A grande ilusão
Diz-se que a necessidade aguça o engenho. Em Portugal aguça a ilusão. Qualquer coisa, aliás, aguça a ilusão em Portugal: uma moda qualquer, uma novidade... o progresso, meu Deus, o progresso!
Desta vez a crença está nas exportações. Há um grupo indefinido de cidadãos portugueses que está convencido que a solução é exportar. E de facto nós temos exportado imensa gente, pessoas, que infelizmente não têm o valor de mercado pretendido. Uma chatice, esta coisa dos Direitos Humanos. À quantidade de gente que sai estávamos ricos e a esta altura o país prosperava.
Porém, a realidade é outra e a pergunta que se deve fazer é: exportar o quê?
Há alguma coisa para exportar? Que condições têm as empresas para exportar? Se o grosso do tecido empresarial português são PME's não seria adequado certificar-mo-nos de que existe volume de negócio para isso, que existe capacidade de produção para isso? E com quem se vai competir, estarão as empresas portuguesas no mesmo pé de igualdade?
Um país trapalhão (desenrascado, como lhe chamam), sem cultura de exportação, a braços com uma tremenda falta de crescimento económico, que durante anos delapidou o seu património agrícola e cultural convencido de que era o progresso, um país onde existe cada vez menos solidariedade e noção de função social das empresas, um país destes quer ter ambição nas exportações? Há aqui qualquer coisa que não faz sentido.
