uma questão de fé
Mundialmente conhecido por me irritar com extrema facilidade, há coisas que me levam, até, a perder a esperança na humanidade.
Não se pode dizer que a opinião pública seja dotada de inteligência, já que parte da forma como se manifesta é influenciada por uma espécie de tradição de pensamento. Se, por um lado, a tradição do pensamento (que representa, muitas vezes, uma memória colectiva) ajuda-nos a não repetir determinados erros, por outro lado, cria um problema sério de falta de juízo crítico, de consciência.
Teríamos muitos exemplos, bastante actuais, para dar: a greve, a nossa Michelle e Portugal a dar cartas lá fora, o calor e os incêndios, os malandros dos desempregados, os políticos corruptos e os empresários mafiosos, o desenrascanso enquanto característica positiva de um povo, a crise de valores e o facilitismo, e por aí fora. Tínhamos aqui cinema para a tarde toda.
Mas, sejamos sucintos que o tempo é curto: o lugar comum na mentalidade contemporânea é uma bala de mau gosto que fere a harmonia entre a rapaziada, que dificulta o debate de ideias e que contribui para uma maior incompreensão do outro. E é por isso que devemos parar antes de dizer a primeira coisa que nos vem à cabeça, que nos é trazida por aquilo que fomos ouvindo a vida inteira e que nem sequer questionamos, porque nos parece lógico. Ora, como pode ser considerado lógico algo sobre o qual não pensámos, não discutimos e que concluímos com ideias emprestadas?
É uma espécie de gosto que se vai infiltrando, como um vírus, por afirmações peremptórias e que nos dá uma espécie de confiança e a ilusão de convicção que não é, senão, uma fé. Acontece, com frequência, sermos confrontados e, quando procuramos prova, não está lá nada. É um vazio que parece fazer desmoronar a nossa percepção das coisas.
Porque é assim. Porque pronto. Não achamos bem. Não nos parece bem. É porque é.