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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

27
Jul11

dos tempos que correm

jorge c.

 

(And I heard as it were the noise of thunder 
One of the four beasts saying come and see and I saw
And behold a white horse)

There's a man going around taking names
And he decides who to free and who to blame
Everybody won't be treated all the same
There'll be a golden ladder reaching down
When the Man comes around

The hairs on your arm will stand up
At the terror in each sip and in each sup
Will you partake of that last offered cup?
Or disappear into the potter's ground
When the Man comes around

Hear the trumpets, hear the pipers
One hundred million angels singing
Multitudes are marching to the big kettledrum
Voices calling, voices crying
Some are born and some are dying
It's Alpha and Omega's kingdom come

And the whirlwind is in the thorn tree
The virgins are all trimming their wicks
The whirlwind is in the thorn tree
It's hard for thee to kick against the pricks

Till Armageddon no shalam, no shalom
Then the father hen will call his chickens home
The wise man will bow down before the throne
And at His feet they'll cast their golden crowns
When the Man comes around

Whoever is unjust let him be unjust still
Whoever is righteous let him be righteous still
Whoever is filthy let him be filthy still
Listen to the words long written down
When the Man comes around

Hear the trumpets, hear the pipers
One hundred million angels singing
Multitudes are marching to the big kettledrum
Voices calling and voices crying
Some are born and some are dying
It's Alpha and Omega's kingdom come

And the whirlwind is in the thorn tree
The virgins are all trimming their wicks
The whirlwind is in the thorn tree
It's hard for thee to kick against the pricks

In measured hundred weight and penney pound
When the Man comes around.


(And I heard a voice in the midst of the four beasts
And I looked and behold, a pale horse
And his name that sat on him was Death
And Hell followed with him.)
 
johnny cash
13
Jul11

O trigo e o joio

jorge c.

Gosto de Francisco Assis. Gosto, sobretudo, do orgulho e da coragem com que afirma ser um político. Assis tem uma noção da política que me é muito cara, não obstante o que nos separa ideologicamente. Acima de tudo, é uma visão ampla da política, sobre a estrutura e instrumentalidade do debate político.

Estas eleições internas do PS são, por isso mesmo, bem mais interessantes do que as que opuseram Sócrates a João Soares e Manuel Alegre. A sua principal tónica está naquilo que distingue um bom político de um político ligeiro. É um frente-a-frente entre a política inteligente, estruturada e de conteúdos e a vacuidade e futilidade do aparelhismo medíocre de que António José Seguro é, hoje, um rosto visível.

Não que o debate actual do PS seja interessante mas, há algumas discussões que podem ter uma enorme relevância para pensarmos melhor o tipo de política com que queremos viver. E não estando muito certo de que a proposta de Assis para primárias dentro do PS seja viável, é, no entanto, uma excelente discussão porque nos permite questionar quais as melhores formas de promovermos a participação e a cidadania ou, até, de termos noção dos índices de interesse que os cidadãos revelam. Contudo, não posso deixar de recear um resultado contraproducente e o caminho para o triunfo descontrolado do populismo. Teoricamente, a ideia é boa, admito. Na prática, pode ser um problema sério.

Outra questão levantada por Assis é a da afectividade. Pego aqui num post do Serras, por falta de link para as declarações de Francisco Assis que acabei por não ouvir. É cada vez mais importante demonstrar que a política não é um jogo de afectos. É certo que nos devemos empenhar. Mas, que isso nunca se confunda com afectividade, com emoções que, como o próprio diz, fazem parte de um universo privado, de relações pessoais sujeitas a outras regras. Nos últimos anos, isto tem destruído o debate político.

O Partido Socialista só tem a ganhar com Assis e a direita teria aqui um desafio muito interessante e um contributo para melhorar. Porque é também com os nossos adversários que aprendemos, para mal e para bem.

09
Jul11

Não há tempo

jorge c.

