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Esta foi a manhã de Dominique Villepin. Homem de uma retórica que deixaria Paulo Portas inseguro, o antigo Primeiro-Ministro francês chegou ao Estoril como quem está prontinho para se candidatar à Presidência francesa seduzindo a plateia que se rendeu ao seu discurso globalizador na diversidade, nos compromissos, na preocupação com direitos fundamentais, na segurança e na defesa. Chegou mesmo a ter o descaramento de propôr uma estratégia europeia para a defesa. Vieram-me as lágrimas aos olhos. Como dizia alguém aqui ao lado: Sarkozy que se ponha a pau.
Villepin centrou-se essencialmente no tema geral das conferências mas disse algo que me deixou confuso: pensar local e agir global. Eu compreendo, de certa forma, que queira falar no sentido do espírito comunitário, como quem depende da Dona Rosa da mercearia e do Tio Zé da oficina para o crescimento global de todo o burgo. Chama-se a isto o bom conservadorismo. Mas, parece-me que Villepin poderia ter sido mais arrojado e defender um pensar global e agir local. Porque é a acção que estamos aqui a discutir e não apenas as boas intenções. Agir bem localmente, com visão global, para uma melhor integração e comunhão de interesses. Foi, para já, a palestra mais completa.
Um abraço, Dominique!
Como seria de prever, o Benfica não me deixou espaço de manobra. Mas a vida é assim mesmo - ganhamos nuns sítios e perdemos noutros. Ontem, por exemplo, ganhou-se muito em dois momentos: a conferência de imprensa da ElBaradei e a palestra de Francis Fukuyama. Eu, pelo menos, ainda ganhei um abraço do Baradei - qual touched by the hand of God - e com um cosmos bem alinhado tudo se há-de resolver pelo melhor no Egipto. É pensar global, pensar positivo. Assim nos foi dizendo o Prémio Nobel da Paz enquanto respondia a questões não apenas relacionadas com o seu país. Falou-se em transição lenta, em democracia, em pluralismo, em reflexão, consensos alargados, Constituição - tudo requisitos fundamentais para que se candidate. Mas sim, há uma candidatura à vista, admite Baradei numa postura serena e aparentemente consciente. Vai correr tudo bem, com a graça de Deus - o outro, que com o da Moita a conversa foi outra (meteu revoluções e redes sociais, enfim, um assunto que poderemos abordar mais tarde numa avaliação global, lá está, das conferências).
Àquela hora já se ouvia a multidão pelos campos "Frankie! Frankie! Frankie!". Ou então era apenas eu que aguardava ansiosamente nos corredores, ao pé de gente bonita e bem disposta, a chegada de Mr. Fukuyama que traria certamente a matéria do seu novo livro para nos falar dos sistemas actuais, nomeadamente do médio-oriente e por aí fora até à China. Foi isso que fez. Falou de sistemas, da sua arquitectura, da sua filosofia e dos seus potenciais erros. No fundo fez um breve resumo daquilo que está no seu livro: poder político, primado da lei e finanças. Sem estas três característica, diz Fukuyama, a malta não vai longe, como se pôde constatar ao longo da História onde, garante (20 anos depois do seu tão falado Fim da História), o problema poderá estar no Imperador e não no Império. Quanto à China, terra da abundância que tem andado na boca do povo - que é como quem diz conferencistas -, não será facilmente possuída à bruta por esta nova vaga de revoluções, o famigerado uprising capitalista, perdão! democrático. A China, ela própria está a modificar-se, está a crescer economicamente, e essa nova narrativa não será familiar a uma revolução. Mas não se enganem, ninguém pode prever o que vai acontecer, diz o nosso ex- Zandinga da filosofia política americana. E lá mandou uns vivas à democracia. Houve comoção.
Portanto, um dia repleto de emoções, não obstante Mira Amaral e um painel fraquinho de onde sobressaíram indiscutívelmente
Pauline van der Meer Mohr (este copy/paste foi demasiado denunciado) e David Held. Mais um painel onde se falou, no essencial, de ética, integridade e história (estudo e cultura) para uma sociedade melhor preparada para os desafios globais, em tempos de crise financeira, onde a honra e a seriedade serão factores nucleares. O Prof. Zoega poderia ter feito um brilharete, mas estava nervoso e desconfortável, o que não nos permitiu perceber por que razão falava da dívida pública e privada. É verdade que ninguém compreende tudo o resto, mas a crise financeira em particular, apesar dos esforços dos conferencistas. Insisto apenas no maravilhoso sotaque do Dr. Mira Amaral.
Agora vou até lá outra vez, que estou atrasado. Sejam amigos!
A tarde de ontem foi muito interessante. Tão interessante que acabou num grande concerto de Aloe Blacc na Aula Magna e eu nem tive tempo de vos pôr a par da excelente intervenção em apneia de Roubini que veio dar uma palestra sobre a crise financeira global (causas/efeitos/possíveis soluções) que possivelmente deixou Miguel Frasquilho muito desconfortável. Howard Dean também foi giro. Uma aula de pragmatismo e real politik depois da cantilena da manhã. Mas o que lá vai, lá vai e segue o segundo dia de Conferências.
Hoje tivémos uma manhã plena de dispersão estratégica. O tema eram os desafios e a governação global. Meia casa forte, como na festa brava, de onde salta uma boa prestação final de Carlos Lopes e de Sergey Karaganov. A crise financeira e o desenvolvimento económico andaram numa rodaviva atrás de uma participação global, mas fica claro que a complexidade é inimiga de soluções mágicas e dessa dispersão institucional estratégica. Um debate que poderia ter sido verdadeiramente interessante mas que pecou por ser confuso e mal mediado.
