Quem perdeu isto no Sábado, nem sabe o que perdeu, como se diz por aí. Não só a Ana é um caso à parte de personalidade artística como, também, um caso à parte de outras situações, inclusive.
Curte lá a tag, Vidigal: cultura! cultura!
Pedi ao Filinto que me desenhasse a sua perspectiva do actual momento político em Espanha, depois do anúncio da ETA. Pedi-lhe porque, ao longo destes anos em que vamos caminhando juntos, de lados opostos, mas com a mesma intenção, o Filinto é a pessoa cuja opinião sobre o assunto é, para mim, a mais credível. Aqui fica então, com o meu agradecimento e a devida vénia:
"A ETA tem sido um dos grandes temas das diversas campanhas eleitorais para as cortes de Madrid, desde que as há. E com a excepção da derrota de Felipe González para José María Aznar, em que se debateu a taxa de desemprego acima dos 20 por cento que o socialista deixou, a ETA foi sempre o tema central.
Estas eleições de 2011 preparavam-se para voltar a retirar a ETA do centro do debate, porque um outro socialista, Zapatero, liderou um governo que voltou a deixar subir a fasquia dos desempregados acima dos 20 por cento – e também porque havia um cessar-fogo e porque os candidatos (Oreja e Rubalcaba) têm os seus galões no combate à ETA. Contudo, a ETA gosta de aparecer. E apareceu, para dizer que vai desaparecer. Desde logo, houve malucos do PP que consideraram que o anúncio era um truque. E ao mesmo tempo que era a prova -- percebia-se esta tese sem dificuldade no El Mundo, no La Razon e no Libertad Digital -- de que o governo socialista tinha estado a negociar com a ETA. A negociar um truque, claro. Enfim!
Depois chegaram os malucos do PSOE: "Finalmente, desde 1936, a liberdade chegou aqui", dizia num comício sábado de manhã o ex-presidente da câmara de San Sebastian. Pretendia santificar a República? Vingar-se da derrota eleitoral para os independentistas da Bildu? Não, apenas um truque eleitoral, claro.
Enquanto PP e PSOE tentam alinhar os discursos para descobrir a melhor maneira de sacar votos depois do anúncio da ETA, um sem-número de malucos, idiotas, crentes, descrentes, ignorantes, especialistas, interesseiros, provocadores e outros falam ou escrevem sobre o desaparecimentro da ETA. Incluindo eu. Infelizmente ainda não li uma palavra do ex-presidente do Governo basco, Ibarretxe. Ele tinha um caminho, um caminho dinamitado a meias entre a ETA e a coligação PSOE/PP. E infelizmente também ainda não ouvi Otegi, que está preso aquela cena da liberdade, estão a ver?), e não pode repetir que a ETA “sobra e estorva”, porque ela já saiu do caminho. Do caminho longo e sinuoso que todos têm de percorrer."
Filinto Melo
Gerou-se, a certa altura, a ideia de que qualquer um pode ser um líder se cumprir escrupulosamente as normas consagradas nas 500 bíblias sobre o tema liderança. Daí que, quando olhamos para a Assembleia da República, nos assustemos. Já aqui o disse: Passos e Seguro.
Num período de crise, de desconfiança e insegurança, seria fundamental que o Primeiro-ministro transmitisse confiança e tranquilidade aos portugueses. Há compromissos para cumprir e o Governo deveria estar totalmente seguro das medidas que apresenta para responder a esses compromissos. Ora, não parece estar.
A grande maioria dos portugueses tem uma expectativa legítima chamada Estado Social. Há quem ache que isto é um dogma em que não se pode tocar. Não é verdade. O mundo muda, a realidade transforma-se. A História ensina-nos que não devemos ter nada por certo. No entanto, a um governante cabe o papel de indicar o caminho a seguir em momentos difíceis, sem hesitações e posições dúbias, principalmente quando se trata de frustrar aquelas expectativas. As pessoas compreenderiam melhor o sacrifício se o caminho a seguir não fosse tão duvidoso.
