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Manual de maus costumes

Manual de maus costumes

22
Fev11

Conta-me como foi - um conto sociológico-matemático

jorge c.

Estava tudo bem na margem sul. Gaitán cruza para Cardozo que estava no meio de três cidadãos desorientados. Um desses cidadãos ensaia uma espécie de corte, que é uma forma de inverter a narrativa da bola num lance de um desporto com o qual ele não estava minimamente familiarizado. A bola sobra para Salvio - um latino-americano que tem um conhecimento académico do desporto - que não hesitou em empurrá-la lá para dentro. Golo! A margem sul parecia ser o sítio ideal para se estar. Tudo zen! Entretanto, o árbitro apercebendo-se que o adversário do Glorioso jogava com 8 desde o início resolveu tentar equilibrar e pôs-nos a jogar com 10. Foi justo e lá seguimos até o Gaitanzinho enfiar o esférico na rede de novo. Fiocou tudo bem. Preparavamo-nos para efectuar o devido pagamento quando salta uma sms para o telefone de um dos dois compatriotas Benfiquistas que me acompanhavam. "Anda para a embaixada da Líbia e traz cigarros". É num instante. Vamos lá e depois vamos beber um caneco. E assim foi. Chegados lá, não queríamos acreditar: uma multidão. Estes três reforços eram apenas uma migalha num grupo que passara então a ter 4 manifestantes. Entretanto chegaram mais 3 manifestantes munidas de 2 cartazes gigantes, A4, a dizer uma cena qualquer. Eu nem sabia que a Líbia estava com problemas. Nos placares, cá fora, parecia estar tudo bem desde os anos 70. A daydream em postais. Mas a polícia, que entretanto percebeu a ameaça que aqueles 7 cidadãos constituíam para a estabilidade do regime libidinoso, apareceu logo para dispersar a multidão. Infelizmente, dos 7 manifestantes, 7 deles foram identificados. É a pedagogia da autoridade. Entretanto, mãezinha, se for alguma carta para tua casa não te preocupes, fui eu que dei a morada. Não quero cá confusões com a justiça.

03
Fev11

"Era um passarinho que queria voar..."

jorge c.

Mais ou menos à hora que Pedro Santana Lopes escrevia isto, Barack Obama fazia a sua primeira declaração sobre a situação no Egipto, pouco depois do Mubarak se dirigir ao seu país e ao mundo. Mubarak reconhecia, então, a gravidade da situação acentuando a tónica da sua declaração na não-recandidatura e na transição pacífica de poder. Por todo o mundo, os media destacavam, à mesma hora, o problema vivido não só no Cairo, mas por todo o país, em especial, na cidade de Alexandria. Crê-se que bem mais de um milhão de pessoas terão saído à rua manifestando-se contra o governo egípcio. As imagens que televisões como a Al Jazeera transmitiam em directo, ou as actualizações por milhares de meios de comunicação pela internet, não deixavam motivo para dúvidas.

Ainda assim, Pedro Santana Lopes, ex-Primeiro-ministro português, considerava tudo isto - "amplificação de factos, de manifestações, de agitações pelas reportagens especiais e outras que tais" - "fenómenos estranhos!".

Para mim, o fenómeno estranho é alguém que teve a responsabilidade de um Chefe de Governo, e se propõe a ser uma figura de destaque num partido de poder como o é o PSD num cenário global como o que temos hoje, dizer este tipo de coisas sem ter o cuidado de, pelo menos, ligar a televisão.

A internet é hoje a prova provada do mito que foram, durante décadas, alguns dos nossos mais esclarecidos actores políticos. É a isto que se chama vergonha do alheio.

08
Ago10

Avante touros de morte!

jorge c.

Torna-se muito fácil discordar de Bruno Sena Martins. Neste post no Aparelho de Estado comete dois erros e demonstra a fragilidade da opinião.

