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I'm worse at what I do best
And for this gift I feel blessed
Our little group has always been
And always will until the end
kc
Há uns dias explicava a um estrangeira (assim mesmo, uma estrangeira) que, de toda a História de Portugal, o momento que mais me orgulhava era a abolição da pena de morte. Esse momento representa, para mim, um grande avanço civilizacional no caminho para uma sociedade mais inteligente e sustentável, mais esclarecida no estabelecimento consciente das regras.
Provavelmente, se eu fosse saudita estaria, hoje, muito orgulhoso do meu país por abrir o sufrágio às mulheres. É um sinal de que os tempos mudam e as realidades se transformam. É um sinal de que só com a integração e solidariedade podemos ter uma comunidade mais forte, porque justa.
Não deixa é de ser irónico que, quase ao mesmo tempo, se tenha executado um cidadão nos EUA - um exemplo para tantas outras coisas e, neste caso específico, uma amostra de paragem no tempo. A sua altura também chegará.
A tendência, mais do que a moda, é um conceito muito interessante. Quando olhamos em volta e conseguimos perceber que algo está a nascer de uma idiossincrasia muito particular para se tornar num comportamento de grupo, numa tendência de época, acabamos por preferir a nossa velha atitude conservadora, demasiado portuense do "eu não papo grupos mas também não me vou chatear por causa disso".
Um dos últimos conceitos fashion da época é o de hipster. Trata-se de um conceito que mal nasceu começou logo a levar pancada. Ora, se o hipster é o pretensiosozinho anti-comercial, a sua crítica, baseada em moda de circunstância, é paradoxal. Não sei se me faço entender.
Escrevo isto depois de uma tentativa de provocação que me fizeram. Confesso que, apesar de não ser muito dado a provocações (gosto de discutir, isso é outra coisa), fiquei a pensar no conceito. Hipster. Durante anos chamámos-lhe outra coisa qualquer. Sempre houve gente que se tentou marginalizar de uma forma muitas vezes patética, afastando-se do mainsteam ostensivamente como que por uma jogada de superioridade moral, qual bofetada de luva branca na imundice popular. Notou-se sempre isso na música. Todos tivemos o amigo que só ouvia coisas que ninguém conhecia. É claro que vai daí uma grande distância até à nossa própria ignorância. Eu não posso acusar alguém de pretensiosismo quando o problema é, efectivamente, a minha falta de conhecimento, de vontade e de disponibilidade.
Mas, este caso particular da moda do hipster muda tudo. Se o hipster se tornou numa personagem do mainstream, facilmente acusável, o verdadeiro hipster passou a ser o seu acusador, aquele que não alinha nas modas. O processo inverteu-se. E daí talvez não. De facto, o pretensioso esteve lá sempre, no crítico, no que não admite comercialização da sua própria atitude. Os conteúdos é que são flutuantes. A alternativa (ou o indie, como preferirem) de ontem é o mainstream de hoje. O alternativo é que mudou os gostos para não se deixar comercializar. Como se um disco pudesse deixar de ser bom de um dia para o outro só porque toda a gente o ouve. O protótipo do hipster nunca é genuíno por passar demasiado tempo preocupado com os outros, com o mesmo grau de futilidade de quem passa demasiado tempo ao espelho. Não existe grande diferença entre a arrogância vaidosa física e a intelectual. São ambas defeitos que nos impedem de sociabilizar mais, de comunicar, de estarmos de bem com a vida e nos obrigam a inventar uma marginalidade ridícula e inconsequente.
A tarde foi abalada por uma notícia surpreendente: o fim dos R.E.M.. Surpreendente porque ninguém estava à espera que ao fim de 30 anos de carreira, aquilo que parecia uma instituição da música popular contemporânea, acabasse assim, abruptamente. Não tenho pena, confesso. Tenho mais pena da forma arrastada como iam passeando pelos discos, sem muito mais do que um esforço para ter material novo.
O caminho para a banalidade é assustador, porque fácil.
Lembro-me, porém, de um tempo em que ouvia o Automatic for the people todos os dias. Não todo. E, a grande maioria das vezes, uma só canção: aquela que me fazia sonhar com uma América que nunca poderia viver; a imagética de uma média-burguesia americana de tradição democrata mas, com uma evolução quase libertária-conservadora que víamos nas séries de televisão como Family Ties ou em filmes como On Golden Pond. Foi nessa canção que ouvi, pela primeira vez, falar numa das minhas maiores referências, o que daria, mais tarde, direito a um filme - Man on the Moon.