Há nas lideranças uma característica fundamental: a decisão. Acontece que a decisão não é a característica em si mesma. Para decidir é preciso estar preparado e saber o que decidir. Disse muitas vezes de José Sócrates que a determinação não era um programa político.
O que temos neste momento é um Primeiro-ministro que diz que lidera e um País que não o vê assim. Será bom para aprendermos na altura de escolher quem nos deve liderar. Não terá sido por falta de aviso. Mas quem começa por desculpar os seus, por serem da casa, depois terá de aguentar, obrigatoriamente, os dos outros. É uma chatice chamada democracia. Não lhe queiram mudar as regras agora.
As novas medidas de austeridade anunciadas ontem pelo Primeiro-ministro foram motivo suficiente para se confundir uma manifestação com natureza internacional com uma indignação política local.
O que esta confusão provoca é uma descredibilização reivindicativa, porque dispersa. Apesar de intuitiva - e daí "indignação" - não deixa de existir uma instrumentalização antropofágica, em que os diferentes cadernos reivindicativos se aproveitam um dos outros para ganhar dimensão.
O grande erro desta manifestação é, precisamente, a confusão entre o desagrado com uma situação de crise internacional com o conflito políítico-partidário. As manifestações não são um fenómeno teórico mas, antes, aquilo em que se transformam. E esta transformou-se num protesto anti-governamental, mais uma vez, desvalorizando o valor da Assembleia da República e da democracia representativa.
Volto, porém, a dizer aquilo que disse a 14 de Março deste ano: o Governo não pode ignorar a insatisfação social. Um país não é uma empresa.
Fará o queixme parte dos nossos costumes? Sabemos que é, pelo menos, um vício. Eu queixo-me do braço, o meu vizinho queixa-se dos dois e um terceiro queixar-se-á do corpo todo. É um vício de competição de mau-estar. Nos locais de trabalho, nos grupos de amigos, em conversas de café, as pessoas competem por horas de sono dormidas, número de horas a trabalhar, horas de almoço perdidas, acumulação de trabalho. Persiste a ideia de que o nosso mau-estar é sempre maior do que o dos outros e, até, que há quem se queixe de nada, supomos. Pois o problema não está no queixume. É bom que as pessoas se queixem. Se não nos queixarmos, ninguém conhecerá os nossos limites. Porque os nossos limites não são todos iguais. Há quem fique bem com 4 horas de sono e há quem precise de um sono de beleza de 8 horas (como eu). Há quem tome café e aguente o dia, há quem não o faça e prefira dormir. Há quem passe o dia sem comer e outros há que precisam de se manter alimentados. Somos todos diferentes. E quando os limites são ultrapassados, é tarde de mais para ficarmos surpreendidos. Daí que competir não é um bom princípio. Agravamos o ressentimento, o nosso e o dos outros, numa espiral negativa muito mais grave que a desse mau-estar - a da nossa convivência.
Não pode ser só um número minoritário de pessoas que assiste atónito ao que se passa na Madeira. Não posso crer que isso seja possível. Este inenarrável sentimento de impunidade face à política nacional, às autoridades e aos tribunais não pode continuar.
Não estou a discutir resultados eleitorais, nem mentalidades. Estou a falar de outra coisa: o mais básico cumprimento da lei.
O que é que vai ser feito sobre a ocultação de défice por parte do Governo Regional da Madeira? O que é que o Sr. Presidente da República vai dizer sobre a ocultação de défice por parte do Governo Regional da Madeira?
Qualquer liderança exige coragem e determinação. No sector público esta necessidade é ainda mais exigível devido a pressões políticas. Quando isso não acontece, o mais provável é estarmos perante entidades frouxas que se deixam ir ao sabor do vento.
