Conta-me como foi - um conto sociológico-matemático
Estava tudo bem na margem sul. Gaitán cruza para Cardozo que estava no meio de três cidadãos desorientados. Um desses cidadãos ensaia uma espécie de corte, que é uma forma de inverter a narrativa da bola num lance de um desporto com o qual ele não estava minimamente familiarizado. A bola sobra para Salvio - um latino-americano que tem um conhecimento académico do desporto - que não hesitou em empurrá-la lá para dentro. Golo! A margem sul parecia ser o sítio ideal para se estar. Tudo zen! Entretanto, o árbitro apercebendo-se que o adversário do Glorioso jogava com 8 desde o início resolveu tentar equilibrar e pôs-nos a jogar com 10. Foi justo e lá seguimos até o Gaitanzinho enfiar o esférico na rede de novo. Fiocou tudo bem. Preparavamo-nos para efectuar o devido pagamento quando salta uma sms para o telefone de um dos dois compatriotas Benfiquistas que me acompanhavam. "Anda para a embaixada da Líbia e traz cigarros". É num instante. Vamos lá e depois vamos beber um caneco. E assim foi. Chegados lá, não queríamos acreditar: uma multidão. Estes três reforços eram apenas uma migalha num grupo que passara então a ter 4 manifestantes. Entretanto chegaram mais 3 manifestantes munidas de 2 cartazes gigantes, A4, a dizer uma cena qualquer. Eu nem sabia que a Líbia estava com problemas. Nos placares, cá fora, parecia estar tudo bem desde os anos 70. A daydream em postais. Mas a polícia, que entretanto percebeu a ameaça que aqueles 7 cidadãos constituíam para a estabilidade do regime libidinoso, apareceu logo para dispersar a multidão. Infelizmente, dos 7 manifestantes, 7 deles foram identificados. É a pedagogia da autoridade. Entretanto, mãezinha, se for alguma carta para tua casa não te preocupes, fui eu que dei a morada. Não quero cá confusões com a justiça.