Dali, de onde eu estava, via nessa imagética a própria figura de Stipe, a figura de um burguês pretensioso, enjoado e imaturo. E gostava... a sério que gostava e gosto dessa figura que acabaria por escrever uma das mais belas canções de sempre - At my most beautiful - ou algumas das frases que mais sentido fizeram para mim em diferentes alturas das nossas vidas.
Nem todas como estas que, sempre que ouço, continuam a ter o mesmo efeito que tiveram por volta de 1994, quando as comecei a compreender, devagar:
Moses went walking with the staff of wood. Yeah, yeah, yeah, yeah
Newton got beaned by the apple good. Yeah, yeah, yeah, yeah
Egypt was troubled by the horrible asp. Yeah, yeah, yeah, yeah
Mister Charles Darwin had the gall to ask. Yeah, yeah, yeah, yeah
Pois é.
Pedro Adão e Silva tem razão e não tem.
Tem razão quando diz que a discussão sobre a crise e a Europa foi desvalorizada durante o anterior Governo. Esta foi, fundamentalmente, a luta ilegítima de arredar os socialistas do poder.
Porém, não tem razão quando se refere a esse tempo com a expressão "com Sócrates". É que "com Sócrates" o argumento da crise e da Europa apareceu muito tarde, muito depois de Pinho-a-crise-acabou 2008, muito depois de orçamentos rectificativos atrás de orçamentos rectificativos e quase ao mesmo tempo do PECIV que, por acaso, não era senão uma actualização anual comum do PEC e que apenas trazia a alteração às pensões (depois acabaram por nos dizer que era exactamente o que estava no memorando da troika... nada de especial).
Uns meses antes de tudo isto, José Sócrates lá ia falando da crise internacional mas, sem se alongar muito. Como dizia Soares há umas semanas na Única, Sócrates não tinha grande cultura política. Por isso, limitava-se a repetir o que os seus conselheiros lhe iam dizendo. Tudo soava a um tremendo vazio.
Pedro Adão e Silva podia perfeitamente ter reforçado que a discussão de que fala é, agora, extemporânea e que muita gente alertou para isso numa altura em que se podia ter feito algo significativo. Não pode é colocar a questão com Sócrates na frente de um pensamento que o próprio parecia desconhecer e com o qual nada fez, de facto.
Adenda: O João Pinto e Castro alerta-me, num comentário, que a afirmação de Manuel Pinho é de 2006, pelo que deixa de fazer sentido o meu sarcasmozinho sobre essa questão.
A dívida da Madeira está a causar um embaraço dentro do PSD. Acontece que o embaraço suscitou uma reacção pouco nobre e paradoxal: a relativização.
Não podemos, de modo algum, andar durante 6 anos a apontar o dedo por causa de uma relativização politicamente prejudicial e pouco transparente para, depois, cair no mesmo erro. Para além da falta de imaginação é, também, falta de consciência crítica. Esta parece ser a doença dos tempos que correm.
Para minha felicidade, não tenho podido assistir aos debates parlamentares. Porém, há pouco vi um breve resumo da sessão de hoje, do debate quinzenal com o Primeiro-ministro. Pela primeira vez, algo que já há muito receava, aconteceu: caiu-me a ficha. Pedro Passos Coelho e António José Seguro.
Parece que a OCDE quer passar a concorrer com o Guinness. Para a organização, o relevante em programas como as Novas Oportunidades parece ser o método quantitativo e o resultado consequente. É indiferente se, neste programa de ensino, houve um reforço essencial das competências que justifiquem uma nova graduação.
Provavelmente, aqueles que como eu não acreditam na legitimidade destes diplomas, estão enganados e quem está certo são os defensores das Novas Oportunidades e a OCDE que relativizam o valor do mérito e optam pelo primado da quantidade de diplomas. Também é provável que o mercado de trabalho queira apenas gente mais habilitada mas, com o mesmo nível de competências, para efeitos estatísticos.
Tudo isto é provável. Mas, daí a "sustentar o sucesso de Portugal"... permitam-me discordar. O que pode sustentar o sucesso de Portugal é a sua capacidade para competir, os seus índices de inovação social e económica, o seu potencial empreendedor, a mobilização cultural e artística, etc. É com estes indicadores que Portugal é bem sucedido, porque isto só acontece quando os recursos humanos reúnem um conjunto de competências que lhes permite desenvolver ferramentas que sustentem o desenvolvimento. Em suma, só acontece por causa do mérito posto em prática.
Nenhum sucesso é mensurável pela quantidade, a não ser o dos recordes do Guinness.
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