Um mito
Vou considerar que é apenas falta de conhecimento político, uma certa ignorância, e abdicar da ideia de má-fé que tenta tomar conta do meu discernimento em relação ao mito de que a instabilidade dentro do PSD se deveu à não inclusão de adversários de Ferreira Leite nas listas para deputados.
Em primeiro lugar, e para não perder mais tempo com falhas de memória, é preciso não esquecer que Manuela Ferreira Leite foi eleita presidente do PSD há quase dois anos. Nessa altura, o seu principal adversário - Pedro Passos Coelho - não aceitou muito bem a derrota e continuou a fazer de conta que estava em campanha contra a líder do partido (ah, a unidade, a unidade), entrando num jogo de conferências e entrevistas programadas pelo seu gabinete de comunicação que pelos vistos se relacionava muito bem com o jornalista Francisco Almeida Leite do Diário de Notícias (que poderão também ler aqui) e com o líder da distrital do Porto do PSD, Marco António Costa, que é agora (surprise!) vice-presidente do partido.
Em segundo lugar, talvez não fosse de ignorar que MFL sabia, como toda a gente sabia, que era muito difícil vencer eleições contra José Sócrates numa altura em que se criou um certo entricheiramento da sociedade - os que apoiam Sócrates e os que não apoiam. Logo, é natural que, em caso de ganhar eleições, o PSD estaria representado na AR por uma maioria relativa e que, como tal, era de esperar que a bancada estivesse com a líder do partido e não contra. Seria portanto lógico que MFL chamasse a si aqueles em que depositava mais confiança política e não a criatura que lhe andou a minar o terreno durante dois anos sem parar.
O que temos aqui é uma falácia, um resultado falso na soma de um conjunto de factos que continua a contribuir para a necessidade de fulanização de que Passos Coelho tanto precisa para derrotar Sócrates. Isto não é política, é um jogo de vaidades pessoais.
Há quem goste de ser enganado. Eu não faço muita questão.