A nomeação de Carlos Magno para a ERC deixa-me, assim, muito desconfiado sobre o futuro desta entidade. Daquilo que vou vendo, lendo e ouvindo do distinto cavalheiro, retiro uma personagem sem grandes características; de discurso vago e sem conteúdos, cheio de lugares comuns e pouco assumido.
Podemos dizer muitas coisas de José Alberto Azeredo Lopes. Podemos dele discordar em muitas decisões. Mas, nestes últimos anos, tivemos à frente da ERC um homem com coragem em tomar decisões, que por elas deu a cara e que as discutiu com frontalidade.
Não sei se, doravante, isso irá acontecer. O tempo o dirá.
Como era o mundo antes da internet? Muitos de nós parecem ter-se esquecido. Só isso explica que um conjunto de pessoas possa, hoje, manifestar uma homenagem ou um desconforto sobre uma personalidade, publicamente, e ainda ter direito a uma resposta (quando nem se perguntou nada) ao estilo mais ressabiado "agora toda a gente conhece o, ou a, não sei quem".
Ontem aconteceu um fenómeno extraordinário que os mais desatentos não repararam. Durante todo o dia falou-se no desaparecimento de uma personalidade, um empreendedor, de obra reconhecida e de grande valor sócio-económico e, até, cultural. Foi um reconhecimento global feito por milhões de pessoas, a grande maioria delas através da internet.
No mesmo dia, um ilustre desconhecido, Tomas Tranströmer, nasce para o mundo, premiado pela sua desconhecida obra poética. Mais uma vez, "agora toda a gente conhece o...". De repente, milhões de pessoas ficaram a conhecer uma pessoa nova, ao mesmo tempo, e ganharam a oportunidade de descobrir o valor da sua obra. A sua melhor reacção é criticar o vizinho do lado por uma aparente falsidade?
O desaparecimento e o nascimento de duas obras feitas por dois homens de áreas completamente diferentes e a possibilidade de serem divulgadas pelo mundo todo. Desde quando é que deixámos de nos maravilhar?
Ben Zander falou, ontem, da Arte da Possibilidade. Talvez a palestra mais brilhante a que alguma vez assisti. No mesmo tópico: criatividade, liderança e felicidade. Tudo coisas em que acreditamos mas, o que fazemos por elas?
No mesmo World Business Forum, Bill Clinton dizia que os americanos ficam satisfeitos com o sucesso dos outos, que é bom os outros terem sucesso e que nós devemos fazer mais pelo nosso próprio sucesso em vez de ficar a olhar para o lado a resmungar.
Não vos falarei de Steve Jobs. Falarei, apenas, de como é maravilhoso que uma companhia alcance tanto sucesso com uma marca, que traga tantas melhorias para a tecnologia caseira, que inove tanto e inspire a mais inovação, ainda. Sim, talvez seja necessário ser controverso. Mas, quando a marca é assumidamente universal, a missão está cumprida e é, então, possível dar outro salto e outro salto mais e outro ainda e assim sucessivamente.
É isto que faz o desenvolvimento e não a reacção ressentida ao sucesso, à mudança e a toda a inovação que nasce das empresas e não do Estado; que é liderada por alguém que definiu para si mesmo, e por todos, esse lugar.
Acordo todos os dias e faço a revisão da minha própria identidade. Europeu, Português, Ribatejano, Matosinhense, conservador libertário, rocker, benfiquista, democrata, cristão, jurista, participante social. Mas, mais do que tudo isto, e para isto tudo: Republicano.
A agenda setting do Governo foca-se, esta semana, no debate sobre a redução autárquica - um truque gourmet que fará, certamente, algum sentido.
No entanto, será que este é o momento oportuno para alterar uma estrutura que pouco impacto imediato terá na realidade do país e que pode, até, ter os seus custos?
Tudo isto parece um perfeito despropósito com o doce trago do populismo.
