Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

31
Mar11

Zumbido de campanha

jorge c.

Estas linhas de orientação para o programa eleitoral do PSD são um conjunto de generalidades, nada mais do que isso. Eu sei que são apenas linhas orientadoras e não o programa em si mesmo, mas nós já começamos a ouvir estas generalidades no zumbido de campanha. Fala-se em tudo, mas não se sabe falar de nada. A mediocridade do staff passista está em decorar a canção mas não saber ler a pauta.

O PSD não deve estar à espera que o ódio a Sócrates seja o suficiente para as pessoas irem a correr votar. E se quer mostrar seriedade, honestidade  e consistência no debate político não lhe bastará dizer que vai apostar no investimento e que exige mais dias de céu limpo a pouco nublado. Terá de ir bem mais longe. Quando nos propomos a ajudar à criação de um problema temos de ter já a solução preparada. Isso não é evidente.

30
Mar11

É assim, a vida

jorge c.

 

Estas coisas padecem sempre de uma ironia que acaba por nos confundir. O sentido da vida e outros contos; Deus, 2011. Tem um ar de obra continuada, prolongada e consistente. É uma prática reiterada da linha editorial do Além que deixa a malta do Aquém ansiosa e à espreita, não vá o Diabo tecê-las. É sempre assim, uma no cravo e outra na ferradura. E um tipo tem de andar alerta. Razão têm os escoteiros, mas isso são outros quinhentos.

Na mesma semana em que Souto de Moura é premiado com o grande galardão da Arquitectura, vai de falecer o seu fiel amigo e conterrâneo por opção, o grande Ângelo de Sousa. E não deixa de ser curioso que a última vez que os ouvi estavam juntos a falar daquele edifício ali, em Veneza, e na forma como surpreenderam tudo e todos com o seu original estaleiro. Coisas que levamos para a nossa tumba, de alma lavadinha. Não há bela sem senão.

28
Mar11

E há quem diga que nunca foi boa, a canção de Lisboa

jorge c.

Em 2004 eu trabalhava para a agência que viria a fazer a campanha que opôs Santana Lopes a José Sócrates (legislativas de 2005). Para os profissionais brasileiros vale tudo quando se está em campanha, e nesse tudo coube a criação do blogue Portugays onde mais do que se insinuou a homossexualidade do candidato socialista. Não satisfeitos com isto, que a imprensa portuguesa da altura ainda mal espiolhava a blogosfera como depois veio a fazer, um dos marqueteiros melhor relacionados com os jornais do Brasil pediu a um camarada que colocasse uma notícia dando conta da alegada ligação entre Sócrates e Diogo Infante que, como é óbvio, passou para a imprensa deste lado do Atlântico.

 

7 anos passados de uma das maiores canalhices de que há memória na política portuguesa, esta história regressa agora contada por quem nela participou. 7 anos, já viram?

"Foi um amigo que me contou. Sei de fonte seguríssima, uma pessoa insuspeita. Isto sabe-se há imenso tempo, é público. Conheço uma pessoa que trabalha dentro da secretária dele que me garantiu que isto era a mais pura das verdades".

Nada melhor do que este cenário na coutada do macho ibérico sempre zeloso pelo conforto de rabiosques com curva para um final feliz e sempre atento à paneleiragem que nos suja as ruas com o deboche que determina a incompetência. Nada melhor para a velha Lisboa, a "vida da outra sussurrada entre os dentes" como na canção estafada de Jorge Palma. Entre um horóscopo ou outro lá salta um boatozinho sem querer. Mas ninguém quer ser apanhado a mentir, por isso há que dar credibilidade apresentando uma espécie de avalistas fidedignos sem ter de passar pela Consertvatória, pessoas que nunca chegaremos certamente a conhecer mas cujo estatuto desenhado pelo nosso boateiro não deixa margem para dúvidas. Em último recurso saltará um desesperado "eu vi!" e acabou a conversa. Que é lá isso, pôr em causa a palavra de um amigo? É a sua honra que está em causa!

A honra. Sempre a nossa, nunca a dos outros. E é precisamente por saberem isso que os marketeiros lançam a carne aos cães que, pouco treinados, nem olham para a sua origem. No supermercado não perdem a oportunidade de ver se o iogurte está em cima do prazo, sempre pode ser que se arranje um descontozinho. Agora, a dignidade e a honra de terceiros? A origem, a validade, são coisas que só reconhecemos por interesse e nunca por princípio. É a vida, amanhem-se.

28
Mar11

Patranhas

jorge c.

Uma pessoa nunca deve confiar no Partido Socialista. Não é por mal, nem por nenhum outro motivo que seja passível de ser atribuído como característica de outro partido. Normalmente costuma dizer-se "ah, no PS é só boys", mas uma pessoa sabe que boys são, em rigor, cargos de confiança política para ter a máquina mais oleada e que isso todos os partidos têm. É verdade que uns podem ser mais competentes que outros, mas isso é, como diria um amigo meu, a puta da subjectividade. Noves fora, aprende a nadar companheiro.

