O segredo polichinelo
Na minha terra natal há uma expressão muito característica para a coscuvilhice. Diz-se, dos cidadãos que falam da vida dos outros, quadrilheiros. Não sendo linguista, arrisco que a sua origem está na quadrilha - um grupo fechado de malfeitores. Ora, o quadrilheiro não tem qualquer outro intuito que não o de bisbilhotar e partilhar a informação a que teve acesso com a sua quadrilha, com o propósito de difamar ou de tirar vantagens cobardes posteriores.
Há umas semanas que vamos assistindo à polémica das secretas portuguesas. Cresce o receio de que a função dos serviços secretos seja escutar e vigiar cidadãos por motivos dúbios, distantes da segurança nacional que está na sua natureza. É um receio legítimo face às notícias a que vamos tendo acesso.
Ontem, ouvi Vitalino Canas - deputado socialista com algum peso na estrutura do partido - fazer uma ligeira insinuação sobre a instrumentalização das secretas. Se é mais ou menos consensual que nas mudanças de Governo se fazem alterações cirúrgicas nestes organismos, se isto é aceite de ânimo leve, então, temos aqui um problema grave nos Direitos, Liberdade e Garantias.
Há pouco, Eduardo Dâmaso, sub-director do jornal Correio da Manhã, dizia na Sic-Notícias que as secretas portuguesas só se preocupavam com mexericos. Não deixa de ser irónico.
Acontece que, se é de mexericos que vivem os nossos serviços de segurança interna, alguns dos nossos mais importantes direitos fundamentais estão a ser postos em causa para ajudar a uma luta de interesses instrumentalizada pelos partidos políticos que chegam ao poder. A leviandade com que este assunto anda a ser tratado na praça pública é assustadora e deve preocupar-nos. Acima de tudo, é a natureza e utilidade dos serviços de informação que está em discussão. A não ser que vivamos bem num país de quadrilheiros.