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Manual de maus costumes

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29
Jun10

O reforço ideológico do PSD

jorge c.

A minha insistência com Pedro Passos Coelho (PPC) não deve ser encarada como uma perseguição, mas antes como uma forma de avaliar bem todas as particularidades da sua conduta enquanto político. Sócrates está em queda, ou pelo menos na corda bamba do seu próprio sucesso e a queda é iminente. Resta portanto avaliar aquele que está mais próximo da sua substituição.

Ontem, numa declaração sobre o reforço ideológico do PSD e da sua adequação aos novos tempos, PPC deixou clara a sua forma de encarar os timings e, de certo modo, de fazer política. É, no geral, uma declaração feliz.

PPC sabe que Sócrates foi roubar espaço que pertencia ao PSD. Ao contrário daquilo que se diz, não é o PSD que tem características mais à esquerda, mas sim o PS que foi ocupando um espaço político que pertencia ao PSD. Este foi um dos grandes trunfos de Sócrates e que este aprendeu muito bem com António Guterres. Inventaram-se os Fóruns Novas Fronteiras, foi-se buscar o discurso reformista, falou-se em inovação. Resultou.

Na sua declaração de ontem, PPC mostra que pretende recuperar esse espaço. Num discurso muito abrangente, conseguiu envolver todo aquele que é o espectro social-democrata, as bases e as elites como é costume dizer. Foi, enfim, inclusivo. E sem tornar o seu discurso forçado ou inconsistente, o Presidente do PSD conseguiu firmar os conteúdos programáticos do partido em abstracto que, no fundo, são a sua natureza e que sempre lá estiveram. Daí a ideia de reforço e não de reformulação.

Mas esta novidade introduzida pela direcção passista não é senão aquilo que estava bem explícito no programa do PSD para as últimas legislativas, de Manuela Ferreira Leite, e que os sequazes do novo líder tanto atacaram. Essa abstracção programática e os conteúdos ideológicos, numa corrente social-democrata contemporânea, já lá estavam e, como disse na altura Marcelo Rebelo de Sousa, era claro que aquele programa servia para demonstrar a intenção de uma mudança do comportamento político e do panorama ideológico - um programa para uma maioria relativa e consequentes eleições antecipadas.

De qualquer modo, o impacto da declaração de PPC parece-me positivo. Apesar da contínua superficialidade da proposta política, da constante formação de grupos de estudo e de trabalho, o discurso funciona e politicamente é bem conseguido.

Acontece que esta distância que se pretende criar no espaço ideológico não tem qualquer reflexo no campo prático. O que PPC está a fazer é tentar ocupar o espaço do Bloco Central sozinho, como Sócrates ocupou. E, não obstante a inteligência e o sentido de oportunidade com que o faz, é uma manobra com um certo toque de populismo ou, melhor, de eleitoralismo e que, na prática, vai-se reflectir na mesma forma de fazer política, aproveitando as frequências mais populares para desenhar a sua estratégia, aproveitando a opinião pública. Como é óbvio, nem sempre o que a opinião pública pretende é a política que um partido traça inicialmente e daí que seja fácil concluir que tanto consenso ou dá em volatilidade política e demagogia, ou acaba em total contradição com o que se propagandeou.

Em suma, apesar de ter uma imagem mais leve e menos conflituosa que a de Sócrates, PPC é também um fruto do aparelho que o criou e que o próprio alimentou. As suas semelhanças com o actual Primeiro-ministro estão à vista e a probabilidade de continuarmos numa política de mediatismo e aparência é cada vez maior. Resta saber o que pretende Passos Coelho, de facto. O romantismo um dia acaba.

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