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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

30
Out13

vodka tónica

jorge c.

As reacções ao acordo de governabilidade entre CDU e PSD em Loures levantaram uma onda de ruído político com centro gravitacional em Lisboa.

Para uma parte significativa da mentalidade política da capital (partidos, militantes, comunicação social, opinião publicada), a política nacional é encarada de forma redutora. Nos últimos dias temos assistido a uma dramatização absurda de algo perfeitamente normal. No entanto, por acreditarem que as eleições autárquicas têm a mesma forma das legislativas, por acreditarem que as câmaras, no fundo, são como os círculos eleitorais - do maior para o mais pequeno - fazem julgamentos de acordos cuja natureza e função se desconhecem. É compreensível mas, também é sintomático.

21
Out13

esta gente

jorge c.

Num país com outras regras, Cavaco Silva já não seria Presidente da República. As suas declarações sobre o compasso de espera para o pedido de fiscalização revelam o desprezo que tem pela sua magistratura e pela responsabilidade que tem sobre a Constituição.

Tirando meia-dúzia de tolinhos, já toda a gente percebeu que não há Presidente da República. Há um contra-presidente, um não-ser, um mono de covardia e falta de sentido de Estado.

16
Out13

o partido único de josé sócrates

jorge c.

A mitomania é uma característica de muitos políticos. E isto não tem de ser um problema. A não ser, claro, quando ganha traços de alucinação.

Numa entrevista a José Sócrates, que o Expresso publicará, o antigo Primeiro-ministro diz (e tentem não desatar logo à gargalhada) que é o "chefe democrático que a direita sempre quis ter". O riso é inevitável, bem sei. Mas esta afirmação de Sócrates revela muito da natureza de uma parte significativa dos socialistas. 

Por um lado, são a esquerda democrática, por outro o que a direita queria. Percebe-se bem a motivação de partido único em democracia que o PS tem. À semelhança da governação de Sócrates ou Guterres, o próprio partido vai passando entre as gotas da chuva a tal velocidade que acaba por tornar-se dominador do espaço ideológico. E é aqui que nasce o tenebroso sectarismo do Largo do Rato - o partido daqueles que são bons e justos e únicos. Todos os outros são uns cretinos de direita ou uns irresponsáveis de extrema esquerda. E apenas há lugar no seu reino para aqueles que com eles concordam. É uma doença sem limites que gera a sua atracção a partir do Largo do Rato, aproveitando aquela arroganciazinha urbana da capital.

Sócrates cresce politicamente neste contexto. Pelo que não é de estranhar que se ache um "chefe democrático", um líder, como um facho que alumia. Esta teoria pega naqueles que olham para o PS como o único partido credível em democracia. Não pega com mais ninguém, felizmente. 

 

(Já sabemos que escrever sobre José Sócrates implica sempre um conjunto de observações: a insídia, o ataque pessoal, a culpa é sempre do sócrates, etc., uma maçada de uma conversa que temos de aturar porque há gente que lida mal com a crítica. É a vida.)

15
Out13

uma república de bananas

jorge c.

Há uns anos, quando o mercado português deixou de responder aos objectivos das empresas e a crise das dívidas estrangulou o seu financiamento, Angola passou a ser um destino necessário. Com a arrogância dos países desenvolvidos, partiu tudo em comitiva, mas para beijar a mão de um novo padrinho que abria as portas do seu país. O deslumbramento criou uma dinâmica de curto-prazo que não percebeu que, um dia, a fonte secaria. Angola tinha um interesse e Portugal uma necessidade. Por mera lógica, percebia-se que havia tudo menos convergência de interesses. Primeiro, era o dinheirinho que já não podia sair de lá. Depois, o recrutamento passou a ser feito com exclusividade para cidadãos angolanos a estudar em Portugal. Mas, não, Angola é que estava a dar.

Agora, é o Presidente Angolano que vem dar por terminada esta "parceria estratégica" (expressão caricata). Mãos na cabeça e ai jesus.

Se tivéssemos um Presidente da República, um Primeiro-ministro e um Ministro dos Negócios Estrangeiros, esta questão estaria resolvida. Mas não temos. E, assim, tenho de concordar com um amigo que no outro dia me dizia que vivemos numa República de Bananas. Somos subservientes a um país que tirou proveito da nossa necessidade e fechámos os olhos a atentados a direitos humanos básicos.

