Sobre a educação sexual a um Domingo de manhã
Que Deus Nosso Senhor me perdoe que hoje é Domingo e nem se devia falar destas coisas. Mas tenho ouvido tanto disparate sobre a educação sexual nas escolas que me é difícil a abstenção nesta matéria.
Será que alguém no seu perfeito juízo acha que o Estado se prepara para interferir na esfera mais íntima dos seus cidadãos intruindo-os nos prazeres carnais e, de algum modo, no deboche e na devassidão? Custa-me a crer que em pleno séc. XXI ainda haja quem pense na sexualidade como um segredo sem qualquer componente biológica e que por isso é melhor não tocar no assunto.
Há um sem número de temas relacionados com a sexualidade que são pequenos avanços na nossa compreensão da humanidade e da vida em comunidade. Julgo que ensinar a uma criança para que serve um preservativo sem qualquer tipo de desconforto não será o mesmo que introduzi-la à aplicação oral do mesmo objecto no órgão sexual masculino.
Somos, ainda hoje, vítimas de uma péssima relação com a sexualidade. Ainda hoje ela é muitas vezes iniciada com um défice preocupante de informação e sob uma ideia distorcida da forma como lidamos com o inevitável instinto. Talvez para muitos seja melhor continuar a alimentar tradições como a desfloração do rapaz, numa pensãozeca com uma profissional não-sindicalizada da área pela mão do próprio pai, e manter o discurso o mais obscurantista e moralista possível cá fora, do que educar social e cientificamente alguém para que não cresça ignorante e tenha uma relação mais saudável com os outros e até consigo mesmo.