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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

29
Abr11

Do interesse público à futilidade

jorge c.

Nos últimos dias tentei evitar falar no casamento real britânico. Não que tenha alguma coisa contra a perpetuação pública do amor. Muito pelo contrário. Adoro a perpetuação pública do amor e principalmente a perpetuação pública dos escândalos depois do amor. Simplesmente não vejo qualquer relevância no acontecimento, como também não vejo na questão das primeiras-damas e de todo um conjunto de situações que não cabem na minha concepção de República. Acredito que a consolidação do Reino a partir da família real seja uma característica fundamental das monarquias. A solidez familiar pode também ser encarada como um símbolo de conservação da unidade nacional. Nas Repúblicas isto é um absurdo. São outras realidades e devemos compreendê-las no seu contexto cultural e político.

Acontece que os media portugueses tiveram um ataque de caspa e entrou tudo numa histeria cor-de-rosa, em modo sensacionalista. De manhã ainda vi João Adelino Faria animadíssimo a comentar vestidos e protocolos na RTP como se estivesse a apresentar o Fama Show. Agora, à tarde, dou com a página do Diário de Notícias neste estado:


.

 

 

Que os media considerem que o acontecimento serve o interesse público, é discutível, mas aceito. Que se transformem em revistas cor-de-rosa não é de todo tolerável.

28
Abr11

Democracia às vezes

jorge c.

Eu nem sou de intrigas, mas o sr. Poul Rasmussen é uma pessoa com problemas, não é?

Em primeiro lugar, o Presidente do PS europeu acha que a Europa está mal entregue no Parlamento que é o único órgão que ainda é eleito democraticamente por todos os cidadãos europeus. Portanto, o sr. Rasmussen primeiro acha que os especuladores estão a desgraçar as democracias, mas depois não acha nada bem que pessoas escolham livremente o Parlamento que entendem. Uma pessoa até fica baralhada. Mas há aqui um padrão. Honra seja feita aos socialistas europeus que são todos muito coerentes: ou eles ou o fim. A democracia é fixe, mas só quando se vota nos socialistas. Mais à esquerda temos os radicais irresponsáveis; à direita, os conservadores maus que têm como objectivo último destruir a humanidade. Só os socialistas querem o nosso bem. Somos mal agradecidos.

É também interessante como Rasmussen considera que a Europa está nas mãos erradas pelo lado da imposição da austeridade. Eu não sei o que ele andou a fazer estes anos todos, talvez os seus camaradas saibam, mas a União Europeia não determina descricionariamente muitas das regras que o senhor tanto critica. São regras estabelecidas, assinadas e ratificadas em Tratados por todos os Estados-membros. Não quer isto dizer que elas estejam absolutamente correctas, também acho que não estão. Mas quer dizer que, pelo menos, devemos cumpri-las enquanto estão em vigor porque se queremos uma prática solidária temos de ser responsáveis e mostrar que o somos e não querer mudar de regras a meio do jogo sempre que não são do nosso agrado.

Mudar de regras, de rumo e de filosofia monetária importa, acima de tudo, responsabilidade e continuidade. Os socialistas parecem não saber o que isto é. A culpa, claro, é da democracia.

27
Abr11

A chantagem, a dúvida e o raio que os parta

jorge c.

Com os disparates consecutivos que o PSD anda a fazer, nem nos dá tempo para dizer mal do PS. Eu adoro desporto e entre correr 7 km's ou dizer mal do Partido Socialista fico sempre indeciso. E há muito espaço, atenção! O PS é o partido mais escorregadio de sempre da política portuguesa. Até o O'Neill sabia isso. E vocês também sabem, que eu sei. Nunca confiar num partido socialista cujos governos foram os que mais privatizaram em Portugal. É estranho. Ainda assim, e estando a par da malabarice nas entranhas do Rato, a malta ainda o defende porque - convenhamos, por amor de Deus - é o verdadeiro partido da esquerda democrática e republicana e séria e responsável e cuidado com o papão que ataca no armário a partir das duas, qual raparigas do Conde Redondo.

O descaramento dos socialistas a tratar as incoerências dos outros é fascinante. Sobe-se o tom, dramatiza-se um erro e está a tenda armada para o circo. Uma muito óbvia nos dias que correm é a da falta de programa. Isto como se o PS tivesse aí uma extensa proposta de resolução nacional que não a conversa de saco que apresentou em 2009 e que manifestamente não é uma alternativa à situação actual nem tão-pouco tem força revigorada para vingar a sua credibilidade. É que uma coisa é a irresponsabilidade de provocar eleições num período de ataques à credibilidade financeira do país e em que era preciso uma demonstração da força soberana, e outra completamente diferente é a sustentabilidade governativa de um executivo sem soluções e gerador de desconfiança institucional. O PS não se pode esquecer que, mais cedo ou mais tarde, o Governo caía. E caía bem. Era tudo uma questão de compassos mais oportunos.

No entanto, como se nada se passasse e estes tivessem sido os melhores 5 anos das nossas vidas, como aliás se viu naquela demonstração de culto ao Chefe no congresso socialista sem uma linha divergente, sem autocrítica, aí está o PS e os seus apoiantes independentes e imparciais a tentar convencer a populaça que se o PSD ganha é o fim do Estado Social. Ora, se para fazer uma alteração à CRP é quase preciso um tipo dar a mãe e o pai de penhor, era agora o PSD que ia acabar com o Estado Social só porque sim, porque lhes apetece. É preciso um descaramento que nem Iago teve na diabolização do Mouro. Outros Otelos, a mesma dúvida instalada.

