para o seu passado histórico. Sabemos que o grupo Controlinveste tem um objectivo legítimo de negócio. Mas também devemos saber impor aquilo que pretendemos dos meios de comunicação e ser mais críticos com as suas fragilidades.

Contudo, este ano recuperou parte da sua história com o Media Lab, levando milhares de crianças às suas instalações num projecto que tem mais de pedagógico do que marketeiro. Um jornal que coleccionou no seu passado um conjunto de benfeitorias não se pode furtar à sua função social e cultural.

A grande dificuldade dos media por esta altura é o futuro do formato. É sabido que o papel tem perdido procura e os conteúdos online continuam abertos. Mas, não nos podemos esquecer que isto é um negócio e que, se queremos qualidade no serviço de informação, com todas as particularidades que isso envolve, temos que pagar. Talvez este fosse um bom tema para o DN levantar este ano junto dos leitores, começando por mostrar que o interesse principal é manter o nível de informação online bem alto e começar a preparar uma estrutura de futuro, e não apenas ganhar dinheiro. Até porque terá que explicar que fechar os seus conteúdos não faria sentido numa comunidade habituada ao gratuito. Portanto, numa lógica de interesse público os jornais têm de se fazer pagar e os leitores têm de suportar a qualidade da informação que exigem. Ou será que não exigem nada?

29
Dez10

É a comunicação, estúpido

jorge c.

Há umas semanas assisti à entrega anual dos prémios do Instituto de Negociação e Venda (INV). Nessa cerimónia falou-se muito de tendências do consumidor. Também se falou muito de internet, como uma novidade que anda por aí. Acredito que para a grande parte dos empresários que se encontravam na sala a internet seja mesmo uma novidade. Não é de espantar da parte de quem vê no consumidor uma tendência.

Durante anos, as empresas habituaram-se a tratar os consumidores como cobaias de marketing e só muito recentemente decidiram apostar na qualidade dos serviços. Parece que o consumidor descobriu-lhes a careca. Mas, para esta nova tarefa é preciso estar na internet. Ora, estar na internet não deverá ser um processo muito simples para quem acordou para ela em 2010.

O investimento na comunicação tornou-se uma necessidade das empresas numa altura em que a velocidade de informação ultrapassou o impacto da televisão e dos placards de rua. A prática de muitas dessas empresas não tem resultado. Aproveitaram os departamentos de informática para tratar dos assuntos de internet. Lembra um pouco aquela história dos professores de Electrotecnia serem destacados para dar aulas de Matemática. É que por mais que percebam os seus meandros, é preciso compreender que os assuntos da internet são assuntos de comunicação e não de informática. Eu posso ter uma página toda catita e a sua eficácia ser praticamente nula. Os conteúdos da minha página é que são relevantes; as linhas de comunicação internas é que são importantes; o contacto exterior com os consumidores é que é importante. Tudo o resto é modernização serôdia que parte essencialmente da ignorância.

Se ao invés de desconfiar procurassem e se informassem sobre um universo com o qual não estão familiarizados, muitas das empresas estariam hoje com uma imagem muito positiva perante os consumidores. Nem precisariam de andar com conversas de marketing que cheiram a mofo.

Os clientes são pessoas e as pessoas querem ser tratadas como tal. Isto não é uma tendência, é puro bom senso.

28
Dez10

Os pigmeus do boulevard

jorge c.

Depois de décadas na luta pelos e com os trabalhadores, depois de anos a tentar fazer chegar a voz do povo brasileiro ao poder, Luiz Inácio Lula da Silva tem a dizer ao mundo que foi "gostoso" governar o Brasil.

É claro que ficamos todos muito satisfeitos por saber que alguém sente tanto prazer em governar aquilo que muitas vezes parece ingovernável. É bonito! Mas parece um pouco paradoxal se formos verificar a natureza das candidaturas de Lula. O hedonismo não será certamente a característica mais apreciável. Que o diga Collor de Melo.

28
Dez10

Até dói

jorge c.

A Alda faz aqui uma consulta de graça à imagem da Ensitel e levanta questões relevantes na forma como as empresas devem lidar com uma linguagem para a qual não estão minimamente preparadas (pelo menos muitas delas, pelo que vamos percebendo).

 

Se é verdade que as empresas portuguesas têm uma péssima relação com a comunicação, nomeadamente com as redes sociais, também não deixa de ser verdade que as redes sociais e os seus utilizadores poderão chegar a um ponto de descredibilização devido ao seu discurso radical. Nenhuma causa chegará a bom porto com discursos de ódio.

 

A certa altura, deixa de se perceber o motivo que leva a uma manifestação virtual e acaba-se inevitavelmente no ataque massivo acéfalo. Por mais prejudicial que isto seja para a empresa, começa a desenhar-se um padrão que qualquer dia fará com que estes movimentos percam credibilidade.

 

Hoje de manhã, através do Pedro Magalhães, descobri que Denis Dutton morreu. Este senhor foi o criador do Arts & Letters Daily e percebeu muito cedo que era possível promover verdadeiros conteúdos na web. O site é, hoje, um dos mais reconhecidos no mundo. Por isso, seria muito bom que se entendesse a web como este lugar de livre expressão e ao mesmo tempo credível que debate os assuntos numa lógica consciente.