O PS não é de confiança porque é um partido que, em última análise, é nihilista, como aquele rapaz no Big Lebowski - these men are nihilists, Donnie, they believe in nothing. É um partido que foi sugando o território ideológico do PSD e consequentemente o seu eleitorado mais forte que é a classe média que não passou a sua juventude a ler filosofia francesa e não andou estes anos todos enganada com as patranhas de um socialismo que já teve tantas mudanças de narrativa como os Morangos com Açúcar.

27
Mar11

They are back

jorge c.

Um dos meus blogs preferidos está de volta após ausência prolongada sem o tom trágico daquela forma muito pudica de revelar doenças em horário nobre. O Sinusite Crónica conta com alguns dos meus bloggers de eleição nessa modalidade ancestral que é escrever bem sobre a o quotidiano. Cada um a seu jeito. Sejam tão bem-vindos de novo!

26
Mar11

Separando a erva dos relvados

jorge c.

A memória é algo que influencia inevitavelmente a nossa percepção das coisas futuras. Qualquer episódio é por nós devidamente filtrado e inserido num de dois baús de recordações: o das boas e o das más. Não há meios termos. Ninguém se lembra de ter um dia mais ou menos, ou de ter conhecido uma pessoa assim-assim. É por isso que nos iludimos ou desiludimos. A coisa futura é sempre uma lotaria, como se diz na gíria das gírias. Mas há coisas futuras que não enganam, entrando novamente no universo das gírias, como o algodão.

Mas, antes de entrarmos na coisa futura, pensemos na coisa passada. Há episódios que nos ficam gravados, marcados como ferros em brasa no lombo das vaquinhas para atestar a propriedade do ganadeiro. E a memória é uma coisa marota que anda por aí a pairar como o terror na arte de Stephen King, sem aparecer, só lhe sentimos o cheiro, uma presença ténue mas perturbante. Este episódio de que vos falo começa logo por ter essa relação com o universo artístico, com o transcendente - o episódio é Paulo Futre.

Leva-nos a recordação a um relvado longo e plano. Sentimos-lhe o cheiro húmido e a textura escorregadia porque é nos joelhos do nosso heróis que parecem cabeças de ET's que vamos percorrer a mais eterna das distâncias. Há nesta primeira fase do episódio um tom poético que reconhecemos de qualquer lado, mas não seremos tão óbvios como a relação imediata com Wordsworth e um batido esplendor na relva. Há algo mais natural, mais orgânico. É então que sentimos o vento nos dedos e sabemos que quando este pequeno génio desliza na superfície tudo aquilo é um longo poema de Whitman. Essa memória longínqua não nos desilude porque a poética do velho Walt volta anos mais tarde na sua forma única de galvanizar os povos. Em vez do povo americano temos agora o povo sportinguista. Há emoção nessa chamada. Sigam-me, pois este é o Projecto. Não há desilusão. Há um regresso ao que antes foi vivido com outros gestos sublimes, agora substituídos por uma esperança eloquente.

Mas o episódio Futre não teria a mesma magnitude se não fosse a influência patente de uma ciência que reconhecemos do Dr. Leary. Futre é a experiência que deu resultado e que nos demonstra que estamos errados na relação com o desconhecido. Daí que o seu entusiasmo seja aquele com que Kerouac partiu, observou e partilhou numa euforia que só os tontos podem condenar.

Contudo, uma linguagem que se poderá considerar meramente lírica nasce para uma actualidade que nos assalta os nervos com uma solução. Este é o momento do triunfo da literatura sobre as coisas da economia e da política, uma sempre primeiro do que a outra para provar a grandeza deste triunfo. Não ficamos pela inovação sintática da sua explosão poética, vejamos para além. Vai vir charters. Pois virão. Cheios de gente que abrirá os olhos dos que atrapalharam o progresso que nos colocaria em totais condições de receber quem vai vir. Eles próprios, portanto. É a mais plena das lógicas num povo sem rumo que só um episódio que todo ele é literatura pode galvanizar. Não, meus queridos, não é uma mensagem fechada a um grupo específico. É o mais belo dos despertares da civilização. O Projecto é, todo ele, a Solução. E só podemos perceber isto quando acreditamos. Bem-vinda a nova evangelização que nasceu nos prados, ou, neste caso, nos relvados.

Pág. 1/6

Mais sobre mim

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Um blog de:

Jorge Lopes de Carvalho mauscostumes@gmail.com

Links

extensão

  •  
  • blogues diários

  •  
  • media nacional

  •  
  • media internacional

    Arquivo

    1. 2014
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2013
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2012
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2011
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2010
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D