Europa
Por estes dias, há quem defenda que o modelo europeu está definitivamente ultrapassado. Haverá alguma coisa para celebrar neste dia da Europa, ou será este o triunfo histórico dos eurocépticos?
É verdade que a história do continente se faz de conflitos e desentendimentos. É verdade que os povos são, por tendência, conservadores. Mas, tal como lembra George Steiner, há também factores de grande identificação entre os europeus - a cultura civilizacional e a proximidade. Construir um projecto europeu comum demora, com efeito, o seu tempo. Há adversidades circunstanciais e processos de mudança que têm de ser entendidos a longo prazo e não avaliados impulsivamente. Para isso, também serão necessárias boas lideranças.
O projecto europeu visa, sobretudo, uma harmonização da Europa e um modelo de crescimento e desenvolvimento comum, mais forte e competitivo. Mas para esse projecto, a liberdade, a dignidade e a oportunidade são fundamentais.
Dir-se-ia que, neste momento, todos os princípios basilares da União Europeia estão a ser ignorados por causa da crise das dívidas soberanas. Não o podemos negar. Então, pouco haverá para celebrar. Porém, sabemos que o esforço que todos temos de fazer para acresditar este projecto é uma luta diária, constante, pela nossa liberdade, pela democracia e pelo desenvolvimento sustentável. Esta é uma migalha de tempo, em comparação com a História de um velho continente, cheio de vícios e virtudes.
A integração europeia exige cedência de todos os Estados-membros. Mas, se é manifestamente impossível verificar a cedência de países economicamente mais fortes, não estaremos perante a utopia das sociais-democracias europeias? Se assim o for, será necessário agir, antes que a insistência num projecto falhado consuma a dignidade social dos povos e crie conflitos sociais incontroláveis.
O que se celebra hoje, em rigor, é a Paz. É preciso celebrar a Paz e construir a sua solidez. Celebre-se, então.