É esta prevalência da economia global sobre a vida em sociedade, a vida política dos povos, que nos está a matar. E o Primeiro-ministro já nos veio alertar para a perda de soberania. Os bananas somos nós.

01
Out13

a grande avalanche

jorge c.

As eleições autárquicas são eleições locais e tirar conclusões a nível nacional pode ser muito perigoso para a democracia. Não é, neste caso. Exemplo máximo disso mesmo é o caso da Madeira. O mapa autárquico demonstra que a derrota do PSD é nacional e deve ser encarada como uma derrota partidária. Isto, como é evidente, relativiza a vitória do PS. Porque quando falamos de política em democracia, as vitórias ou derrotas dos partidos não devem ser a finalidade. Um partido não é um clube de futebol. E no panorama autárquico, os partidos perdem o controlo de parte substancial das suas candidaturas. Senão, veja-se o caso do Bloco de Esquerda em Elvas e do seu candidato racista, situação que foi de imediato e muito bem resolvida pelo partido. Quando um partido ganha uma autarquia com um candidato que não corresponde aos seus princípios de base, ou não preenche os requisitos éticos, então há sempre derrota. São vitórias do sectarismo ou do populismo sobre a democracia.

A lógica eleitoral do PSD não tem sido esta, infelizmente. Preocupados com quantos delegados conseguem meter no Congresso, em quantas listas de comissões políticas conseguem ter absoluto controlo, os responsáveis pelas concelhias e distritais do partido esqueceram-se do que é o serviço público e do que é fazer política. Oferecem-se lugares sem critério, multiplicam-se promessas para fazer aliados e destruir toda a concorrência possível. Afastaram, nos últimos 20 anos, muita gente que não se revia nesta forma pequena e irresponsável de fazer política e que faz, hoje, muita falta.

Foi precisamente neste cenário que o PSD foi crescendo para a decadência. Porque com um trabalho com qualidade nas autarquias, é difícil que os eleitores se deixem influenciar de forma tão declarada contra um autarca do partido do governo. É que torna-se importante lembrar que as autárquicas são sempre o rosto de alguém cuja proximidade não é só mediática.

Pedro Passos Coelho conseguiu, assim, juntar no mesmo pote todos aqueles que contribuiram para a grande avalanche que leva, hoje, o PSD a ser uma sombra do partido que foi. 

A eleição de Rui Moreira, no Porto, configura um manifesto de cidadania contra esta dinâmica do PSD, que poderia ter resultado num autêntico desastre, como aconteceu no resto do país e não apenas com o PSD. A proposta eleitoral de Rui Moreira deu aos cidadãos do Porto a certeza de que é possível acreditar na política local como um instrumento sério para o desenvolvimento e reforço da comunidade. A diferença entre a sua candidatura e as outras era notória e a cicatriz que isso deixa nos partidos pode ser profunda e dolorosa.

Por outro lado, também a emagadora vitória de António Costa em Lisboa não pode ser ofuscada pela panorâmica nacional. Costa tem feito um bom trabalho na cidade de Lisboa. É um presidente próximo dos cidadãos e da cidade, garantindo um sentimento geral de comunidade.

Mas, apesar da sua aclamada vitória, o PS também não pode ignorar as circuntâncias destas eleições (é claro que vai ignorar porque ganhou e o sectarismo é uma coisa tramada). A CDU, por exemplo, colheu os frutos do seu enraizamento dentro das comunidade e, muitas vezes, do seu excelente e reconhecido trabalho autárquico em concelhos muito difíceis, onde o PS falhou. O Bloco de Esquerda sofreu o seu centralismo na pele, demonstrando que não é um partido para autárquicas. Tudo isto terá consequências. Algumas delas podem ser dramáticas tendo em conta o inconformismo com a política partidária que vai crescendo como tendência.

O cenário não é, de todo, agradável. Por isso, torna-se urgente reflectir e agir dentro dos partidos sobre aquilo que interessa às comunidades e não terem, apenas, como desígnio nacional, a vitória. 

É preciso salvar os partidos dos seus verdadeiros carrascos. 

 

 

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