 

As redes sociais - os seus utilizadores - têm ainda muito a aprender para compreender a sua relevância e tornar a sua voz mais eficaz. Como diria esse grande filósofo, o tio do Homem Aranha: "um grande poder gera uma grande responsabilidade".

28
Dez10

Momento solidário

jorge c.

Se há alguma coisa que me tira do sério é a esperteza saloia. Por isso mesmo não poderia estar mais solidário com a situação contratual da Jonas com a Ensitel. Mas para agravar isto ainda temos o total descaramento desta empresa em tentar cortar o pio às críticas que lhe foram feitas. Se é certo que há uma decisão em tribunal, também é certo que essa decisão se circunscreve apenas à resolução do conflito e não apaga todo o histórico da relação entre as duas entidades, pelo que se torna inconcebível uma tentativa de censura deste calibre. É que não vejo outro motivo para a empresa recorrer aos tribunais para que a Jonas apague os seus posts sem ser com base num caso julgado. Nem quero acreditar que alguém se possa ter sentido ofendido com o tom coloquial da Jonas naqueles posts, porque isso seria apenas um problema da Ensitel em viver em sociedade (motivo bastante para se dar ordem de encerramento compulsivo à empresa, olha agora não saber viver em sociedade...). E, portanto, como dizia, se a matéria do caso julgado não é objectivamente a natureza da relação contratual mas sim a decisão sobre o efeito, então o que aqui temos é um explícito atentado contra a liberdade de expressão.

Say goodbye to another one.

27
Dez10

As mulheres portuguesas - um país diferente

jorge c.

Até parece que estou a fazer campanha por Cavaco. Não estou. Mas a tentativa de denegrir adversários por processos menos correctos é uma coisa que me chateia.

Em que país vivemos? Num país tecnologicamente evoluído, de absoluta igualdade social e de género onde todos os homens e mulheres desempenham as mesmas funções? Num país todo moderno? Não. Mas só quem não tira o cu de Lisboa é que pode ver um país que para todo o outro território não existe. Um país com centenas de milhares de donas de casa (aproximadamente). Aquilo que chateia o Daniel é que esse país existe. Mas ele existe e, apesar do populismo serôdio da mensagem de Cavaco, ela não está direccionada para o vazio, tem um alvo muito significativo.

Confundir esse populismo com sexismo não é honesto. Não é. Comparar Cavaco com Salazar é, mais uma vez, de uma desonestidade intelectual sem nome. É apenas ódio e diabolização que prefere estas comparações radicias para provocar medo naqueles que não terão tanta disponibilidade para se debruçar sobre o assunto. É que basta pensar um bocado, sair do universo da baixa pombalina e ir, por exemplo, aqui ao lado ao distrito de Santarém ou de Setúbal e encontrar um número significativo de mulheres que se sentem contempladas pela mensagem do Presidente, porque, ao contrário do Daniel, ele não ignora que elas existem. Ao contrário dos feministas de trazer por casa deste país, ele sabe que num momento de consternação social uma dona de casa tem extrema relevância no plano familiar. É claro que existem muito mais mulheres com outras realidades. Mas aquelas serão muito mais esquecidas.

Esta despreocupação com a estabilidade das famílias portuguesas reais, as que ainda existem em grande maioria, fora do grande universo do Marquês de Pombal, nós já conhecíamos. O que não conhecíamos era o total desprezo que se sente pelos seus pilares.

Portanto, como não gostamos que haja mulheres que optem por uma vida doméstica, muitas vezes nem se tratando de uma opção, vamos insultar quem se dirija a elas. É todo um novo conceito de feminismo.

27
Dez10

A boa oposição

jorge c.

E o Presidente da República lá o promulgou. Sei que havia quem estivesse em pulgas para que o diploma fosse vetado para haver mais um motivo contra Cavaco. A verdade é que o Presidente da República tem sido, ao longo do seu mandato, muito sensato nestas matérias e nunca constituiu um impedimento para que o Governo prosseguisse com o seu programa. E nós preferimos certamente um Presidente nestes termos do que um freelancer político mais preocupado com o seu estatuto diletante do que com as suas responsabilidades. No entanto, a boa oposição anti-cavaquista não parece estar muito preocupada com esta questão e, por certo, esta promulgação será um esquema eleitoralista. Preso por ter cão, preso por não ter.

24
Dez10

Definições

jorge c.

A religião continua, ainda hoje, a ser um instrumento ideológico em vez de significar o exercício de fé e esperança. A fé e a espiritualidade (ou os seus contrários), quando usadas para fins ideológicos, são um potenciador de demagogia ou de coisas bem piores.

Em muitos blogs vemos celebrações de Natal com referências políticas. A intenção não é boa, nem honesta. Não faz parte do cristianismo esse rancor, esse ressentimento. Um cristão ressentido não é um cristão, é um ressentido.

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