Em rigor, estamos a assistir à mais vil chantagem psicológica feita por um partido em democracia: ou nós ou o fim. Este mesmo discurso repetido como um mantra - qual União Nacional!

E valerá a pena continuar a confiar neste discurso do PS? Não é só de Sócrates, é do PS, porque quem alinha em tudo não deixa de ser cúmplice desta aldrabice.

 

25
Abr11

A esperança que a democracia tem

jorge c.

A solução encontrada pela Presidência da República para a celebração do 25 de Abril em cerimónia solene foi muito bem conseguida. Sem Assembleia da República, era urgente marcar este 37º aniversário do 25 de Abril com uma cerimónia simbólica e forte. Era, por isso, de esperar que os discursos dos ex- Presidentes e mesmo o do Presidente se centrassem no momento sui generis da democracia em que nos encontramos.

De um modo geral, todos os discursos foram conduzidos pela mesma narrativa, apesar de diferenças significativas na sua gestão entre passado, presente e futuro. E é precisamente no momento actual que todos convergiram numa mensagem de cidadania e responsabilidade de todos, uma mensagem clara para uma democracia regenerada e revigorada. Talvez daí ter sido transversal a ideia pessoana de uma consciência de nós próprios e do que queremos fazer de nós.

Neste sentido, o discurso de Jorge Sampaio tem o brilhantismo da leveza e da serenidade, da lucidez do compromisso e da assunção dos erros. Sem dramas. Mas será necessária uma nova atitude, diz Sampaio. E essa atitude passará sempre por uma restauração da confiança para que possamos crescer consistentes. Também Sampaio se deixou convencer pelo problema do défice. A vida foi secada pelo défice e agora é preciso uma solução. Ironias do destino.

A tónica da integração europeia foi de Mário Soares que, num discurso competente, mostrou um quadro evolutivo da nossa existência em democracia e que passa hoje, fundamentalmente, por uma existência europeia. A cidadania europeia, coisa em que muitos ainda não pensam, é essencial para uma adequação mais justa e equitativa das regras, para uma maior solidariedade europeia. Para Soares, a crise cresceu dessa falta de solidariedade.

Eanes voltou um pouco ao mote de Sampaio, no sentido da autoconsciência. No entanto, concentrou-se mais na ideia de responsabilidades passadas, na "passividade cívica", na irresponsabilização individual e política. Foi também o único a lembrar os perigos da demagogia num contexto tão difícil. No fundo, foi um discurso muito semelhante ao de Sampaio na sua natureza, mas com um tom negativista que se afastou de todos os outros e que talvez tenha pecado por esse tom excessivamente negro.

É interessante ver como tudo isto traça o nosso perfil. Entre a saudade e a esperança, entre a culpa dos outros e a nossa própria culpa. Cada um a seu jeito, com raros movimentos de equilíbrio. Porque responsabilidade é a palavra que nos consome e que nem sempre sabemos o que fazer dela. Ela está ali, existe, nós sabemos isso e usamo-la em proveito próprio.

Salta também do discurso de Ramalho Eanes a ideia de um consenso político alargado que irá servir o discurso de Cavaco Silva. Ficou no ar se esta ideia pretende ser uma mensagem para os partidos se entenderem formalmente ou para deixarem apenas quezílias menores de lado. Mas o Presidente não insistiu e preferiu transmitir outra mensagem que pairou em todos os outros discursos: a ideia de que há gente capaz e competente, de que há uma esperança e um futuro, de que podemos ter cada vez mais mérito. E tudo isto só pode crescer e melhorar com uma cidadania forte e com o exercício exemplar da mesma, desde o voto ao caminho comunitário, feito de esforço colectivo. A História, lembrou Cavaco, existe para nos superarmos. No fundo, hoje como nunca, está nas nossas mãos.

 

 

24
Abr11

A Melo Antunes

jorge c.

 

Estou muito indeciso em descer a avenida amanhã. Para mim seria a primeira vez porque este é o momento de marcar uma posição: este é o sistema em que eu quero viver, para além das suas fragilidades. Esta é a liberdade que eu quero para o meu país, uma liberdade responsável e legitimamente escolhida e representada. Devo isso a muita gente. Mas ainda tenho dúvidas em ir e descer ao lado daqueles que nunca me quiseram lá. Não que as gentes da minha linha ideológica façam questão de marcar presença, mas também há quem as veja como indesejáveis. Por outro lado, quero combater esse entrincheiramento e contribuir para uma democracia saudável em que se compreenda, de uma vez por todas, que em democracia cabemos todos. Descer essa avenida é, enfim, caminhar em liberdade mesmo que ao lado de quem não ache que somos dignos. Portugal e a democracia não têm donos.

 

Devo isto a Melo Antunes.

24
Abr11

Ler e ouvir a Irene, sempre

jorge c.

A historiada Irene Pimentel não gostou das declarações recentes de Otelo Saraiva de Carvalho, que disse que, se soubesse como o país ia ficar, não teria feito a Revolução, contrapondo que "todos os portugueses são donos do 25 de Abril".

 

Se carregarem neste link que aqui vos disponibilizo - carregue neste link disponibilizado - podeis ainda ter a sorte de ver a Irene a dizer tudo isto e muito mais.

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