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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

30
Ago11

O segredo polichinelo

jorge c.

Na minha terra natal há uma expressão muito característica para a coscuvilhice. Diz-se, dos cidadãos que falam da vida dos outros, quadrilheiros. Não sendo linguista, arrisco que a sua origem está na quadrilha - um grupo fechado de malfeitores. Ora, o quadrilheiro não tem qualquer outro intuito que não o de bisbilhotar e partilhar a informação a que teve acesso com a sua quadrilha, com o propósito de difamar ou de tirar vantagens cobardes posteriores.

Há umas semanas que vamos assistindo à polémica das secretas portuguesas. Cresce o receio de que a função dos serviços secretos seja escutar e vigiar cidadãos por motivos dúbios, distantes da segurança nacional que está na sua natureza. É um receio legítimo face às notícias a que vamos tendo acesso.

Ontem, ouvi Vitalino Canas - deputado socialista com algum peso na estrutura do partido - fazer uma ligeira insinuação sobre a instrumentalização das secretas. Se é mais ou menos consensual que nas mudanças de Governo se fazem alterações cirúrgicas nestes organismos, se isto é aceite de ânimo leve, então, temos aqui um problema grave nos Direitos, Liberdade e Garantias.

Há pouco, Eduardo Dâmaso, sub-director do jornal Correio da Manhã, dizia na Sic-Notícias que as secretas portuguesas só se preocupavam com mexericos. Não deixa de ser irónico.

Acontece que, se é de mexericos que vivem os nossos serviços de segurança interna, alguns dos nossos mais importantes direitos fundamentais estão a ser postos em causa para ajudar a uma luta de interesses instrumentalizada pelos partidos políticos que chegam ao poder. A leviandade com que este assunto anda a ser tratado na praça pública é assustadora e deve preocupar-nos. Acima de tudo, é a natureza e utilidade dos serviços de informação que está em discussão. A não ser que vivamos bem num país de quadrilheiros.

26
Ago11

Não te deixarei morrer, meu querido blog

jorge c.

Não ter tempo é uma coisa muito relativa. Não ter disponibilidade mental é outra coisa. E há alturas em que não temos mesmo essa disponibilidade; em que, simplesmente, não nos conseguimos concentrar em algo. Não me apetece. A vítima é este blog. Mas não me atrevo a deixá-lo, não vá a dona da internet deixar de falar comigo, já que andaram a fazer um poiso tão catita para agora o malandro dar de frosques, como o puto que vai a casa da avó lanchar, aborrece-se e pira-se. Aqui, sim, é uma questão de tempo. Até porque o panorama é chato. Discute-se o enxofre dos dias e o fim do mundo em cuecas (sempre gostei da expressão e abuso as vezes que forem precisas). Já lá vai o tempo - no meu tempo é que era - em que se podia ser maçador e, ainda assim, ter atenção, escrever micro-ensaios sobre questões absurdas e caricatas, e falar dessa estaca de madeira para os mais sofisticados que é o amor entre as espécies. Mas, perder um blog não é deixá-lo assim ao abandono, como tem acontecido com este; não é perder leitores ou deixar o tempo correr pelo html como uma bola de cotão. Perder um blog é ficar sem ele de um momento para o outro, abruptamente, sem despedidas ou backups. Deixámos lá a memória. Enquanto o guardamos religiosamente, a memória fica salva, acompanhando todo e qualquer tempo com significados bem definidos. Guardo um velho casaco no armário (como se o pudesse vestir) e com ele - e com ela -  uma memória que é minha, só minha. É como um post, ou este poema de Jonathan Galassi. Perder um blog é como perder um filho virtual que criámos, alimentámos e vimos crescer. E com ele fomos crescendo. Um drama. Guardo, agora, este blog como um segundo ou terceiro filho para o qual não tenho, de momento, disponibilidade. Mas, desta vez, prometo-te: não te deixarei morrer, meu querido blog.

21
Ago11

Confissões de um demagogo

jorge c.

Peça interessante, esta. Um jornalista resolveu sair da frente do monitor do computador e procurar um porquê.

Foi, então, em busca do comentador irado, um apontador de problemas, um denunciador da escumalha política. Foi, acima de tudo, encontrar um cidadão comum que, como todos os cidadãos comuns, se acomodou no sistema e que considera que a sua participação política passa apenas por votar, comentar e exigir; que, como todos os cidadãos comuns, quando as coisas não correm bem começa a pedir cabeças e a falar em organismos independentes, menos políticos.