Vamos aos erros. Aquela foto, meus Deus, aquela foto! Há várias campanhas que insistem que os animais sangram da boca por causa das bandarilhas. Photoshopa-se e os incautos comem. Bem, não é preciso ser veterinário para perceber que em qualquer morfologia aquilo seria impossível. Olha, na do homem, por exemplo. Enfim, tudo serve, até esta desonestidade infantil. O segundo erro é mais uma imprecisão. A Monumental de Barcelona foi encerrada há já algum tempo. Barcelona é, desde essa altura, uma cidade anti-taurina. Mas o que mais releva aqui, e então entramos na fragilidade da opinião, é essa posição da Catalunha contra Espanha. É mesmo disso que estamos a tratar, de rivalidade regionalista e separatista, e não de um verdadeiro e efectivo desconforto cultural. Esse marketing catalão é, aliás, bastante intragável. Convence os pós-modernos de qualquer coisa cool e torna-os ainda mais endofóbicos. O tom infantil, fútil e pseudo-revolucionário corresponde precisamente à pequenez regionalista que despreza culturalmente tudo o resto. Parece um paradoxo, mas não é: há muita ignorância nesta zona da intelectualidade. Barcelona é o seu lugar preferido.

20
Jul10

A banalização da diabolização

jorge c.

Com esta história da proposta de revisão constitucional do Passos Coelho renasceu uma tendência demagógica da esquerda portuguesa e que passa por diabolizar o PSD.

Não está aqui em causa se se concorda ou discorda com a proposta, mas sim a linha de argumentação oposta que reflecte uma inenarrável falta de espírito democrático. Criticar uma proposta porque ela vai matar pessoas à fome e porque é fascista é algo tão demagógico que se torna anti-democrático, porque o que esta argumentação faz é tentar assustar com o seu tom fatalista de forma a criar o máximo de ruído para condenar em abstracto o PSD e a sua legitimidade democrática.

Este é um hábito feio da esquerda, que é ser totalmente intolerante com a legitimidade democrática dos partidos de direita. Foi isso, aliás, que permitiu que Sampaio, num acto claro e indiscutível de favorecimento ao PS, dissolvesse a Assembleia da República. É como se a esquerda detivesse o monopólio da legitimidade democrática e a direita não pudesse adoptar políticas - manias! - de direita. É como se apenas a esquerda fosse válida num sistema democrático.

O país não cresceu, não compreende o significado de escassez de recursos, não compreende o significado de deveres e responsabilidades. E é por isso que anda sempre com a igualdade, os ricos e os pobres e a liberdade na ponta da língua, sem que saiba, de facto, o peso que tudo isso carrega.

31
Mai10

Grande Porto

jorge c.

Manuel Pizarro dá esta entrevista caricata ao Público onde, entre muitos disparates e pantominices, declara ser favorável a uma fusão das três principais cidades da zona do Porto que incluem a própria cidade, Matosinhos e Gaia.

Manuel Pizarro, como costuma dizer o Dr. Rui Rio em relação a outras questões, está na estratosfera. Só alguém que desconhece em absoluto a identidade destas três cidades pode afirmar algo do género. E isto só para início de conversa. Não faz qualquer sentido afastar as comunidades da sua natureza para as fundir. A identificação com o território é um princípio cultural e civilizacional básico para a maior estabilidade da comunidade.

Com efeito, é em comunidades pequenas e que se identificam com esse território próprio que se encontra a parte substancial da solidificação comunitária. A região do grande Porto pode valer-se como imagem externa como um todo. No entanto, as características individuais de cada cidade é que marcarão directamente o interesse e os pontos de desenvolvimento.

Do ponto de vista administrativo, se já é difícil promover o melhor desenvolvimento de pequenas freguesias espalhadas por estes concelhos, imagine-se numa mega cidade-concelho onde a concentração de poder seria maior, tal como a probabilidade de se deixar as zonas mais pequenas secarem.

O PS no Porto não existe. Como não existe tem estes espasmos para fazer de conta que disse alguma coisa, lançando uma discussão imbecil numa região que precisa de outros tipos de coesão.