Quando as referências começam a desaparecer, começamos a temer que algo de bom se perca, uma orientação, uma estrela. Há qualquer coisa de espiritual nas nossas referências. Olhamos para elas como criaturas abençoadas pela clarividência ou pela transcendência. E, nesse sentido, tem sido uma semana negra.

Hoje, vejo partir um homem que muito me ensinou. Mais do que a música que fez, da qual não sou propriamente um fanático, Jorge Lima Barreto foi o meu guia espiritual na compreensão da música, da sua história, da sua estrutura, da sua estética e da sua sociologia. Foi ele que me ensinou a pensar na música popular como um fenómeno sociológico e a abstrair-me dos hypes e dos underdogs para identificar aquilo que é verdadeiramente criativo.

Da sua obra, destaco a Anarqueologia do Jazz e Rock & Droga. Nestas duas obras compreendemos a importância da música popular na cultura civilizacional contemporânea. Lima Barreto foi um visionário e, mais do que isso, um pedagogo, apesar de incompreendido e pouco divulgado. Dizia-se que os eruditinhos da musicologia tinham renegado Lima Barreto por não considerarem a música popular contemporânea uma arte digna de ser estudada. Se assim foi, perdemos todos muito com essa ignorância e preconceito. Mas mais perdemos com o desaparecimento desta figura ímpar da nossa cultura, o eterno companheiro de Vitor Rua por esses becos sinistros e obscuros da música, da estética... enfim, da arte.

Não há tempo.

09
Jul11

Lixo

jorge c.

Ouvi há pouco Vitor Bento dizer que adjectivar as agências de rating, sem apresentar dados concretos que as contrariem, de nada vale. Os portugueses reagiram como se de um ataque patriótico se tratasse, mas não sabem se o seu Estado tem ou não capacidade para pagar a sua dívida. É verdade que as agências de notação financeira têm uma história recente que as descredibiliza. No entanto, ninguém nos garante que estamos em condições de responder às nossas responsabilidades. Sabemos que um plano de austeridade deveria acalmar os mercados ou, pelo menos, deveria dar-nos algum tempo para tranquilizar os nossos credores. Mas, também sabemos que esta austeridade é incompatível com o crescimento económico.

Os principais partidos portugueses têm-se atacado mutuamente, como se esta guerra fosse local, fosse entre a esquerda e a direita. Gente estúpida. O PS acusa o PSD de ter mudado de postura e de só agora criticar as agências de rating. O PSD acusa o PS de ter conduzido o país à bancarrota. Ambos ignoram a realidade.

Por um lado, o PS faz de conta que, enquanto esteve no governo, esteve sempre dentro do assunto. Ora, se o PEC 4 era o que estava no programa da troika, então o PS também aplicaria austeridade e esse mesmo PEC significava que os socialistas também não estavam seguros da capacidade de resposta. Seguindo uma política de austeridade, os socialistas também iriam travar o crescimento (que é o que defendem), mas certamente continuariam a discursar sobre "o problema sistémico do euro" como se nos últimos 6 anos não estivessem no governo e, como tal, dentro da discussão europeia. Conversa fiada e desonestidade intelectual - bem-vindos ao partido mais sectário do país.

O PSD na sua total ignorância das questões internacionais, como se viu ao longo da campanha, em que nem sequer no assunto tocou, vem agora abrir a cara de espanto por causa das agências que tanto o ajudaram a chegar ao governo. As reacções que se ouviram por aí são de uma indignação patriótica bacoca, serôdia, e de total incompreensão do que se está a passar. Bem-vindos ao partido menos preparado para governar do país.

Sei muito pouco de matéria financeira e económica. Mas, há uma coisa que ainda sei fazer: juntar dois mais dois. 

09
Jul11

A estepe

jorge c.

