O silêncio fracturante II
Até que ponto é que alguém é capaz de ir, contra os seus próprios princípios, para defender um líder político ou uma governação? Até onde se banalizou a falta de ética e o desrespeito pelos valores democráticos?
Estas podem parecer questões menores. É natural que nos dias que correm já ninguém queira saber de questões éticas ou de política directa. Veja-se o caso do silêncio perante esta notícia e o barulho que foi por causa de Miguel Frasquilho (um deputado da oposição). Veja-se o caso dos gravadores de Ricardo Rodrigues. Veja-se o caso da deputada Inês de Medeiros ter dito que não via qualquer problema em Sócrates ter mentido no Parlamento. Veja-se o caso da desvalorização de instrumentos como a moção de censura. Veja-se o caso da ridicularização e do comprometimento ilegítimo do apuramento da verdade na comissão de inquérito sobre o negócio PT/TVI. Veja-se o caso da mudança de política em 15 dias e a desculpabilização constante durante 5 anos e, dentro disto, os avisos feitos pela oposição que foi sendo achincalhada alarvemente pelos vários cães de fila.
É neste sentido que vão, portanto, as minhas questões iniciais. Até que ponto se aguenta esta mentalidade política? Até quando se consegue defender ou calar perante o indefensável?
Compreendo que haja uma missão de protecção de uma determinada elite política. Compreendo a existência do sectarismo. Só não me peçam para o respeitar. Não posso respeitar aquilo que não se dá ao respeito e que viola valores conquistados a muito custo. O fim começa por aqui.