Há quase um mês, os sportinguistas, nas suas lamúrias, andavam desmotivados com o treinador e com os jogadores. Domingos não parecia agradar. Há uma semana, Vitor Pereira já ouvia o zumbido do despedimento da bancada do Dragão. A escolha de Pinto da Costa era questionada. Ontem, Luís Filipe Vieira defendeu Vitor Pereira e mandou um recado a Jorge Jesus.
E eu ainda falo no non sense da política.
No outro dia, um colega meu informava os restantes presentes que, em média, cada pessoa passa 2 horas e meia no Facebook. Este dado gerou logo o espanto geral. Como é que é possível? No que nos estamos a tornar? Calma, calma. Há 15 anos atrás, um estudo feito por profissionais do ramo dizia que, em média, as crianças viam 4 horas e meia por dia de televisão. Já ninguém se lembra. O mundo, entretanto, não acabou, essas crianças cresceram e deixaram de ver televisão para passar a estar no Facebook numa média de 2 horas e meia.
As empresas, hoje, preocupam-se muito com o tempo que as pessoas perdem nas redes sociais. Não duvido que tenham alguma razão. Mas será um problema das redes, em si, ou do utilizador? Será que eu posso ser condenado por utilizar as redes pelos mesmos motivos que o meu colega do lado? Que utilização dela fazemos?
Não devo projectar a minha própria utilização. Desde que me lembro da existência de feeds que uso tudo o que estiver ao meu alcance para absorver informação. É uma forma simpática de não perder tempo a consultar jornais e estar, ao mesmo tempo, informado. As redes sociais aumentam ainda mais este potencial, se cada pessoa contribuir. Quando isso não acontece temos bom remédio: delete.
O que vou notando, com o tempo, é que os utilizadores de Facebook, por exemplo, estão agarrados a um sentimento de posse da sua rede e não fazem, muitas vezes, ideia do seu potencial. É muito fácil confundir comunicação com coscuvilhice. Mais fácil ainda é culpar o mundo pela nossa própria rede social. Habituado a ser cliente na vida, o utilizador comum projecta as suas pequenas frustrações na pobre ferramenta. O último grande disparate é esta questão levantada por este texto.
Quanto mais não seja, as redes sociais são aquilo que nós fazemos delas. As pessoas que seleccionamos são uma opção nossa. Aquilo que dizemos publicamente é uma opção nossa. As discussões em que nos metemos são uma opção nossa.
Há cerca de dois anos, um texto de Miguel Sousa Tavares ficou muito famoso por se mostrar contra o Facebook. Na opinião do autor, para além da já habitual doutrina de costumes as far as he can see, o Facebook é uma invasão de privacidade. Ora, a opinião de MST não é muito diferente da de pessoas que estão na rede e que nela participam todos os dias, nem que seja a ver o que os outros lá colocam.
Quero dizer com isto que tem tudo muito mais a ver com uma desorientação generalizada, uma ansiedade social e uma projecção de frustrações. Não podemos achar que as redes vieram agravar a decadência da civilização. Podemos, sim, gerir melhor as nossas redes, decidirmos com firmeza o que queremos e o que não queremos nas nossas vidas, em vez de esperarmos que, por obra e graça do Senhor e das queixinhas, seja feita a nossa vontade.
Isaltino Morais é um dos mais interessantes case studies da nossa época. Através do seu estranho e curioso processo, seríamos capazes de desenhar um quadro sociológico da opinião pública, da percepção da justiça e da conjuntura política.
Não me interessa estar, agora, a traçar a acefalia do debate público sobre o caso. Já dei para esse peditório e confesso que estou um pouco cansado. É um problema de deformação democrática, ignorância constitucional e falta de memória.
Interessa-me, antes, deixar uma breve nota. Uma simples nota em que meço cada uma das palavras muito cuidadosamente para que o seu significado não seja mal interpretado: o que a Justiça portuguesa está a fazer ao cidadão Isaltino Morais é um dos mais aberrantes atentados ao Estado de Direito.
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