Enquanto na grande maioria dos países do Norte de África e do Médio Oriente, que experimentaram revoltas nos últimos meses, a qualidade de vida e o desenvolvimento são uma realidade razoável, no Sudão do Sul nem sequer são palavras comuns. Trata-se de uma região onde circulam muitos nómadas e que, numa narrativa pouco ou nada descentralizada, sempre esteve longe da capital, para tudo. Resumindo: é uma região muito pobre.

A relevância desta nova vida do Sudão do Sul é muita. Ao contrário das revoltas de Março, a independência sulista no Sudão requer uma atenção especial às dinâmicas de desenvolvimento, à narrativa política, à segurança interna e às relações internacionais. É, claramente, um parente pobre das Nações sem nada que interesse ao mundo.

Se há causa em que nos devíamos empenhar, é esta, a de uma jovem nação enfraquecida pela história, com muitas dificuldades de sobrevivência e um caminho muito longo para a dignidade humana. Bem sei que não tem o charme do Cairo e das revoluções pop, televisionadas de cocktail na mão mas, tem a característica básica de uma civilização que deveria chamar à atenção de todos - a humanidade.

08
Jul11

O dia D do Sudão

jorge c.

Aproxima-se a data histórica para o Sudão mas, como se pode ler aqui, o futuro dos sulistas é uma incógnita. Se o refernedo para a separação das duas regiões foi positivo no sentido de serem os sudaneses a decidir se a sua situação geo-política fazia sentido, a realidade do Sudão do Sul é muito preocupante e a possibilidade de conflitos territoriais é forte.

Mas a história das nações faz-se de sacrifícios e luta por uma sociedade melhor, mais justa e sustentada a caminho do desenvolvimento. É na política sudanesa que teremos de nos concentrar, agora.

07
Jul11

Referências

jorge c.

Nasci numa terra maioritariamente comunista. Cresci numa pequena vila no concelho de Matosinhos, socialista, que mais tarde se tornaria cidade. Durante a minha adolescência, a tendência política da minha geração (e não só) era a esquerda. Ser de direita era difícil. Nessa fase queremos e procuramos sempre uma irreverência que provoque os mais velhos e juntamo-nos em bando porque confundimos ideias e convicções com descontentamento pessoal e com a legítima inquietação da idade. Ao contrário da opção dominante, educado num universo social-democrata, mesmo na estrutura e conduta familiar, nasci na direita e aí me cultivei politicamente. Estive muitas vezes sozinho. Quase sempre. Mais tarde encontro dois amigos, o David e o Ricardo, com quem partilharia a mesma opção. Mas, nos momentos de solidão política questionei muito as minhas convicções. Não queria que fossem aquilo que combatia dentro da minha geração: uma irreverência fútil e uma confusão de ideais e um afastamento desmesurado do interesse nacional. Foi nessa altura que descobri algumas das figuras que passariam a representar, para mim, o ser-se de direita. Eram figuras de uma enorme independência e com manifesta vontade de servir a causa pública; exemplos de cidadania e de solidariedade e, sobretudo, pessoas intelectualmente honestas que discutiam fora do lugar comum e do pensamento único. Uma delas, Adriano Moreira, havia sido ministro de Salazar. A outra, Jaime Nogueira Pinto, um seu fiel defensor. A terceira pessoa era uma mulher, uma mulher forte e segura das suas convicções. A sua dedicação e coragem fascinavam-me. Ensinou-me a não ter medo, essa senhora extraordinária. Aprendi com estas três pessoas, sem nunca me ter cruzado com elas, a não ter vergonha ou medo de assumir aquilo em que acreditava, mesmo que isso não fosse respeitado. Agora, eu sabia que também tinha lugar dentro de uma democracia monopolizada pelos ideais de esquerda e que era preciso combater todos os dias, num jogo sempre limpo, leal e honesto. Penso muitas vezes nestas três pessoas que serão sempre a minha maior referência na política portuguesa. Morreu Maria José Nogueira Pinto e eu estou muito triste.

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