A grande expectativa estava em Larry King. Não vou falar da prestação de Mário Crespo que roçou o ridículo na tentativa de insinuar censura. Posso dizer apenas que, tal como outros companheiros da luta, fiquei um pouco desiludido. Uma conferência que andaria à volta dos desafios globais da democracia acabou por ser sobre Larry King. Mérito indiscutível para a sua capacidade de comunicação e de sedução. De assinalar a percepção da sua própria profissão, da sua evolução, com referências inevitáveis a Ted Turner e a Walter Cronkite; uma história sobre um entrevistado (polícia) e o míudo que o alvejou que emocionou a plateia; e uma descrição em pontos muito concretos daquilo que deve ser a habilidade jornalística em aprender para perguntar e voltar a aprender para voltar a perguntar. Sobre desafios globais... fica à vossa criatividade, não sejam preguiçosos.
A esta hora, olhando ali para baixo, vejo Deus sentado à espera que as pessoas cheguem. Numa clara manifestação de graxismo, a pontualidade de Rodrigo Moita de Deus (também blogger do 31 d Armada) diz muito da organização competente destas conferências.
Se o Bendfica me permitir, ainda hoje direi qualquer coisa. Sejam amigos.
Manhã de sol no Estoril, bom tempo para a prática desportiva e para as aulas de educação cívica. A Academia podia resumir-se a uma longa manhã de Meio Físico e Social. Falou-se de ética, complexidade do meio, participação cívica, liderança e responsabilidade social. A Dona Maria Emília ficaria muito satisfeita por ver que eu tenho a matéria bem estudada. Pareceu tudo muito bem, por pouco não fomos todos a correr comprar playmobil's para construir cidades perfeitas e "God is in the house" nas sábias palavras desse arquitecto paisagista que é Nick Cave.
Devia haver uma disciplina de lirismo prático e o meu pai tinha um colapso por perceber que eu sempre tive razão. A mensagem é clara: sejam amigos, organizem-se, façam os trabalhos de casa e nunca deixem de sonhar. Isto faz todo o sentido em estrangeiro, mas quando se faz a tradução a fotografia parece ser de baixa resolução.
Mas, não vamos ser tão cépticos. Um dia alguém em Portugal fará mais que uma parangona e seremos todos felizes. É para isso que servem estas palestras, não é - para nos motivar?
Com mais tempo tentarei ser mais objectivo nas minhas insinuações. Para já está tudo a correr bem.
Deixo aqui o programa e podem seguir as conferências da tarde aqui em baixo.
Um agradecimento especial e um beijinho para o Chico e para a Alda que estão a fazer os possíveis para eu não ser preso.
Nos próximos dias estarei nas Conferências do Estoril. Este blog será uma espécie de wikileaks cobarde. Para já vou ambientar-me e já digo qualquer coisa. Vou tentar não fazer muitos disparates.
É relativamente fácil alguém se deixar seduzir pela estética revolucionária e pelo discurso da repressão e da exploração sobre os desfavorecidos. Quem não se sente solidário com os abusos psicológicos e físicos, com o autoritarismo ou com a exploração? Mesmo que sejam actos isolados, junta-se tudo e faz-se disso uma política, uma política contra. É esta a imagem que o 1º de Maio representa nos dias de hoje. Sem qualquer orientação ou narrativa política, a defesa dos direitos dos trabalhadores não passa de um conjunto de lugares comuns revolucionários e contra-sistema que não encontram qualquer adequação ao mundo em que vivemos. No fundo, é pegar num conjunto de situações emocionalmente fortes e vendê-lo como um ideal político.
É este excesso que caracteriza o revolucionarismo, esta persistência secular, a insistência basista numa sociedade que não existe, a diabolização de um dono de escravas, a metáfora desadequada. Quem não se deixa corromper pelas emoções?
Só lhe via as pernas. A ambulância ia-se fazendo ouvir do outro lado da Praça. Dois homens gesticulavam com veemência e outros dois e uma senhora, sentada, estavam ao pé do corpo que caiu ali discreto numa das paragens de autocarro. Talvez uma quebra de tensão. Com a chegada da emergência médica aproximam-se mais uns quantos transeuntes oriundos de outras paragens. Um polícia municipal ignora o acontecimento e segue em passo apressado para qualquer parte. Metem o homem na maca. Agora reparo que é um homem, talvez um septuagenário, mas muito próximo dos 80. A mulher que estava sentada acompanha-o. Um dos homens da emergência médica pede-lhe alguns dados e sugere-lhe qualquer coisa conduzindo-a até parte incerta. Os mirones continuam em cima do acontecimento e ao meu lado uma senhora irrita-se com a burocracia da acção médica: com o marido foi assim uma série de vezes, era cardíaco (acendo um cigarro). No topo da ambulância lê-se Ministério da Saúde. Não fosse o autocarro para Almada servir perfeitamente o seu destino e o homem acabaria por morrer por culpa do Governo. Lá vai ela, nem um adeuzinho, nem nada. Então adeus, minha senhora, cumprimentos à vítima. A ambulância também parte e na rua fica um ar carregado. O meu autocarro chega. Lá dentro os dois homens (mais um camarada) que haviam orientado a chegada da ambulância vão conversando animadamente. Mataram o Bin Laden. De manhã, a mesma conversa. Acorda, mataram o Bin Laden. Na América festejam.
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