Opinião pública
Há uma questão que me anda a perseguir nos últimos dias. Todo este ruído em torno do Governo, seja a favor ou contra, faz-me pensar: será que há quem acredite convictamente que se pode estar do lado do Governo? Não incluo os sequazes socialistas, descendentes desse lema o'neilliano "vota no PS mesmo quando não merece", nem mesmo os independentes que pululam em torno de um conceito falso que é o socialismo europeu. O que dá a entender é que a opinião pública, no meio do ruído, apercebe-se que há mais matéria desfavorável do que favorável. Se essa matéria é demagógica ou enganadora, falsa ou desonesta, parece ser um pouco indiferente agora, visto que quem a acusa de tal são os tais seguidores cuja credibilidade está associada ao Governo.
É aqui que se chega ao primeiro-ministro e se encontra o seu espantoso currículo como bem lembrava Vasco Pulido Valente há uns dias no Público. A opinião pública sabe somar 2+2 e conclui que o mais provável é estar a ser manipulada pela propaganda para manter a imagem de alguém que sempre viveu disso mesmo. É claro que ninguém pode pensar pela opinião pública e que a própria compreende circunstâncias diferentes. Não é essa a minha intenção. No entanto, não posso deixar de observar que a massa crítica em torno de Sócrates é hoje muito mais consistente e, quer queiramos quer não, assente em coisas concretas, nem que seja por ter feito ouvidos de mercador nos últimos dois anos.
A República, tão em voga nos últimos dias, precisa da opinião pública. A democracia é, também, a opinião pública. E ignorar a sua relevância com desculpas rebuscadas e com sobranceria é entrar no sectarismo mais perigoso de todos, aquele que conduz ao autoritarismo.