A verdade é que, no fim deste artigo, fica-nos uma frase: "Sou demasiado pequeno para mudar o mundo.” Esta confissão de impotência é compreensível. Os agentes políticos não podem olhar para ela como uma coisa menor - muito pelo contrário. Mas, também não é correcto sustentar que o descontentamento tudo permita. Não pode permitir a demagogia e o populismo, as armas que levaram ditadores ao poder porque estavam do lado cego do descontentamento.

O sr. M, como todos os senhores M's deste mundo, tem falta de memória histórica.

16
Ago11

A Herança

jorge c.

 

Contam-se muitas histórias e mitos no mundo do Fado. Muitas delas sobre figuras que tornaram o Fado mediático: Amália, Marceneiro, Lucília do Carmo, Maurício e muitos outros. Mas, há personagens que habitaram a vida do Fado bem por dentro e que ficaram sempre na sombra dessas glórias.

Há alguns anos, contava-me um amigo que certa vez, numa casa de fados em Lisboa, questionava o Mestre Fontes Rocha sobre aquilo que estava a ensaiar naquele momento. Era uma malha de guitarra muito bonita e um pouco diferente da estrutura tradicional. Respondeu-lhe o Mestre Fontes que tocava aquilo "no compasso do Bolero de Ravel".

Era um músico extraordinário, de uma criatividade invejável. Saído do conjunto do velho Nery, destacou-se ao lado de Amália Rodrigues e, juntamente com Oulman, ajudou a dar ao Fado uma nova roupagem que o levaria a palcos nunca antes pisados por estes músicos populares, a outros mundos.

Deixou a maior de todas as heranças - um neto que é, hoje, um dos artistas maiores da música portuguesa; um erudito de seu nome Ricardo Rocha.

Morreu ontem, o velhinho Fontes, Mestre do Fado, uma história dentro de outra história.

 

15
Ago11

Da função social das empresas

jorge c.

Ontem estive num almoço em que se falava de marcas, descontinuação de marcas, necessidades de inovação e carga fiscal. Não deixo de achar graça à forma como as empresas se auto-mutilam e depois ficam espantadas e nervosas com a consequência das suas políticas precipitadas. De há muito tempo para cá que foram as empresas que andaram a criar a necessidade no consumidor. Foram as empresas que, devido à necessidade de inovação, levaram o consumidor a viver de bens e produtos acessórios. O crescimento económico não pode, nem deve ser tão irresponsável.

A função social das empresas passa, também, por serem pedagógicas com o consumidor. A criação de necessidades mal equacionada poderá levar a que, mais tarde, o aumento dos impostos sobre o consumo seja um problema para todos (empresa e consumidor), as marcas pequem e morram por excesso e os produtos se tornem dispensáveis. As empresas não se podem esquecer que a sua natureza é social, que estão integradas num certo e determinado meio e que o seu objectivo (o lucro) não é obtido por obra e graça do Senhor. Por vezes, parece que se esquecem.

14
Ago11

History Repeating

jorge c.

Aquando das eleições, previ que uma inversão de papeis no poder, entre as claques, seria um dos factos mais cómicos da alteração governativa. Ora, é vê-los. É de perguntar: como é que é possível? Como é que se consegue virar o discurso do avesso, com as costuras a verem-se, sem pestanejar, com o maior dos descaramentos, e chamar a isso "combate político"? É incompreensível. Ver amigos a sujeitarem-se a esse papel, quando os respeitamos e nos dispomos a discutir com eles por acreditar que vale a pena, é ainda mais constrangedor.

Mas, este desabafo não se perde no desgaste da desilusão. Há algo mais importante que esta tontice do descaramento sectário. A presença de um governo à direita levanta sempre uma nuvem de pó que roça a falta de bom senso. Temos (plural majestático) chamado a isso a diabolização da direita. Vem aí o grande monstro que vai acabar com o Estado Social. Ora, o Estado Social não é uma coisa estanque. Diz-se isto como se o Estado Social fosse a democracia em si e por si. Sejamos mais objectivos e focados: defendemos uma democracia, logo, o seguimento das políticas governativas não é um ataque a nada. O Estado Social tornou-se o dogma do séc. XXI. É escusado apelidar as pessoas de salazarentas só por causa disso. Parece-me excessivo, sei lá. Infantil, diria.

Por outro lado, a concentração da austeridade (que é assim que agora se chama ao artist previously known as "medidas impopulares") no cidadão de bem, comum, de bom aspecto, não é uma boa causa para reduzir gorduras, como se diz por aí. Se o Estado é gordo, façam-lhe um programa de emagrecimento com exercício e não lhe ponham uma banda gástrica.

Este período que iremos viver nos próximos tempos será insuportável. A austeridade sentir-se-á menos do que a histeria. Não contem comigo.

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