14
Mai10

Mas o que é isto?

jorge c.

Descubro no Abrupto a primeira página de hoje do Diário de Notícias. Seja o que for que aquilo pretendeu ser, é de um miserabilismo, de uma falta de moral e de bom senso sem precedentes. Coisas destas são ditas por atrasados mentais ou por fanáticos. Um jornal não pode fazer isto.

Se o bom senso imperasse mais gente se insurgiria contra isto.

09
Mai10

Falar por falar

jorge c.

São já raras as vezes que presto atenção ao Eixo do Mal. A figura de Pedro Marques Lopes (PML) e os seus lugarejos comuns, frases lapidares ("o problema deste país", "só neste país") e lições sobre o que é a direita (a dele, claro) passam agora os limites do entediante e começam a ser irritantes. Ontem, enquanto ia mudando de canal, lá passei pelo Eixo do Mal e estava o Dr. Marques Lopes muito empenhado a falar das obras públicas e dos seus riscos. Mas como não queria falar só mal do governo, e completamente a despropósito, disse estar muito preocupado com as declarações de Cavaco Silva por este ter lembrado o passado, sendo que teria sido ele um dos principais contribuidores para o endividamento na sua era.

 

Ora bem, isto é como em tudo, há sempre alguém que nunca gosta de tomar uma posição objectiva sobre nada e agradar a gregos e troianos, acabando por cair no disparate pegado e fazer figura de pateta. O que PML não consegue perceber é a diferença das circunstâncias. Cavaco pode lembrar o que quiser porque o tempo era outro, tal como a situação das finanças públicas e o movimento dos mercados internacionais e principalmente da banca. Acontece que primeiro é preciso compreender que ninguém está contra o TGV ou o Aeroporto (sendo este muito mais discutível, no meu entendimento, enfim...) mas sim que a gravidade do endividamento é muito maior do que alguma vez havia acontecido e as probabilidades de não haver financiamento e capacidade de cumprimento são demasiado altas para que se avance de imediato para tais obras. Foi isto, aliás, que defendeu a Dra. Ferreira Leite quando falou em suspensão, repetindo até à exaustão que se tratava de uma situação provisória até os mercados estabilizarem e as finanças se revitalizarem. De nada adiantou devido a tresleituras deste género.

 

O problema das grandes obras públicas não é a sua natureza, mas sim as circunstâncias em que a sua construção se vai proporcionar. Ninguém duvida que vai gerar emprego e contribuir para uma maior mobilidade e desenvolvimento económico, mas se a banca for incapaz de dar resposta às necessidades de empréstimo dos Estados as consequências podem ser tão más que não compensa arriscar.

 

Há uma certa desonestidade intelectual na promoção das grandes obras públicas. Ainda esta semana, José Sócrates disse que não tinha sido o grande investimento público a provocar a crise. Pois não. Isto é uma não-questão. Nunca se ouviu ninguém a dizê-lo. O que se diz - isso sim - é que poderão agravar ainda mais o endividamento e isso tem consequências que passam a estar fora do nosso controlo. O problema é, portanto, de futuro, e não de presente ou passado.

 

Não sou um grande fã da política de obras públicas de Cavaco. A verdade é que no seu tempo esse investimento impulsionou a economia portuguesa e ajudou à integração europeia. Havia muito dinheiro a circular e resposta para os créditos. As circunstâncias actuais são tão diferentes como o dia e a noite e por isso compará-las com outras épocas (seja os anos 90 ou os 60) é estar a falar de uma cátedra comprada na Feira da Ladra; é encher espaço de comentário político com disparates. Nada a que já não estejamos habituados com esta nova geração de comentadores políticos que julgava vir substituir as vacas sagradas. Seria a substituição das elites tão querida pelo marxismo. Acabariam com os terríveis pacheco's e pulido's desta vida e singrariam iluminadas pela modernidade. Depois vai-se ver e é isto...

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